Caminho

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  Ele se sentia triste e sozinho. Não que estivesse sozinho de fato, estava acompanhado de três pessoas, mas era como se não estivesse.

Tinha perdido sua casa, seu mundo, tudo o que conhecia e não sabia agora, depois de mais um dia de viagem, se o que estava fazendo era o certo. Sim, era o que o seu Shifu ordenou e sim jamais o desrespeitaria, ainda mais agora que possivelmente ele não estava no mundo mortal, porém... O que faria depois?

Não houve grandes instruções além daquelas palavras:

"Vá para o reino do sul e fique seguro. Viva bem o resto dos seus dias, reze pela humanidade, seja você no caminho que escolher, mas viva. Essa é minha última ordem."

E aquilo era tudo o que tinha e nada ao mesmo tempo.

O que significava ser você no caminho que escolher?

Aquilo ainda oprimia seu peito e lhe fazia questionar todas as suas poucas certezas até ali.

Ele não tinha resposta para tantas questões, não tinha certezas também.

Aliás... Nada era certo em sua jornada.

O que sabia com precisão era que devia chegar até esse reino distante do sul e ser... Ele mesmo no caminho que escolhesse...

Abriu os olhos e rolou na fina esteira em que dormia próximo da fogueira ao canto daquela floresta congelante e suspirou. Sentia frio também, muito frio. Suas roupas não o esquentavam ao relento como era dentro das paredes grossas do templo.

Como o frio não incomodava aqueles homens? Eles estavam ali, em diferentes posições ao redor dele naquele canto escolhido para passar a noite e pareciam profundamente adormecidos. O senhor dos lobos dormia sentado, escorado em uma árvore sem folhas, o espadachim dormia abraçado a sua espada em um galho baixo da árvore a frente e o caçador de recompensas estava encolhido como ele em uma esteira fina do outro lado da fogueira. Nenhum dos três parecia incomodados pelo frio ou vento. Eles pareciam até mesmo confortáveis naquela situação... Como podia?

Estremeceu um pouquinho e suspirou baixinho outra vez.

O frio lhe tirava o sono, mas não era o único culpado. As incertezas eram as maiores causas, sabia disso, contudo se sentir congelado naquele chão não era uma das melhores soluções para um sono e...

Algo cobriu seu corpo e sua mente perdeu a linha de raciocínio.

Se virou de barriga para cima e viu que enquanto se perdia em pensamentos, o Senhor dos lobos tinha tirado sua manta externa e coberto o seu corpo menor. Agora ele estava com uma roupa ainda mais fina e o olhava de maneira indecifrável, de pé, ao lado da sua esteira:

— Durma ou não irá ser útil amanhã.

Wuliang queria questionar sobre o homem ficando com tão pouca roupa naquele frio, mas o olhar glacial não lhe encorajou a abrir a boca. Apenas assentiu e tentou fechar os olhos.

Foi em vão. Embora mais coberto, ainda sentia frio, um frio que penetrava seus ossos a essa altura.

Mordeu os lábios temeroso de abrir os olhos e deixar o maior ainda mais bravo e por isso se virou de barriga para baixo e se encolheu mais sob o manto do outro evitando de fazer barulho ou se mover outra vez.

Também foi em vão.

Logo se movia tentando se aquecer mais de alguma forma, ainda que evitasse de fazer outro som que pudesse despertar mais alguém ou incomodar e estava prestes a tentar entrar em meditação para acalmar seu físico, quando sentiu um corpo imenso a suas costas e uma mão o puxando para mais rente desse corpo... quente.

Wuliang's protectorsOnde histórias criam vida. Descubra agora