Capítulo I - O nobre e a missão

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                                                                                                                                                            Ano 550
        — Vos contarei uma história recente; aconteceu no ano passado e conta uma pequena, porém mui importante parte da vida de um mercenário chamado Fhenrir!

        “Encham seus copos, se abasteçam de comida, porque a história já vai começar – disse o elegante bardo assentado em um barril no centro da Pôloniabear, a maior taverna da cidade de Moroni, enquanto do lado de fora, um grande inverno castigava o sul do reino de Dumbria.”

        Moroni era uma cidade comerciante, repleta de lojas de poções, estalagens, tavernas, lojas de armas, estábulos, feiras e um enorme porto.

        — Fhenrir era um grande mercenário, guerreiro valente e mui habilidoso com sua espada. Havia completado diversas e diversas missões e muitas vezes sem sofrer sequer um arranhão. Alguns diziam que era pela armadura leve, porém resistente, que ele usava; outros delegavam este fato à habilidade do guerreiro em combate, mas o importante era que Fhenrir era o mercenário mais competente entre todos do reino.

         “O guerreiro foi convidado até a casa do senhor Xidiu Pashar. Vocês o conhecem — disse o bardo —, e sabem que Pashar é um nobre de muitas riquezas e dono de metade dos comércios desta cidade — finalizou.”

        As pessoas da taverna se olhavam enquanto o bardo falava abertamente de Pashar em uma de suas tavernas. Elas sabiam que não se inventavam histórias de um homem como Pashar, não se quisesse permanecer vivo.

        — Eu também já ouvi falar de Fhenrir! – bradou um jovem que prestava atenção na história enquanto comia sua sopa. — Ele é um guerreiro formidável! Dizem que até magias ele usa.

        — Humanos que usam magias são raros. Esse Fhenrir então deve ser realmente sem igual — disse um homem corpulento, depois de finalizar seu copo de cerveja com um longo gole.

        — Pois bem, vamos continuar! — disse o bardo, finalizando as conversas paralelas.

        “Fhenrir se dirigiu até a bela casa do senhor Pashar e foi recebido por seus guardas, que logo o reconheceram e o deixaram entrar. Ele percebeu que o clima estava estranho na residência; parecia um clima de luto. Todas as cortinas das janelas fechadas, tochas apagadas, fazendo a luxuosa casa ficar sombria.”

        “Chegando em um grande quarto, o guerreiro viu uma garota deitada na cama. Parecia muito doente e prestes a perder a vida. Pashar, que estava em pé ao lado da cama, se direcionou ao guerreiro:

        — Venha até aqui, Fhenrir!

        “Se aproximando, o guerreiro deu uma olhada no quarto escuro que não tinha muitos móveis, apenas uma espécie de penteadeira, no canto, ao lado da grande janela; um criado mudo ao lado da cama e um relógio de ouro em cima dele; uma mesinha do outro lado da cama, próxima do senhor Pashar; sobre ela continha um grande balde com água morna e alguns panos. Também havia um tapete felpudo no centro do quarto.”

        — Qual é minha missão? — perguntou Fhenrir.

        — Minha filha contraiu uma doença aparentemente incurável, mas eu conheço um item capaz de tirá-la dessa escuridão e trazê-la de volta para mim. Você já deve ter ouvido falar da pena mágica, uma pena que contém a magia de curar qualquer ser de qualquer coisa. Só assim minha filha poderá voltar para mim e se livrar da morte que a rodeia — disse Pashar.

        — Você tem alguma informação da localização da pena? — perguntou o guerreiro.

        — Sim — disse o nobre, dando uma leve pausa. — Está no templo Kokomo, na pequena montanha perto das gêmeas.

        — Perto das montanhas gêmeas? Onde dizem dormir um dos dragões ancestrais? — perguntou o jovem euforicamente, atrapalhando o desenrolar da história e deixando um pouco de sopa cair na mesa.

        — Sim. Dizem que o templo que há entre as montanhas foi construído para avisar quando o grande dragão acordar novamente — complementou o bardo com um largo sorriso. — Continuando…
Então Pashar disse ao guerreiro:

        — Eu disponibilizarei alguns homens para irem com você. Preciso que essa missão seja completada o mais rápido possível. Não se preocupe com a recompensa, garanto que ela será muito generosa.

        “Pashar então levou o guerreiro Fhenrir até alguns homens que já estavam prontos, e partiram, Fhenrir e mais 5 homens, em direção ao templo Kokomo.”

        “Depois de dois longos dias de caminhada, o grupo acampou no fim da floresta que antecede as pequenas montanhas que dão caminho até o templo e depois às gêmeas.”

        — Não acendam fogueira, comam e vão dormir. Partiremos em poucas horas — disse Fhenrir.

        — Cara, está muito frio! Já  faz dois dias que não acendemos fogueira e não comemos algo quente. Você quer nos matar? — questionou um dos soldados de Pashar, irritado.

