Sorrisos dolorosos, um apoio forjado que disfarçava suas tentativas de sair correndo daquela sala. Faça isso, faça aquilo. "É pelo nosso bem", se repetiu vezes o suficiente para que não consiga contar, e eu tomei forma, tomei atitude, me fiz eu mesma, independente de seus malignos planos, literalmente, arquitetados para mim, mas também me fiz em suas vontades, tentando ser melhor e agradar uma expectativa inventada por ele... No entanto, eu não vou deixar essa casa ser feita como ele quer.
- Isso é ridículo!
-Tudo que eu faço agora, se torna ridículo para você.
- Não, não, antes Júlia, você tomava atitudes muitos sensatas, me ouvia de verdad...
- Ah ham! - Eu o interrompo, apontando para ele, detesto admitir que de um modo um tanto infantil - Então, aí está a droga do problema. Não é minha decisão, mas sim, eu não ter feito o que você queria.
- Não seja tola, a forma em que eu orientei antes, funciona melhor para tudo nesse projeto - ele levanta-se da cadeira, apoiando um braço sobre a mesa e inclinando-se diante de mim.
Talvez sua minha paciência seria louvável de uma premiação neste momento, mas eu insistiria até o fim:
- Agradeço a preocupação, mas já tomei minha decisão.
Com minha sobrancelha indico sua mão em cima dos meus papéis, mas ele parece não notar (ou não quer) e continua na mesma posição com uma incessante argumentação de blábláblá, que me fez considerar agredi-lo e medir se a multa e um provável processo dentro do ambiente de trabalho valeriam a pena, ou como isso afetaria meu julgamento e divisão de bens. Hum... Seria satisfatório por hora, uma bifa bem no meio da sua cara arrogante e toda aquela aura de artista metido a besta. Grr....Mas ainda tenho que pagar aquele apartamento provisório.
Traduzindo, não trabalhem com seu marido, não ao menos que se divorciem... E bem, este é o caso.
Afinal, quem era ele para dizer aquelas coisas? Sequer foi capaz de me dizer que não gostou dos tênis que eu havia o dado no começo do namoro, e lá está ele, com os malditos tênis.
- Me escute, mulher! - ele esfrega o rosto com as duas mãos. Sempre o faz, quando está ficando nervoso.
Ótimo, somos dois.
- Quando começamos este projeto, garantiu que eu teria total liberdade para apontar melhorias e garantir uma obra mais duradoura.
- A casa será um fiasco com esses pilares cobrindo meu conceito aberto para o jardim, à tarde, terá uma vista para a água e o pôr-do-sol. - Ele volta a apontar no papel os locais riscados a lápis por mim.
- Ótimo, então, por quê não apenas joga o cimento no chão em frente a sua "linda piscina" ondulada, - faço aspas com as mãos, reforçando minha ironia - porque é só isso o que vai restar se tirar as malditas pilastras daí.
- Disse que tinha gostado da piscina. - Ele me fita com uma expressão... Magoada? Respondo com um sorriso cínico - Eu não acredito! Você... Ah, que cabeça dura! Nunca consegue expressar seus sentimentos. Por que diabos eu casei com uma engenheira?! Nunca vai entender os detalhes... - Ele começa a andar pelo escritório murmurando.
- De novo isso. - Reviro os olhos - É uma obra, vocês arquitetos e essas ideias de pôr sentimento em tudo. - Massageio minhas têmporas, e olho para o relógio no pulso, ajeitando meu blazer - Que histeria, só tô tentando garantir que a beleza da casa sequer chegue a existir, para isso precisa ser levantada.
- Não escutou nada do que eu disse? - Ele suspira parecendo cansado - Nunca escuta, porque eu ainda me preocupo - Ele murmura as últimas palavras, mas escuto.
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Trechos de Inspiração 2
Ficción GeneralDepois do sucesso brilhante do primeiro livro de inspirações, trago para àqueles que desejarem fagulhas para ideias e um mundo glorioso de criatividade para escrever, ou para a simples e pura disposição de leitura para se apaixonar, corroer as unhas...