Passeio com a Morte

16 4 2
                                    


Ouvia sons ao meu redor mas meus olhos não conseguiam abrir. E percebendo isso me senti com raiva! Pois, mesmo naquela situação estava ciente de que meu plano havia falhado. Nada mais explicaria eu ainda estar consciente.

Naquele momento alguma coisa começou a apertar meu peito múltiplas vezes, fazendo solavancos e aquilo estava me machucando. Pude então, de repente, abrir meus olhos e enxergar o meu entorno. Constatei que de fato ainda estava no hospital, no entanto, me encontrava fora do corpo. Via-me em uma maca e um médico fazia massagem cardíaca com auxílio de alguns enfermeiros ao redor.

A sensação de estar olhando de fora não foi tão boa quanto eu imaginava que poderia ser. Não existia o alívio que eu necessitava e o sentimento vazio ainda se mantinha presente em meu peito. Onde foi parar a tão sonhada paz?

Morrer era isso?

Será que eu ficaria preso ali para sempre vendo as pessoas ao meu redor enquanto simplesmente coexistia sem poder me comunicar?

A angústia começou a apertar meu peito. Tinha algo muito errado.

De repente as coisas foram ficando lentas, lentas, lentas. Até pararem por completo. Assustado, olhei ao redor tentando encontrar alguma explicação e ao longe vi uma figura usando um manto negro e carregando uma foice.

Não tinha como ser um engano, a visão era bruta e clara. Era a Morte. Só não imaginava que ela seria assim tão clichê. Em passos lentos ela assobiava enquanto se aproximava. Os olhos brilhantes dentro do capuz escuro estavam cravados aos meus me deixando completamente desestabilizado. A melodia que saía de seus lábios me soava familiar...

— Não se lembra da música, Denis? Costumava cantarolar comigo quando pequeno.

A voz repentina me fez dar dois passos para trás.

— Ora! Eu sabia que esse dia chegaria. Em algum momento voltaríamos a esse ponto, certo? – continuou.

Á proporção que se aproximava foi retirando o capuz que lhe cobria a face e então meu queixo foi ao chão. Sim, eu reconhecia...

Em um dos piores dias da minha vida aquela mulher que agora se apresentava havia me ajudado. Dando-me uma quantia boa em dinheiro, fazendo assim com que eu conseguisse pagar a dívida no banco e manter a casa que eu morava, uma situação que não havia saída. A não ser um dinheiro caído do céu, que foi exatamente o que aconteceu. Aquela mulher tomou uma cerveja comigo, se disse penalizada com a minha história e antes de ir embora deixou um envelope cheio da grana em minhas mãos. E eu nunca mais a vi. Até aquele momento.

— Não somente daquela vez – disse ela, lendo meus pensamentos e jogando um sorriso amável — Venha, não tenha medo de mim, nós vamos dar um passeio.

Estendeu a mão na minha direção, fiquei sem jeito de recusar. Havia também o fato de ela ser o próprio ceifador. Vai saber o que faria comigo se eu dissesse não.

Assim que a toquei, como num passe de mágica, estávamos em outro lugar. Era um parquinho que eu conhecia muito bem. Ela apontou na direção de um grande brinquedo de madeira e andamos até lá.

Quando estávamos perto o suficiente, vi um pequeno menininho se aproximando da borda da casinha onde ficava o escorregador. Ali era alto, muito alto para uma criança tão pequena, que provavelmente não passava dos três anos de idade. Olhando bem para o seu rostinho, me reconheci.

— Sou eu? – questionei incrédulo.

— Você sabe que sim.

Procurei alguém que pudesse me tirar dali, e vi minha mãe - em uma versão mais jovem - ao longe, conversando com outra mulher, completamente distraída. Se eu desse mais um passo cairia. Tentei segurar a mim pequenino, porém, me encontrava como um espírito, minhas mãos passaram direto. Eu não poderia ajudá-lo.

Contos de terror para não DORMIROnde histórias criam vida. Descubra agora