Delírio

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Século XVIII, Santuário

Um dia qualquer para os nobres e pobres que ali se encontravam. O santuário continuava se movimentando bastante desde que os cavaleiros de ouro estavam ganhando suas novas armaduras e se juntando às casas do zodíaco. Nesse momento o calor estava atrapalhando um pouco nos treinos, mas isso não os impedia de continuar sua rotina. Muito pelo contrário, os motivava.

Por enquanto as coisas estavam tranquilas. Os cavaleiros pousavam em seus lugares e ali esperavam novas ordens. Defteros, o irmão mais novo do cavaleiro de Gêmeos, observava escondido e atento o treino dos iniciantes se lembrando de como as coisas eram quando mais novo. Com o destino (maldição) de ser a sombra de seu irmão, não lhe restava muita esperança de que seria útil por ali. Claro, ainda tinha seu irmão para se espelhar.

Ele o admirava, Aspros de Gêmeos era como a sua base e sua proteção. O seu pilar, e também o motivo para ainda não ter morrido por causa dos maus tratos que sofria ali. Mas não se mantém muito perto dele por causa da mudança estranha de comportamento que Aspros ganhou enquanto crescia e amadureceu. 

Pensando nele, Defteros decidiu sair dali e se encontrar com seu irmão. Saiu escondido até a casa de Gêmeos, mas na verdade ele que foi visto primeiro.

Aspros- irmão! Eu estava preocupado. -ele chegou sem sua armadura, tocando no pulso dele- não está machucado?

Defteros- não, Aspros. Eu estou bem. Eu apenas me cansei de olhar os principiantes treinarem.

Aspros- eu sei, é chato como não se pode nem mesmo aparecer para ajudar os mais fracos. -levantou a mão de seu irmão, e ficou a massageando- hm, sua mão está macia como a pata de um gato. Está treinando escondido ainda?

Defteros- mas que tipo de dedução é essa??

Aspros- Defteros, eu te conheço.

Defteros- … sim, estou. Sei que eu deveria descansar desde aquela queda mas não sinto vontade de parar.

Aspros- mas deveria, eu preciso cuidar de meu irmãozinho. -colocou o braço sobre seu ombro- vamos, eu quero descansar.

Aspros e Defteros seguiram até o quarto da casa de Gêmeos, era escondido, mas Aspros não se importava de deixar seu irmão entrar lá. Ele só se incomodava com as invasões noturnas que Defteros fazia, pelo fato de ter o costume de não ir pra casa cedo. 

Aspros estava ali, trocando as ataduras das pernas de Defteros. Assumia ser um pouco desastrado, mas fugir dos maus tratos já estava se tornando mais e mais difícil. Então, ele decidiu fazer uma pergunta genuína.

Defteros- Aspros… cavaleiros podem se apaixonar?

Aspros- os cavaleiros lutam pelo amor, pela paz e pela justiça. Não acho que temos tempo pra isso.

Defteros- mas irmão… você não pode namorar?

Aspros- não Defteros, eu não posso. Quer dizer, isso é o que nos ensinaram, eu não sinto atração por ninguém. Você está apaixonado por alguém?

Defteros- … bem… ainda não. Mas eu posso me apaixonar então?

Aspros- digamos que pode, mas eu gostaria de conhecer a sortuda~

Defteros- ah, para! -Defteros agora estava envergonhado, e Aspros rindo da reação de seu irmãozinho-

Aspros- awn, meu irmãozinho está com seu primeiro amor!

Defteros- Aspros! N-não, era só uma pergunta aleatória!

Aspros- sei, sei~ safadinho.

Defteros- ASPROS!

Defteros acabou ficando com aquilo na cabeça. Por que havia perguntado aquilo mesmo?... ah, por causa dele.

O virginiano que ficava a maior parte do tempo escondido em sua casa, Asmita. Defteros nunca prestou atenção direta, mas sabia que era um homem misterioso, sempre estava meditando no fundo do templo.

Mas, um dia desses ele havia sido notado por ele enquanto andava pelas casas. Um "Quem anda por aqui?" 
Defteros sentiu que um clima agradável iria se fazer para poderem conversar, mas assim que o respondeu de volta Asmita6 voltou a se calar. Estranhou, e seguiu sua jornada.

Mas desde aquele pequeno encontro, Defteros não havia o tirado de sua mente por um instante. Então já havia começado a suspeitar de que seria um tipo de paixão.

Mas como Defteros é inocente, ele não entendia direito essas coisas, então estava confuso. 

Se passaram horas, chegou a noite, Defteros ainda se encontrava pensando sobre as palavras de seu irmão. Será que estaria apaixonado? Mas por um homem?

Ele decidiu dar uma volta para limpar a mente. Se levantou da cama devagar, olhou para Aspros que continuava dormindo tranquilo, e saiu pela janela que ficava ao lado. Planejava apenas dar uma caminhada noturna, claro, se escondendo dos soldados e dos outros cavaleiros. 

Mas não teve muita sorte, já que quando estava pelos campos os soldados o avistaram e então tentaram o expulsar do lugar. Defteros começou a correr e escapou facilmente, mas sabendo que viriam atrás do mesmo jeito decidiu ir para longe.

Parou em uma grande rocha, e sentou ali para descansar. Mas percebeu que embaixo dele tinha alguém… aquele mesmo virginiano dos cabelos loiros e lisos que esvoaçavam ao vento, ele estava sentado na frente e meditava em silêncio. Defteros olhava admirando o cavaleiro, e logo se pegou olhando atenciosamente para seus cabelos.

Decidiu confrontar seus pensamentos. Pulou da rocha e ficou de frente a ele, o loiro se manteve calado e calmo, até parecia que não havia notado… ou que estivesse dormindo. Mas acabou tendo uma surpresa.

Asmita- quem se encontra aqui? -ele falou sem levantar sua cabeça-

Defteros- … eu não sou ninguém. -se sentou no chão- eu sou a sombra do cavaleiro de Gêmeos.

Asmita- se há consciência, é alguém de qualquer jeito. O oráculo deve ter se empolgado, não?

Defteros- não acho isso engraçado. Mas já que insiste, sou Defteros.

Asmita- Defteros… o "segundo"? Entendo. Se eu fosse você não estaria a essa hora aqui fora.

Defteros- eu não gosto de me manter preso em um lugar. O que você faz aqui?

Asmita- estou pensando, apenas isso…

Defteros- você pensa assim? Meditando?

Asmita- eu sou budista. É estranho para você?

Defteros- não! Claro que não! Eu o respeito totalmente!... sabe Asmita… você não se sente sozinho?

Asmita- … não me sinto, mas não tenho certeza se eu realmente estou ou não. Eu não sei como você é, como o mundo é. Eu só sei que vivemos em uma dimensão, mas eu vejo coisas que eu não viria se eu pudesse abrir meus olhos.

Defteros- você é cego… ah, Asmita--

Na hora que Defteros diria mais alguma coisa, ouviu os pisos e as falas dos soldados chegarem mais perto, estalou seus lábios se levantando rapidamente, mas Asmita tocou em sua calça.

Asmita- eu tenho confiança em você. Apareça em meu templo mais tarde…

Defteros- c-certeza??

Asmita- sim… 

Defteros foi embora assim que assentiu para ele, mas no fundo parecia como se uma chama tivesse se acendido em seu coração. No fundo ele queria ficar junto a ele, naquela calma, aquela paz que sentia perto de Asmita era indescritível.

Ele por pouco parou de se sentir uma maldição que deveria ficar longe das pessoas. Aquele homem iluminava aquela solitária sombra.


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