Epílogo

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   Uma semana havia se passado e Valéria ainda não tirava o cartaz da cabeça após tantos anos sem nem se lembrar de que já teve uma vida antes dessa.

Sem contar nada para Roxanne e sem pensar direito no que estava prestes a fazer, saiu em direção ao ponto de ônibus.

Conforme os pontos passavam e se aproximava do interior alguns fragmentos de sua memória voltavam e sentia seu corpo arrepiar de dor. Desceu no ponto ao qual conheceu Roxanne, enquanto caminhava ladeira acima as lágrimas apareciam em seus olhos. Foi difícil reconhecer a casa após tantos anos e breves flashes que sua mente, mas com um pouco de esforço recordou-se.

Parar em frente a ela foi tão dolorido quanto qualquer lembrança de sua infância naquele local.

Não conseguia se mover, dar um passo para a frente ou um para trás era impossível naquele momento.

Após quase uma hora parada em frente a casa a porta da frente se abre.

Eu posso ajudar? - dizia na defensiva.

Me desculpe - dizia enxugando as lágrimas - é que eu já morei aqui.

Gostaria de entrar e ver se tem algo seu aqui?

Não! - soava como um grito de desespero - me desculpe, quero dizer, não obrigada senhora... - precisava saber se seu pai havia seguido em frente e trocado ela e sua mãe.

Galber, meu nome é Amélia Galber!

Posso perguntar o que houve com o antigo dono da casa? se souber e puder me dizer.

Bem - achou a pergunta muito estranha, mas respondeu - pelo o que o corretor nos disse ele foi preso por pedófilia, o que foi um alívio, não queria um homem como esses perto dos meus filhos.

Claro, eu entendo a senhora, obrigada pelo seu tempo e desculpe o incomodo.

Valéria saiu andando, depois de anos sabia o que havia acontecido.

De nada - achou estranho tudo isso, mas apenas voltou para dentro de sua casa.

Valéria voltou para o ponto de ônibus estava mais tranquila, pois teve o desfecho ao qual tanto queria.

Mesmo sabendo o que havia acontecido ainda precisava olhar em seus olhos, mesmo correndo o risco dele a reconhecer, precisava e queria ver o desespero em seus olhos, o mesmo desespero ao qual sentia quando criança naquela casa.

Após algumas poucas semanas descobriu o endereço da prisão de seu pai e mais importante como chegar até ele.

Um percurso de mais de duas horas com as vozes em sua mente como companhia criando teorias sobre o que deveria falar, tudo o que sabia era que entraria de cabeça erguida e sairia da mesma forma.

Ao chegar na prisão um dos guardas a acompanhou até a sala de visitas, enquanto esperava suas mãos tremiam e não conseguia parar de mexer suas pernas, se não precisasse ficar sentada estaria andando de um lado para o outro sem parar. Quando finalmente a porta se abriu e teve a oportunidade de olhar em seus olhos, percebeu que ele não era mais o homem ao qual se lembrava e aterrorizava seus sonhos por um tempo.

Não vai me dizer quem é você? - uma voz rouca ressoava na sala - o porquê pediu para me ver?

Não me reconhece? - disse olhando em seus olhos com uma voz firme.

Deveria?

Estranho, sempre achei que um pai fosse capaz de reconhecer a própria filha.

Valéria? - disse com imensa surpresa.

Eu mesma!

Já que está aqui, o que acha de uma visita íntima? eu ainda me recordo do caminho.

Você é asqueroso! - disse com todo o seu desprezo.

Não vai me dizer o porquê está aqui então? Veio me jogar na cara que tem uma ótima vida sem mim nela?

Na verdade não, mas já que falou...

O porquê está aqui?

Precisava olhar para você, ver o quão decadente você se tornou, e já que consegui me despeço! - levantou-se.

Sabe mesmo crescida não é tão bonita quanto a sua mãe!

Não ouse falar sobre minha mãe! - disse exaltada.

Sabe o porque se chama Valéria? pois pensei que talvez valeria a pena perder o amor da minha vida para ter você, você era o desejo dela e não meu, e pra ser sincero não valeu a pena!

Diga o que quiser, não estou aqui para satisfazer qualquer fantasia sua, apenas queria te ver no fundo do poço, e aqui está!

Valéria deixou a prisão com seu pai aos gritos, pois queria lhe dizer tudo o que não disse nesses anos, mas não lhe daria essa satisfação.

Deixou a prisão e ao abrir a bolsa para pegar o dinheiro da passagem viu o seu maço de cigarros, pegou-o e jogou na primeira lixeira que viu.

Pegou o ônibus com um sorriso em seus lábios e voltou para junto de Roxanne a única família que lhe restou.

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