Café da manhã

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   Mesmo que tenha sido difícil conseguir dormir, Valéria finalmente teve uma noite tranquila, no início confiar que não seria acordada sentindo alguma dor, mas depois de algumas horas se deixou levar e conseguiu dormir até quase dez horas da manhã.

Roxanne dormiu um pouco no sofá, entretanto não conseguia descansar após a conversa com Yasmim. A maior parte do tempo pensava no que seria de Valéria, mesmo nunca tendo a conhecido, sentia algo forte por ela, como se fosse o seu dever protegê-la. Queria que ela pudesse ter a chance de ter uma vida diferente, mas será que alguém seria capaz de ao menos lhe dar a primeira chance? Neste caso seria sobreviver, Valéria precisaria acima de tudo sobreviver à cidade grande, a realidade que não é nem um pouco parecida com um conto de fadas, mas isso ela aprendeu de uma maneira difícil e sofrida.

Enquanto Roxanne estava sentada na cozinha olhando para a xícara de café como se as respostas fossem surgir como mágica, Valéria levantou e caminhava sorrateiramente, era uma garantia de que não fosse pega, parou atrás da porta do quarto e observava com seus olhos meigos e agradecidos pela cama quente. Os olhos de Roxanne estavam distantes, tanto quanto sua mente que se quer percebia ou sentia algumas lágrimas escorrendo por seu rosto, após espia-la por alguns segundos até que tomasse coragem para se aproximar, caminhava nas pontas dos pés, com calma puxou uma das cadeiras para que pudesse se sentar e ver o rosto de Roxanne.

- Tudo bem? – disse levando sua mão em direção a dela – por que está chorando?

- Está tudo bem – dizia limpando as lágrimas que não havia sentido após o leve susto que levou ao receber o toque de Valéria – dormiu bem?

- Sim, obrigada – sua voz estava um pouco mais meiga e não tão mais assustada como quando se conheceram – dormi bem quentinha.

Roxanne ficou feliz em saber que pelo menos uma pessoa havia conseguido descansar, seu corpo ainda carregava as marcas da noite anterior, mas não era nada com que já não estivesse acostumada, as dores acompanhavam a lembrança de estar viva, mesmo que as vezes desejasse não estar, preferia pensar que a próxima noite seria diferente e que um dia não iria mais precisar passar por isso e então ter sua vida de volta.

- Quer tomar café da manhã? – terminou a pergunta com um sorriso em seus lábios para que não pudesse notar o cansaço.

- Sim, por favor! – mesmo após a fatia de torta de morango seu estômago roncava por mais comida – o que tem de café da manhã?

- Temos cereal ou se quiser posso fazer algumas panquecas pra você! – ao terminar a frase tentava se lembrar como sua mãe preparava as panquecas quando era pequena.

- Cereal, por favor!

Com um pouco mais de cinco movimentos o café da manhã estava pronto, a observava enquanto tomava sua xícara de café frio, milhões de pensamentos passavam pela sua cabeça, mas não conseguia se concentrar em nenhum por conta do turbilhão de coisas. Queria lhe dizer algo, mas não sabia o que dizer! Queria protegê-la, mas se quer conseguia proteger a si mesma! Queria correr para um lugar diferente deste, mas essa era a sua realidade e não se pode fugir dela! Para todas as coisas que queria fazer, sua mente encontrava algo para barrá-la.

Quando se cansou de ficar deitada se virando de um lado para o outro sem conseguir dormir direito, achou melhor se levantar e encarar o dia que estava por vir. Ao andar tentava demonstrar que estava bem, pois somos acostumadas a contar mentiras até para nós mesmas. Dia após dia levantava da mesma forma, mesmo que suas marcas doessem tanto quanto as de Roxanne não conseguia tirar o disfarce tão bem feito. Uma mentira contada inúmeras vezes se torna verdade!

- Bom dia! – não conseguiu disfarçar o bocejo enquanto falava – ah você ainda está aqui.

- Não ligue pra ela, ela é uma boa pessoa só precisa conhecê-la! – seus olhos mostravam querer esganar Yasmim, mas sabia que não era por mal – seja gentil, por favor!

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