        — Qual é seu nome? — Fhenrir perguntou.

        — Me chamo Zanlamin.

        — Entenda, Zanlamin: não queremos chamar atenção e nem atrair problemas. Coma o que tiver que comer, frio assim mesmo e durma. — disse Fhenrir, enquanto entrava em sua barraca para descansar.

        “Depois de apenas 1 hora ou um pouco mais, um barulho acordou Fhenrir. Parecia o uivo de lobos gigantes que se aproximavam. De dentro da barraca, o guerreiro pôde ver a luz da fogueira acesa e a sombra dos soldados que se assustaram também com o barulho.”

          “Fhenrrir saiu de sua barraca e lançou um olhar acusatório em direção de Zanlamin, que já estava de pé com a mão em sua espada, balançando a cabeça em uma tentativa de dizer que não era culpa dele.”

        — Pelos Deuses! Vocês são burros ou o quê? — questionou Fhenrir, irritado.
        “Fhenrir foi interrompido por um barulho de galhos se quebrando na floresta. Olhando na direção do barulho, conseguiu ver os olhos brilhantes e ouvir os rosnados dos grandes lobos que se aproximavam lentamente entre as árvores.”

        “Os soldados do senhor Pashar pegaram suas armas, dando lentos passos para trás e olhando as feras que apareciam a luz do luar. Eram três enormes lobos, seus pelos eram de um tom escuro e seus olhos brilhavam, parecendo mais com duas pedras preciosas refletindo a luz; seus dentes eram grandes e provavelmente mais afiados que as espadas dos soldados. Os lobos eram do tamanho deles; suas patas podiam cobrir quase todo o tórax dos humanos; patas que eram armadas com longas, curvas e afiadas garras. Seus rosnados ecoavam junto ao vento forte e o medo dos homens era como tempero para o alimento.”

        — ATACAAARRRRRR — Gritou Zanlamin enquanto corria com sua espada posicionada para atacar os lobos.

        “O ataque não foi efetivo. Atacar sozinho nestas situações nunca é. O lobo da esquerda o atacou antes que ele pudesse desferir seu ataque. A mordida era muito potente e era possível ouvir os ossos das costelas do soldado se partirem; o outro lobo finalizou o humano com uma mordida no pescoço, arrancando assim sua cabeça. O silêncio se instalou no local. O lobo jogou o corpo de Zanlamin no chão e as três  feras dispararam  em direção ao grupo.”

        “Um dos soldados que estava mais atrás, empunhando seu arco, disparou duas flechas, acertando um dos lobos, mas isso não impediu o avanço do mesmo que cobriu terreno muito rápido, agarrando outro soldado que tentou se defender em vão.”

        “O segundo lobo foi em direção de um outro soldado que posicionou a lança em sua direção, fixou os pés o máximo que pôde e esperou o impacto; o lobo era muito forte e por isso a lança enfincou profundamente em seu peito, tirando sua vida imediatamente. Com a força do impacto, o homem foi arrastado pelo corpo do lobo, que caiu em cima dele, impossibilitando-o de se levantar.”

        “O terceiro lobo se dirigiu a Fhenrir, que se abaixou e o esperou pacientemente. A fera pulou, esticando suas patas para acertar o guerreiro, que com um movimento girou seu corpo para a direita, deslizando na neve e desferindo um golpe com a lâmina de sua espada na lateral da fera. O fio da espada rasgou a pele do lobo como se fosse papel, separando pele, carne e ossos da lateral da besta, que caiu no chão, se debatendo e chorando de dor. Rapidamente Fhenrir se  impulsionou na direção dela e deslizou com o joelho no chão, enfincando sua espada na cabeça da criatura, finalizando-a.”

        “O último lobo vivo jogou para o lado o corpo do soldado que havia matado e correu em direção ao homem que estava no chão, preso pelo corpo do outro lobo. Rapidamente o arqueiro disparou uma flecha que acertou na costela do lobo, fazendo-o mudar de direção e ir com fúria e força para dilacerá-lo.”

         "Fhenrir rolou no chão na direção de uma das barracas onde uma lança estava fincada na neve. Ele a retirou e girou seu corpo, pegando impulso e a arremessando no caminho onde o lobo iria passar. O cálculo foi perfeito; precisão, força, vento e velocidade do lobo, calculados milimetricamente em segundos, fez com que a lança entrasse no pescoço da fera, que caiu no chão e deslizou até os pés do arqueiro.”

        “Todos quietos, apenas o barulho do vento dava para ser escutado. Um dos soldados estava estático no mesmo lugar desde a chegada dos lobo; não se moveu devido ao pavor que sentiu e a tensão que estava no local. Fhenrir quebrou o silêncio:

        — Eu disse que não era para acender a fogueira.

Crônicas de Dumbria: A Pena MágicaOnde histórias criam vida. Descubra agora