Conto 5. O Descanso.

2 0 0
                                    

A casa em chamas desmoronou após um tempo. E Tristão ficou ali olhando para as brasas até que a casa caísse de vez. As lembranças que aquelas brasas trouxeram a ele, arrancaram-lhe lágrimas. Muitas, e ele olhou para o céu, já estava escuro.

Tristão- Me perdoa meu amor. Eu não pude te salvar... Eu não pude...

Tristão para de falar e de olhar para o céu. E começou a andar, seguindo um caminho reto. Uma chuva forte começou, e ela foi limpando o sangue de Tristão, deixando um enorme rastro por onde ele passava.

Após um tempo, seu rosto já estava parcialmente limpo, tendo apenas pouco sangue que coagulou em seu rosto, ficando mais difícil de sair.

Tristão encontrou um lago, e parou de andar. Tristão tirou suas roupas, ficando completamente nu, largou sua espada no chão junto de suas roupas, e foi para dentro do lago. 

Tristão começou a sentir uma dor em seu punho direito e no seu ombro. Em seu punho estava um dos dentes de Adonis, que teve sua cabeça esmagada. Tristão puxou o dente alojado em seu punho bem devagar, e depois o jogou no lago.

Já seu ombro, era o buraco da seta que foi disparada nele. O buraco sangrava muito, talvez por Tristão ter tirado a seta de uma vez e com muita força, fazendo com que ela cortasse mais o seu ombro.

Tristão já sabia o que fazer com o ferimento do seu ombro, mas ele não iria fazer nada naquele momento. Ele só queria ficar naquele lago. 

Ele lavou o sangue em seu rosto e as outras manchas em seu corpo. Olhando o seu reflexo na água, ele viu um homem com um rosto triste, uma barba mal feita, e repleto de cicatrizes.

O corpo de Tristão era crivado de cicatrizes.
Cortes, furos, hematomas, porém nenhuma cicatriz o marcava mais do que as em suas mãos.

Aquele buracos, já cicatrizados o faziam lembrar da maior perda da sua vida. E do caminho que essa perda o fez seguir. Tristão percebeu que estava cego de ódio. O único sentimento que ele sentiu durante 12 anos foi raiva. E esse ódio fez ele ir embora e deixar a única coisa que realmente importava. Sua filha.

Ele não se lembra da idade de Júlia. Nem se lembrava de seu rosto. Só do rosto de Luna quando a filha deles nasceu. A felicidade, o sorriso que ela fez. E principalmente, o que ela falou.

Tristão- "Estaremos sempre juntos, até a eternidade"...

Tristão mergulhou no lago após dizer isso. Ele então gritou embaixo da água. Ninguém poderia ouvir seu grito desesperado e triste. Apenas ele poderia ouvir.

Ele sentiu mãos suaves encostando em seu rosto. Ele abriu os olhos e viu Luna em um vestido branco. 

Luna- Vamos meu amor. Nossa bebê está esperando você.

Tristão emergiu na água após ouvir isso e saiu do lago.

A chuva continuava forte e estava muito frio. Tristão se vestiu e foi até uma caverna que ficava próxima do lago.

Juntando alguns galhos, que Tristão teve que esperar secar, foi feito uma pequena fogueira. Tristão sacou uma faca, e colocou sua lâmina no fogo, e ele esperou um tempo.

A lâmina ficou incandescente, fervendo. Tristão então a pegou, abaixou um pouco a camisa, a um ponto que o buraco em seu ombro ficasse exposto, e então ele pressionou sua faca contra o ferimento.

Tristão segurou seu grito. A dor era infernal. E ele ficou cerca de 30 minutos até que sua faca esfriasse. Uma grande queimadura ficou em seu ombro, mas o ferimento foi cauterizado.

Tristão começou a ter alucinações, talvez devido a dor enorme. Novamente é Luna com o mesmo vestido branco.

Luna- Você já fez demais amor. Você precisa descansar.

A Estrada Vermelha. Onde histórias criam vida. Descubra agora