CAPITULO II - Templo Kokomo

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- UOOOWWWW, eu disse que Fhenrir era um guerreiro formidável! - Gritou o garoto batendo as mãos na mesa enquanto se levantava, assustando alguns ouvintes que estavam imersos na História do elegante bardo.

Ouve um leve tumulto, as pessoas que se assustaram praguejavam em direção ao garoto, outros davam risada da situação. A taverna tinha se enchido consideravelmente, quando as pessoas ficavam sabendo que um Bardo estava contando histórias por lá não perdiam tempo em ir até a mesma e se acomodar como podiam, pois já não havia mais mesa nem bancos e mesmo em um grande inverno naquele momento a taverna era o melhor lugar para se estar por conta do calor humano, cerveja e sopa quente. Era possível ver o sorriso largo do balconista de longe, feliz em ver a taverna entupida de gente e sua equipe trabalhando como nunca, deslizando sutilmente entre o povo amontoado com certa habilidade em não deixar nada cair no chão.

- Se acalmem, se acalmem - disse o Bardo - Podemos voltar a história?

- Sim Bardo, continue a história e espero que agora todos possam segurar as emoções e não me matar do coração - falou uma mulher olhando para o garoto.

Então o Bardo continuou.

"Fhenrir deu algum tempo para os soldados sobreviventes se recomporem da batalha, eles reviraram os corpos e barracas dos soldados em busca de algo que pudesse ajudar na viagem, ajuntaram os suprimentos, levantaram acampamento e partiram deixando as barracas e os corpos dos mortos para trás, agora era Fhenrir e mais três soldados.

- Não estou acre... acreditando no que meus olhos viram, nunca vi lobos daquele... daquele tamanho e com aquela força brutal! - exclamou o soldado que não se moveu na batalha com a voz trêmula.

- Pois é Elros, e enquanto nossos companheiros de viagem morriam você estava estático no seu lugar sem conseguir mover um músculo. - disse o arqueiro com uma certa indignação na voz.

- Eu nunca vi algo daquele tipo tá legal, a merda do lobo esmagou o corpo do Zanlamin com cota de malha e tudo como se fosse nada, e como se não bastasse o outro arrancou a cabeça dele - gritou Elros tentando se justificar.

- E parece que tudo o que aconteceu não foi o suficiente para você, já que está gritando e chamando toda a atenção para nós. - disse Fhenrir direcionando o olhar ao soldado.

- Dizem que feras diferentes estão sendo vistas com mais frequência pelo reino, feras maiores do que eram para ser, mais vorazes e ferozes, que sempre estão com fome. - falou o lanceiro com um tom de preocupação na voz - por que você acha que o senhor Pashar aumentou sua guarda! - finalizou.

- E o que você acha que está causando isso Fozeo? - perguntou Elros com claros sinais de medo e pavor em sua voz e corpo.

- Mas foi o arqueiro que tomou a palavra dizendo - Um amigo meu precisou ir até o grande templo na cidade central a serviço do senhor Pashar e me contou algumas coisas que ouviu por lá. Ele disse algo sobre uma essência de uma antiga deusa que está afetando animais e criaturas pelo mundo - falou baixo como se fosse um grande segredo - Mas vocês sabem como são esses religiosos né, sempre colocando a culpa em "deuses" e esperando a ajuda dos mesmos "deuses" em quem colocam a culpa, deve ser só mais uma de suas invenções - concluiu o arqueiro falando em tom normal desta vez.

"Os soldados riram juntos do que o arqueiro tinha acabado de contar, o clima aos poucos foi voltando ao normal entre eles enquanto caminhavam e conversavam, o vento era forte e carregado de neve e quanto mais perto chegavam das gêmeas, pior ficava. Já não era possível ver muito a frente, mas Fhenrir parecia saber exatamente para onde ia, andando como se conseguisse enxergar no meio de toda aquela neve."

"Perceberam as primeiras montanhas se aproximarem, eram menores do que as demais, mas ainda assim grandes aos olhos humanos, entre duas montanhas tinham uma passagem estreita para onde Fhenrir se dirigia."

- Vamos por está estreita fenda? - questionou Fozeo o lanceiro.

- Sim, é o caminho mais seguro até o templo, e o caminho mais utilizado pelos soldados do forte quando precisam levar suprimentos e mensagens aos monges e clérigos de lá - respondeu Fhenrir.

- Será que você consegue passar por lá Wuaru? Comendo do jeito que você está não sei não em - disse Fozeo em tom de brincadeira com o arqueiro que apenas olhou para ele sorrindo sem graça.

"O grupo adentrou pela passagem estreita com cuidado, havia muita neve na passagem, mais do que o normal por conta da tempestade que se seguia a dias dificultando ainda mais o caminho."

"Alguns minutos abrindo caminho com dificuldade pela passagem estreita, o grupo pode notar a passagem se alargar, o caminho parecia mais fácil, a visão ali era melhor por conta da proteção das montanhas, mas era quase que impossível se localizar ali dentro, a única coisa que enxergavam era o caminho a sua frente que se dividia constantemente, montanhas e rochas para todo o lado."

