Raiva, era tudo que Juliette conseguia sentir, não gostava de ser acordada no meio da noite, muito menos por seu namorado.
Adam estava enchendo sua paciência, chegando muito além do limite, que ele estourou na semana anterior.
— Oi. O que aconteceu? — perguntou, sem disfarçar sua insatisfação.
Ela já fora mais gentil, é verdade. Mas, às vezes, contenção não leva a lugar nenhum, e não a levaria para as finais da Olimpíada de Literatura.
Adam dizia que era uma meta boba, que não valia tanto estresse, ela discordava.
Gostava de ler, escrever, de história e de ganhar. Ela definitivamente amava ganhar.
E melhoraria seu histórico para a faculdade, então, por que não?
Mas seu incrível e gentil namorado não pensava do mesmo jeito.
— Uhm? Nada. Queria falar com você, Jully. Quase não me deu atenção. — ele disse, e seu sorriso de alguma forma era notável.
E isso meio que a quebrou, a culpa por estar tão ausente e ríspida ultimamente.
— Desculpe por isso...
— Não tem problema.
— Tem, sim.
— É, tem um pouco. — ele disse, e ela suspirou.
— Não posso conversar agora, já estava dormindo. — explicou, e agora era sua vez de ganhar um suspiro.
— Você não tem mais tempo pra mim. — acusou, e agora ele não parecia mais seu incrível namorado gentil, mas sim seu namorado incrivelmente dramático e chato.
— Adam, eu não tenho tempo pra nada ultimamente, e você sabe por quê. Quando você se meteu no seu projeto com o futebol, eu te apoiei. E no vôlei, e em cada projeto que você entrou. Por que nós apoiamos um ao outro. Ou só eu apoio você?
Suas palavras pairaram na ligação por um tempo, ambos absorvendo-as. Juliette não sabia porque tinha falado aquilo, não era mentira, mas ela não explodia com Adam, nunca com Adam.
— Eu te apoio, em coisas relevantes, Juliette. — E ele tinha conseguido, pegou os limites ultrapassados, amassou em uma bolinha e jogou na cara da namorada.
— Claro. E suas aulas de marcenaria eram muito relevantes, por que você queria, não? Lembre-se do único favor que lhe pedi essa semana e não me ligue durante minhas poucas horas de sono. Tchau, Adam. Amanhã conversamos. — e desligou.
E ela tinha sono demais acumulado, então não tinha tempo para lamentar sua grosseria, sem tempo para sentir culpa, apenas deitou e dormiu, eram duas da manhã, e ela tinha muito a fazer dali algumas horas.
Quando acordou, sentiu-se bem por uns segundos, aquela fração de milésimos em que seu cérebro não teve tempo de assimilar tudo de ruim do seu dia anterior.
Então ela acordou de péssimo humor, e sentiu aquilo de novo, então teria que andar pelo resto do dia com suas luvas ridículas.
Quando tinha nove anos, começou com a mania, ficava tirando a casquinha do machucado que ganhou andando de bicicleta, e aquilo a acalmou na prova do dia seguinte. Então ela continuou, até ficar esteticamente notável, quando tinha 12, e aí seus pais interferem.
TOC, transtorno obsessivo compulsivo, mas ao invés de manifestar isso externamente, organizando, mantendo padrões ou qualquer coisa, ela se machucava, ou abria machucados já existentes. Era uma eterna auto tortura.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Don't Call Her Jully.
FanficJuliette tem que encarar a vida acadêmica, a falta de tempo e o exaustivo namoro com Adam, por quem era apaixonada desde que tinha 12 anos. Com a chegada das Olimpíadas de Literatura, tudo se tornou ainda pior, focada em ganhar o concurso, que seu...