III | Dever

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Eu mal dormi naquela noite. Estava completamente atenta a qualquer mudança no aspecto de Joshua. Toda vez que ele murmurava um delírio incompreensível, eu sentia o coração acelerar e a garganta secar, com medo de que seu quadro estivesse piorando. Passei as horas solitárias da madrugada umedecendo as toalhinhas que usava para resfriar seu corpo febril.

Por duas vezes naquela noite, Noah Urrea entrou na cabine para verificar o estado do capitão. O imediato parecia estar quase tão mal quanto o homem deitado na cama, mas, ainda assim, mantinha-se acordado e vigilante. Eu ouvia sua voz forte gritando ordens no convés durante toda a noite.

Na segunda vez em que Noah apareceu, levantei da cadeira e fiz um gesto para que ele se sentasse.

— Não precisa se preocupar comigo — ele retrucou, negando com a cabeça. Sua teimosia era impressionante; a julgar pelos olhos, que traziam olheiras tão escuras que seu rosto lembrava uma caveira, Urrea estava acordado desde a tempestade da tarde anterior.

— Eu não vou me sentar. — Cruzei os braços e caminhei para o outro lado da cabine, ignorando seu olhar irritado. — Se não descansar um pouco, você acabará desmaiando e ninguém vai ter a boa vontade de recolher seu corpo do mar.

Ele limitou-se a me observar com uma expressão dividida entre a raiva e a resignação. Quando percebeu que eu falava sério, deixou o corpo cair contra o respaldar da cadeira. Nós mantivemos um silêncio exausto durante meia hora, ouvindo a respiração curta e ofegante do capitão.

Quem é você, garoto? — Urrea quebrou o silêncio a certa altura. Eu estivera encostada contra a parede, de olhos fechados, e demorei alguns segundos para compreender o que ele dizia. — Veio de uma família rica? Suas maneiras não condizem com a história que você me contou.

— Tampouco as suas — retruquei, e ele riu de leve.

Touché. Achei que minha atuação fosse boa o suficiente para enganar.

— Todos no navio o chamam de "pés de moça" — confessei, torcendo para que ninguém descobrisse que eu dera com a língua nos dentes. Ele soltou uma risada de escárnio. — Se o senhor não fosse tão... duro na briga, já teria sofrido um motim.

— Qualquer homem que escolha uma vida como essa precisa aprender a engrossar o couro. — Ele deu de ombros. — De outra maneira, se tornará comida de peixe muito antes de sofrer um motim.

Escolha? — repeti. — Não imaginei que alguém pudesse escolher viver assim. Por que o senhor escolheu uma vida miserável como essa quando poderia ser um homem honesto?

— Eu não disse que foi uma escolha fácil. — Sua voz soou infinitamente cansada e angustiada. Ele pousou uma mão sobre o ombro de Josh para verificar a temperatura, mas algo me levou a interpretar seu gesto como um silencioso pedido de ajuda, uma confissão.

Uma dama a bordoOnde histórias criam vida. Descubra agora