Prólogo

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Eu sempre pensei que a minha vida já era complicada o bastante para se complicar ainda mais. Porém, como nada nela é previsível e aconchegante, eu estava redondamente enganado.

Aliás, por que redondamente e não completamente? Já pararam pra pensar sobre isso?

Será que é por que o redondo não tem nem começo, nem fim e, por isso, essa questão do engano, consequentemente, também não teria nem começo, nem fim? Ou seja, a vida seria uma sucessão de erros e enganos em looping infinito! Quer dizer que passarei a vida inteira enganado e iludido. Ok, meu cérebro explodiu agora.

- Quanto tempo isso vai durar? - falei resmungando para Natália.

- Quanto tempo você acha que leva para a sua mãe chegar até aqui? Ela vai me matar! - Nat falou.

- Se ela vai te matar, que opção vai sobrar para ela fazer comigo?

Nat, Matheus e eu afastamos um ligeiro calafrio de medo que percorreu nossas espinhas. A delegacia estava lotada de jovens barulhentos, bêbados e levemente alterados. Era apenas uma comemoração pelo aniversário da Natália. Ela finalmente tinha conseguido se tornar maior de idade e aí tivemos a brilhante ideia de comemorar de forma adulta, mas podem chamar de inconsequente se sentirem mais confortáveis.

Matheus e Nat já tinham a maioridade, portanto, eles meio que podiam frequentar a festa da qual fomos. Eu, não. Embora falte apenas alguns meses para isso acontecer.

Esse fato me torna excepcionalmente ridículo. Eu me sinto uma criança perto deles. O casal perfeito de namorados que estão cuidando do filho insuportável da vizinha e para não terem que perder a noite romântica, resolvem levá-lo junto. Ok, digamos que o tal encontro romântico tinha sido numa festa onde tinham bebidas, um pouco de drogas e, evidentemente, menores de idade. Quando a polícia chegou no local eu até pensei que eram, sei lá, uns homens fantasiados que depois do susto iam tirar a roupa e dançar de cueca no meio da festa.

Imagina a decepção quando me caiu a ficha de que isso acontecia apenas em despedidas de solteiro.

Preso. Aos 17 anos. Eu tinha tanta vida pela frente. Será que devo colocar um piercing e fazer uma tatuagem evidenciando meu futuro incerto?

- Jamie, Jamie!

Quando vi a minha mãe empurrando toda aquela gente até me encontrar e pousar os olhos raivosos em mim, a opção da cela por uma noite me pareceu, como diria a minha avó, grão-tinhoso.

- O que deu na sua cabeça? Mentiu pra mim. Todos vocês mentiram!

- A gente não mentiu, dona Marisa - tentou explicar Matheus.

- É, mãe, a gente foi pra casa da Nat comemorar o aniversário dela, mas aí a gente resolveu estender um pouco a festa - tentei argumentar.

- Está de castigo! - nada surpreendente.

- Olha só o bebêzão castigado pela mamãe! Ela trouxe sua chupeta também?

Eu reviro os olhos. Nada podia ser pior do que Charlie e a turma de idiotas que andam com ele.

- Falou o cara de quase vinte anos. Olha, se eu fosse você, eu começava a me preocupar, porque existe uma chance enorme de você passar a noite na cadeia.

Nat disse. Charlie vira o rosto, emburrado, e fala alguma coisa com a sua turma.

- E começamos bem o último ano do ensino médio!

Matheus falou, tentando amenizar a situação.

- A sua sorte é que o delegado foi meu colega nos tempos da escola e me ligou assim que te viu - mamãe falou.

- Ótimo. Que ótimo! - tem como ficar melhor?

- Ele liberou vocês sem maiores perguntas. Agora, anda, vamos. Matheus, Nat, eu dou uma carona até a casa de vocês.

- Obrigada, tia Marisa.

Nat disse e, eu, mais humilhado que nunca, tive que seguir minha mãe com Nat e Matheus vindo logo atrás.

- Onde é que eu botei essas chaves?

Ouvi a mamãe resmungar, mas estava distante nesse momento. Eu sempre ficava distante quando acontecia isso. Matheus e Nat estavam agarrados, sorrindo um para o outro com seus rostos quase colados. Aquilo me dava uma aflição, uma dor inexplicável no estômago que parecia ser capaz de sair alguma coisa pela minha boca.

Talvez meus sentimentos.

- Achei!

Mas isso é assunto para depois.



Enquanto Amei Você, Matheus (Físico)Onde histórias criam vida. Descubra agora