"O caminho serpenteava entre as montanhas, que ficavam maiores e mais geladas à medida que eles avançavam, os soldados estavam com todo o agasalho que tinham e ainda sim tremiam de frio, era possível ouvir barulhos estranhos ecoando pelas montanhas e todos estavam com aquele horrível sentimento de serem observados."

"Os soldados olhavam de um lado para o outro em busca de alguma coisa, tinham a terrível e presente sensação de que tinha olhos por todos os lados os observando, eles enxergavam coisas se movendo em meio as pedras e cavernas e o medo tomava conta de seus corações novamente, Fhenrir seguia o caminho como se o conhecesse de cor, sempre tomando uma direção sem hesitar em meio a tantas opções."

"Logo o grupo pode ver um grande precipício, um precipício circular no meio das montanhas, como se fosse uma clareira em meio a floresta. Olhando para baixo era possível ver uma pequena montanha que se enguia do fundo no meio do grande buraco, no topo desta montanha um templo perfeitamente construído, a montanha era como uma sustentação para o templo que se enguia em cima, duas pontes interligavam as extremidades do grande precipício, os flocos de neve naquele local pareciam dançar enquanto caiam e sumiam na escuridão abaixo, uma visão belíssima, uma verdadeira obra de arte."

- Por aqui, e tomem cuidado para não cair. - disse Fhenrir atrapalhando os soldados que admiravam o que seus olhos contemplavam.

"Eles tiraram a atenção da vista e perceberam uma pequena passagem a beira do precipício, aonde Fhenrir prosseguia com cuidado."

- Tomem cuidado e não se apoiem na montanha, não encostem nela, daqui pra frente as pedras são tão gélidas que podem causar serias queimaduras e até mesmo prender vocês a elas, e eu não quero ter que amputar membro nenhum de ninguém aqui. - alertou Fhenrir olhando para os soldados.

"Após a declaração de Fhenrir eles perceberam que as montanhas agora tinham um tom azulado, que adicionava uma certa e mortal beleza ao local."

- Mas senhor Fhenrir, a passagem é estreita, o risco é muito grande de cair se não estivermos se apoiando a montanha - exclamou Wuaru.

- Por isso eu disse para tomarem cuidado - disse Fhenrir - Andem logo e venham, ou voltem e digam a Pashar que não quiseram prosseguir com a missão para salvar a filha querida dele - Finalizou e continuou a descer pelo caminho que beirava entre a montanha gélida e o precipício profundo, ambos mortais pelo jeito.

"Os soldados lançaram olhares uns para os outros e se apressaram em descer pelo caminho estreito com o máximo de cuidado que podiam."

"No fim do caminho chegaram a uma ponte, cabia apenas um homem por vez e não tinha nenhuma corda ou sustentação lateral para que segurassem, para melhorar, a ponte estava escorregadia pois estava congelada."

- Pelos Deuses, que dificuldade para chegar até esse maldito templo - bravejou um homem entre a multidão na taverna.

- SHIIIIIIIIIIIIIIIII - todos os demais da taverna exclamaram ao mesmo tempo em protesto contra o homem que atrapalhava o desenrolar da história.

O Bardo então sorriu e continuou.

"O grupo passava vagarosamente pela estreita e perigosa ponte, Fhenrir olhou para baixo e viu que mesmo descendo pelo caminho, ainda era impossível enxergar o fundo do precipício."

- Apenas continuem, sem olhar para baixo - disse Fhenrir.

"Elros não segurou a curiosidade e olhou para baixo, percebeu que a ponte era praticamente da largura de seus pés um do lado do outro e o precipício parecia não ter fim, sua perna começou a tremer e ele podia sentir seus movimentos indo embora novamente, o coração acelerando rapidamente, o frio já não o incomodava mais, ele nem o sentia, era apenas ele, a estreita ponte e aquele enorme buraco embaixo de seus pés. Ao longe ele podia ouvir algo, vozes um tanto que familiares, mas não conseguia entender o que estava sendo dito, as vozes pareciam estar longe demais."

- ..............Elros.........................atenção...........calmo - era apenas o que Elros conseguia ouvir.

- Fique calmo, é só manter a calma e continuar andando, você está indo bem, acredite em mim e venha com calma - as vozes voltaram e Elros pode ouvir seu amigo Fozeo.

"Mas repentinamente uma alta dose de adrenalina tomou o lugar do medo, Elros pôde ver seus companheiros do outro lado da ponte perto da entrada do templo e junto com eles um senhor careca, sua barba era grisalha e ele estava apenas com um manto sobre o corpo. Percebendo que era o único que ainda estava na ponte, em uma tentativa desesperada de alcançar o outro lado, sem pensar, Elros iniciou uma corrida frenética para sair daquele pesadelo, mas seus pés e equilíbrio o trairão e no meio do desespero de chegar ao outro lado seu pé direito vacila e escorrega, cotovelos e costelas se chocram contra a ponte, o soldado tentou se agarrar em vão e com um grito longo e agudo, seu corpo foi engolido pela escuridão."


Crônicas de Dumbria: A Pena MágicaOnde histórias criam vida. Descubra agora