2019.
Ela não dormiu mais do que meia hora essa noite.
Não pôde dizer se foi pelo sexo magnífico que a tomou nas primeiras horas, ou se foi sua consciência a esmagando enquanto se chamava de puta o resto da noite.
Tudo sempre acabava assim, quando acontecia.
Roseanne não podia dizer se gostava ou não, por mais que soubesse que o certo era dizer que não. Mas ela odiava mentir e, de alguma forma, realmente não sabia se gostava ou não.
E foi nisso que ela pensou durante todo o resto da noite enquanto ouvia a morena respirar baixinho no seu pé do ouvido. Porque, como, e quando tudo isso começou?
Não lembrava do começo, ou, se lembrava, fingia que não, mas sabia que estava nessa enrascada fodida a mais de um ano. Durante todo o tempo, sua consciência nunca pesou ao se perguntar porque, mas agora, depois da sua companhia desfilar com um anel de prata brilhante no dedo anelar, você já não conseguia mais esconder o nojo que sentia de si mesma.
Porque sim, Roseanne, é horrível e nojento o que você faz com sua amiga nas escondidas, chega a ser repulsivo a forma como você gemia o nome dela pedindo a Deus que perdoasse sua alma pecadora. Porque você estava pecando ou, pelo menos, achava que sim.
Se atracando com a mulher do próximo no escuro, quando no claro sorria e conversava com ela como duas, apenas, amigas. A forma asquerosa a qual você abraçava a namorada dela e dizia que a amava demais, que vocês nasceram para estarem juntas. Os beijos molhados que distribuía pela face dela enquanto que, em algum momento, lambeu a buceta da mulher que ela amava. Era feio e desonroso, Roseanne.
E você sabia disso, pensava nisso, e concordava. Mas sempre era tarde demais, porque quando você parava pra pensar nisso, já tinha transado uma noite inteira com ela na sua cama. Tinham gritado seus nomes como um mantra para que todo o planeta escutasse. Mas, em silêncio, pois Jennie não podia ouvir o que vocês faziam.
Na verdade, Jennie não podia saber que sua companheira noturna estava lá. Porque era segredo, porque você tinha vergonha de assumir que transava com a melhor amiga dela muitas vezes num mês.
E então, quando pensava nisso, tinha vontade de chorar, mas não podia porque sua companhia não podia sonhar que você levava tudo que faziam pro lado mais sentimental da coisa.
Porque além de mentir que nunca fizeram nada, tinha que mentir que nunca sentia nada também.
E você tem vontade de chorar ainda mais quando se dá conta que é uma farsa. Que mente tanto num dia, que nem sabe qual é sua verdadeira vida, e, se um dia, você realmente a teve. Mas tudo bem pequena princesa, não se martirize tanto, você cresceu em meio a mentiras e desilusões, vamos espalhar essa culpa em outras pessoas além de si mesma.
Que tal no seu pai? É, o homem que te criou, sua figura paterna, o primeiro e único homem que amou. Ou, pelo menos, acha que sim.
Pais são pra isso né? Ser o primeiro homem o qual nós amamos e confiamos. Mas você não teve isso, Chaeng. Porque tudo que lembra do seu pai na sua infância, é sua imagem bêbada e fedendo a cigarro, tentando quebrar a porta pra entrar porque tinha perdido a chave mais uma vez.
É, nós sabemos que hoje ele tenta esconder o passado obscuro indo a igrejas, ajoelhando e adorando a Deus, nosso senhor. Mas você sabe de tudo, sempre soube, mesmo que depois dos seus 12 anos, toda essa história foi apagada da sua família. Sua mãe passou a fingir que sempre foram a família que são hoje, que seu marido nunca tinha bebido mais do que uma taça de champanhe no ano novo, e você passou a acreditar nisso também.