Lamar Morris manobrou o Caríbdis até a estreita enseada de uma ilha, largando a âncora a pouco menos de trinta metros da praia. O capitão Beauchamp deu ordens para que baixássemos os botes ao mar, carregados de mantimentos e ferramentas, e em menos de meia hora a tripulação desembarcava na areia branca.
Era a primeira vez em semanas que eu pisava em terra firme. O chão parecia estranhamente instável, como se a areia estivesse constantemente se inclinando sob meus pés. Ao meu redor, poucos marinheiros pareciam ter dificuldade para se manter em pé, embora alguns caminhassem com um ritmo engraçado, quase como se estivessem bêbados.
— Soares — Bailey May chamou quando terminamos de descarregar as ferramentas. Tentei correr até ele, mas me atrapalhei com minhas próprias pernas e decidi seguir em um passo cauteloso. Não queria comer areia. May empurrou uma caixa vazia contra meu peito e fez um gesto com o queixo para as árvores que margeavam a costa. — Traga frutas da mata.
— Frutas...? — repeti, incerta. Ele assentiu.
— O máximo que puder. Se encontrar alguma coisa verde que pareça comestível, traga também.
Entrei no matagal com a caixa nas costas e um facão de cabo curto na mão, abrindo caminho entre as trepadeiras que cresciam como cortinas espessas. O lugar estava infestado de mosquitos vorazes, insetos de aparência grotesca, plantas com espinhos e raízes ardilosas. Eu nunca tinha de fato me aventurado em uma floresta — nasci e cresci nos subúrbios de uma grande cidade e o mais próximo da natureza que havia era o Parque Central; quando finalmente alcancei uma clareira em algum ponto mata adentro, estava coberta de teias de aranha e arranhões que faziam a pele arder.
A clareira não era bonita ou encantadora como os livros nos levam a crer; pelo contrário, era um terreno irregular, coberto de mato e formigueiros. As árvores que ladeavam a clareira variavam em forma e tamanho, de pequenas e irregulares a gigantescas e frondosas. Vasculhei a área em busca de alguma árvore frutífera, avistando uma espécie de arbusto cujos galhos finos vergavam-se sob o peso de frutas que pareciam laranjas deformadas. Aproximei-me com cautela, atenta às vespas que zumbiam entre as folhas da arvorezinha. O fruto alaranjado tinha um forte cheiro cítrico, o que me levou à conclusão de que era uma espécie selvagem e agressiva de limão.
Enchi a caixa com todo o cuidado, o que não foi suficiente para evitar a ferroada de uma vespa. Os arranhões que cobriam minha pele ardiam, mas pareciam carícias se comparados à dor aguda que irradiou pelo meu braço quando arranquei o ferrão, como se fogo líquido corresse pelas minhas veias. A dor insuportável abrandou dentro de alguns minutos, deixando o braço esquerdo dormente e dolorido até a ponta dos dedos.
Durante o caminho de volta — em que precisei carregar a caixa sobre o ombro direito, uma vez que o esquerdo fora inutilizado — escorreguei em uma raiz oculta sob a camada de folhas que cobria o chão, o que me rendeu um tornozelo levemente torcido. Minha aparência devia ser a de um sobrevivente de guerra.
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Uma dama a bordo
Romance{«𝑩𝐞𝐚𝐮𝐚𝒏𝒚»} Any Gabrielly está fugindo da justiça de seu país por um crime que não cometeu. Desesperada e sem outras alternativas, a garota decide disfarçar-se de homem para embarcar em um navio pirata e deixar para trás uma história de mi...