Idas e Vindas

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NATASHA ROMANOFF

- Arrume suas coisas. Sairemos em menos de cinco horas. -deixei as duas malas que carregava em minhas mãos no chão em frente sua cama.

Yelena me encarou com espanto, sua expressão parecendo confusa enquanto ela parecia não entender o que eu dizia. Continuei parada em sua frente, esperando que ela levantasse e começasse a fazer o que eu havia pedido.

- Desculpe? -ela finalmente falou. - Aonde você pensa que eu vou?

- Embora. Comigo. Não se atrase!

Quando eu estava quase alcançando a porta para sair, uma risadinha me fez parar e me voltar para ela novamente. Sua expressão era desafiadora e ela finalmente se levantou da cama, se aproximando de mim.

- Veja bem, não sei como você costuma lidar com as pessoas por ai, dando suas ordens de CEO milionária e tendo todos as acatando como malditos bichinhos de estimação, mas eu não sou um deles!

Era claro que eu sabia que não seria fácil, Yelena nunca aceitaria de primeira e teríamos que conversar sobre o assunto, mas tudo isso não me impediu de tentar. Contudo, a batalha estava travada e, embora tivesse perdido muitas coisas na vida, essa guerra não seria uma delas. Ela esperava minha resposta à sua altura, mas levei alguns segundos decidindo se mudaria a tática.

- Yelena não tem mais nada que prenda você aqui. -tentei o mais calma que consegui. Eu tinha um ponto. - Não tem porque ficar nessa casa, cheia de memórias e espaços do que se foi.

- Nada que me prenda aqui? -ela parecia revoltada, mas contida. - Bom, me deixe pensar, meus amigos estão aqui, meu emprego... minha vida. Nem todos agem como se tudo fosse descartável assim como você.

Era o primeiro ataque e eu sabia que viria a qualquer momento, ela não estava disposta a desistir.

- Não vou aceitar seus ataques quando nós duas sabemos que não é bem assim que essa história deve ser contada! -minha voz saiu muito mais dura do que eu imaginava e ali iniciava-se um caminho sem volta.

- A única coisa que eu sei é que você deu as costas para sua família por DEZ ANOS, Natasha. -ela gritou, seu rosto ficando vermelho enquanto ela se aproximava mais de mim. - A sua mãe definhou por anos, morreu chamando pelo seu nome, mas você não estava aqui para ouvir!

- Porque ela o escolheu! -gritei de volta. - Porque eu gritei por ajuda, implorei e ainda assim ela escolheu o marido alcoólatra e abusivo. Porque o que eu mais desejava era fugir dos anos de agressões, de tortura e ela escolheu ficar aqui. Ela o escolheu. Era a única chance que eu tinha!

- Por que diabos você fala como se eu não tivesse vivido tudo o que você viveu? -os gritos eram intensos agora e nenhuma das duas estavam dispostas a parar. - Sabe todas as vezes que você apanhou? Eu também apanhei, Natasha! Sabe todas as vezes que você se escondeu no vão da cômoda do quarto enquanto ouvia nossa mãe ser agredida pelo nosso pai? Eu estava bem ao seu lado. Então não haja como se tivesse passado por tudo sozinha porque você não é especial!

Yelena era o meu reflexo. Havia tanta dor em seus olhos, mas havia algo mais. Havia mágoa, revolta e algumas outras coisas as quais eu não podia distinguir, mas tinha convicção que tudo aquilo era direcionado a mim. E no fundo eu sabia que ela não estava errada, mas eu ainda não estava pronta para deixar essa parte tomar conta.

- Vocês ficaram. Eu mostrei uma saída e vocês ficaram. Talvez a situação não fosse de todo incômoda para as duas.

O tapa que veio a seguir não era esperado e me pegou tão de surpresa que me deixou sem reação. Os olhos dela me encaravam com o mesmo espanto que eu, havia sido um ato de reflexo. Ainda assim doía, não só a pele, mas bem mais profundo que isso.

Misery Loves CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora