Capítulo 8

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Naquela tarde, após minha última aula, saí de sala de aula e quase trombei de cara com S/n Rodriguez. Não percebi até mais tarde que ela deveria ter perguntado a Lola onde ficava meu armário. Eu com certeza nunca tinha contado a ela onde ficava, e a única pessoa que eu tinha visto ela conversando além de Lola era com o Sr. Hink, que tampouco sabia onde ficava meu armário

—Aidan — Ela disse
—Ehh, oi— eu disse devagar
—Você quer carona para casa?
—Tudo bem.
—Mas você precisa ir dirigindo
—Ah, certeza?

S/n se virou sem dizer mais nenhuma palavra e seguiu pelo corredor sem olhar para trás para conferir se eu a estava seguindo (e eu estava, óbvio). Quando chegamos ao campo de futebol ela acelerou, fazendo o seu mancar ficar mais evidente do que o normal. Eu me apressada apressada cada cinco passos para acompanhar o ritmo dela. Perto do final do terreno da escola, olhei para trás vendo Lola e Murray que esperavam na fila do ônibus para irem até a minha casa. Acenei e os dois ergueram o braço direito acenando de volta, S/n não viu, graças a Deus.

Já na rua o silêncio era quebrado apenas pela passagem de carro e pelo barulho regular da bengala de S/n no asfalto, até que ela falou...

—Então... qual é a sua história, Aidan??? — disse ela. Havia um tom de raiva que eu não entendia —Quero todos os detalhes sangrentos.
—Eu... bom. —Fiquei em pânico— Gosto de piñas coladas e de tomar chuva sem querer, como a música?
—Você não acha estranho que, toda vez que alguém pede que você se descreva, você tem um branco? Deveria ser a coisa mais fácil do mundo, tipo, você é você.
— É. Acho que sim, mas também é como perguntar pra alguém "Como foi na Europa?" Depois de passarem três meses lá sabe? Tem muito terreno para cobrir.
—Você está certo. Vamos limitar? Me deixe fazer uma pergunta.
—Tá.
—Vai ser muito pessoal, então se sinta livre para não responder se não quiser.
—Oh... tudo bem— Eu disse, me preparando pra perguntas como minha orientação sexual, ou minha predileção antinatural por usar o casaco preto do meu pai mesmo no calor.
—Qual sua cor favorita?

Ah... Não era o que eu esperava.

—Ahn... —Eu nunca tive uma cor favorita— Não dou tratamento preferencial a nenhum cor. E você?
—Azul como o vestido de Alice no país das maravilhas.
—Azul-celeste?
—Não, de maneira nenhuma. Odeio azul-celeste e azul-bebê e azul-ardósia, mas o azul de Alice no país das maravilhas é perfeito.
—Esse é o nome técnico para este tom então? É assim que eles colocam no círculo cromático?
—Acho que você poderia dizer que é azul retrô cor de carro dos anos 1950, mas Alice é mais fácil. Consigo lidar com a situação se ouvir azul-escovinha no lugar.
—Você pensou muito sobre isso.
—Gosto de ter respostas prontas para quando as pessoas perguntam sobre mim mesma. Quer dizer... se eu não sei quem eu sou, como é que outra pessoa deveria saber?

Pensei, tentando tirar alguma coisa do vazio negro que é meu cérebro quando S/n estava num raio de três metros.

—Verde. É minha cor favorita.
—Isso é, completamente, chato.
—Tá. Aquele verde desbotado e ácido da cor dos olhos da minha irmã quando ela está no sol. Meu sobrinho tem a mesma cor. É a minha favorita.
—Melhor.

Uma pausa.

—Vai me perguntar mais alguma coisa?
—Não. Acho que não.
—Esse foi o jogo mais estranho de verdade ou desafio que já joguei.
—Não era um jogo de verdade ou desafio. Eu apenas queria te fazer uma pergunta.

Quando chegamos na casa de S/n fizemos o mesmo procedimento do dia anterior. Esperei do lado de fora, no gramado enquanto ela pegava a chave do carro. Eu dirigia o carro dela até minha casa, me despedi, e eu a observei ir embora caminhando na direção errada, descendo a rua que não ia levar a lugar algum. Assim que entrei em casa me odiei por não a ter convidado para entrar. Assim que desci os degraus até o porão me lembrei que teria sido uma má ideia.

—Bom... cave um buraco e me jogue nele, se você não achou uma mina se oferecendo para você— Murray disse me dando um tadinha nas costas
—Ela só me deu uma carona pra casa— eu disse
—Aí.Meu.Santo.Deus.—Lola disse enquanto eu me jogava no sofá— Tem alguma coisa surgindo aí...

Murray pulou no meu colo, depositando uma quantidade enorme de massa muscular esmagando minhas pernas enquanto passava os braços em torno do meu pescoço e pressionava sua testa na minha

—Tem certeza absoluta que não tem nada acontecendo? Porque nós podemos ter espiando vocês através da janela encardida do porão e visto vocês perdidos no olhar um do outro.
—Gente... vocês precisam se acalmar— disse tentando me afastar de Murray, mas não deu certo— Ela é uma esquisitona total. Acho que ela está solitária e não fez amigos ainda, então ela se apegou a mim porque fui legal com ela.
—Mas... você não foi legal com ela— Lola disse— Você a perseguiu pelo campo enquanto gritava obscenidades pra ela.
—Isso é um exagero.
—Mas ela ficou caída por essa paixão flamejante— Murray disse enquanto pressionava os punhos no meu coração— O desejo veemente pela vida.
—Ela não ficou "caída" por mim. Não acho que ela goste de mim na verdade. Ela me encarando muito, é muito confuso.
—Convide-a para passar a tarde aqui na segunda feira depois da aula, traga ela para a cova dos leões. Deixe que a gente seja juiz disso. —Disse Lola
—Só se Murray prometer não ficar fazendo essas merdas— Falo apontando para o menino que estava esfregando o cabelo por todo o rosto, peito e braços.— Será que... AHHHH, Murray. Vai, sai, anda sai, sai daqui.
—Estou deixando meu cheiro no meu território! Não posso perde você!— Ele insistiu

Olhei para Lola

—É por isso que estou sozinho.
—Eu juro que não é.— Lola disse balançando a cabeça.

Me larguei no sofá novamente deixando que Murray me untasse com sua juba oleosa, certo de que se S/n algum dia visse as esquisitices que aconteciam aqui, ela sairia correndo. O que parecia um motivo bom o suficiente para nunca, nunca mesmo, convidá-la.

A Química [adaptação Aidan Gallagher] Where stories live. Discover now