Carta a um sonho.

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Como falar-te, que te amo mas não posso te amar? Que te quero, mas não posso ter? Que me sinto tão pronta e tão despreparada para encarar isso?

Não estou pronta, e devo respeitar a mim e a ti, eu sei disso; porra, como sei, sei que não devo te colocar em meu coração, pois está cheio de rachaduras e irá desabar a qualquer momento, sei que não devo te anunciar aos quatro ventos como minha, minha e apenas minha, que não devo sonhar com você em meus braços, meus lábios, minhas mãos, sei que não deveria te cortejar, sabendo que não posso levar a frente.

Sei de tudo isso, mas, mesmo assim, vendo meu coração e sussurro a ele palavras de encorajamento para te amar, te querer, e encorajar o teu a sentir o mesmo.

É irrestivel e viciante o sentimento de te fazer sorrir e receber aquele olhar. Ah, aquele olhar, quando seus olhos castanhos se ascendem como mil sois e deles escorre uma ternura tão doce quanto mel; um olhar que inspiraría desde os grandes poetas aos mais normais- assim como me inspiram.

Momentos doces que me tiram por um momento da realidade, como se estivessemos no mais lindo contos de fadas, como se fossemos apenas jovens apaixonadas, vivendo o final feliz depois de tantas atribulações. Um sonho inalcançável.

Mas caio em realidade quando a Razão susurra-me, ela não é sua, mesmo que tu sejas dela, e me vem todos os "por ques não...", Porque não é sensato, porque não estás pronta, porque não tens certeza, porque... Ajuda-me a listar a Razão.

E a Emoção, questiona, por que não é sensato? Por que não estás pronta? Por que não tens certeza? Por que não?

E não consigo encontrar um bom argumento.

A emoção tem bons argumentos, mas utópicos, em minha visão, não são seguros, não são certos; são perigosos e a ideia que propõem pode levar a altos níveis de desilusão e mágoa. Séria sair do conforto do que é familiar.

É algo inviável para alguém como eu se arriscar, mesmo que do outro lado esteja meu coração sendo esmagado pelo querer, não arriscaria o ter despedaçado, mesmo que pareça ser recíproco, não tem como ter certeza de que finalmente algo dará certo nessa roleta russa.

Não, a razão diz, amor não é motivo para arriscar-se, mesmo que se arrependa no futuro, de ter vivido no passado e com medo, que se arrependa de não ter vivido, de apenas ter existido, o importante é que não fez nada de errado com outra pessoa.

Mas não sabe se o que fez é o correto, grita a emoção, vale a pena passar essa vida sem viver? Sem experimentar, tentar, arriscar? Principalmente quando pode dar certo? Como saberá que não fez o pior ao me ignorar, se você também não ignorou o amor dela? Guardar esse sentimento não fará nenhum bem.

Estou tentado a escuta-la, que mal faria te amar? Começo a discar seu número quando lembro que isso já aconteceu, já vivi e senti isso; e aquilo tudo não é algo que eu queira sentir novamente.

Não quero ter novamente o amargo da perda e culpa em minha língua, não quero sentir a ácido da sua voz em meus ouvidos, ou ler suas palavras com mágoa escorrendo de cada uma.

Não quero que isso aconteça. Tenho medo que isso aconteça. Me corrijo. Pavor. Mas do que palhaços assassinos, da escuridão ou da morte. Tenho medo de te magoar ou ser rejeitado e não consigo ver alternativa se isso acontecer.

Medo, é o que me mantém vivo e não me deixa viver. Medo e razão, regem minha suposta vida lado a lado e tenho medo que em seu controle, não chegue o dia em que eu comece a viver.

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