Entre textos e (re)começos (Pausada)

Capítulo 1

O mês seguinte foi longo e, ao mesmo tempo, passou muito rápido. As coisas entre Ada e Bora eram um verdadeiro paradoxo porque desde sempre tudo o que eles viveram era intenso e leve ao mesmo tempo. Era um parque de diversões na mesma medida que um passeio no litoral. Fisicamente, eles não tiveram nada mais do que alguns amassos mais ousados às escondidas.

Por alguma razão que Bora não entendia, Ada insistiu em manter o relacionamento em segredo e ele interpretou aquilo como insegurança, tudo era algo muito novo pra ela. Até mesmo quando eles se beijaram mais intensamente outras vezes, podia ver o quanto ela estava tímida no início. Por muitas razões que Bora não compreendeu naquele tempo, ele deu este espaço para ela, mas não queria manter o relacionamento em segredo por mais tanto tempo. Estava muito certo dos seus sentimentos pela Ada e não havia mais razões para esconder.

Bora sabia que Ada tinha vários segredos. Inclusive, notou que ela andava estranhamente ocupada e agitada nos últimos três meses. Por incrível que pareça, não viu aquilo como algo ruim porque quase sempre ela estava de bom humor, embora pudesse notar que suas olheiras estivessem ficando mais fortes a medida que o tempo passava. Nos últimos três meses ela parecia mais cansada, mas o olhar era mais ativo, mais disposto, como se ela estivesse correndo atrás de algo muito bom.

Ada, por sua vez, quase ficou maluca desde que começou o seu namoro com Bora. No último mês ela tinha acabado de se acostumar ao ritmo do trabalho com os estudos sem que a família lhe perturbasse muito. É claro que várias mentiras foram contadas até então, mas ela acalmava a sua consciência afirmando para si mesma de que tudo era por uma boa causa. Iniciou o processo de divórcio com Ruzgar, começou a planejar o seu projeto final (TCC) e as coisas estavam indo muito bem com o Bora, apesar de tudo.

Sentia a culpa lhe corroendo cada vez que se encontravam e disse a si mesma que contaria tudo assim que o divórcio fosse oficializado.

Quando Ada e Bora completaram 1 mês de relacionamento, ele preparou um lindo e romântico jantar para eles na praia. Tinha de tudo para ser perfeito, mas sabemos como tudo transcorreu. Bora revelou a Ada o motivo que o fez desacreditar no amor e ela terminou tudo. Quando chegaram em casa, ela precisou lidar com uma Nergis totalmente transtornada por saber que Ada já tinha se apaixonado uma vez e uma Yasemin surtada porque soube que a sobrinha se casara e estava se divorciando no mesmo dia. Ada não teria mais paz com a sua família por um bom tempo.

Bora, por sua vez, ficou totalmente desorientado por dois motivos: 1) seu amor por Ada sendo interrompido de forma repentina; 2) Ele não sabia os motivos pelos quais ela terminou tudo. Ada era uma pessoa cheia de surpresas e ele gostava disso, mas essa foi a mais desagradável de todas (até mais do que a mentira sobre a faculdade). Ele não deixaria as coisas ficarem daquela maneira. Estava disposto a procurar entender todos os motivos que levaram Ada a terminar com ele, seria insistente se fosse necessário.

Pior do que isso seria se ela estivesse ausente. Ada já era parte da sua vida. Era a pessoa que Bora precisava ver que estava à sua vista para que ele tivesse certeza de que o dia seguiria com a sua normalidade. Bora poderia suportar a dor do término desde que ela não sumisse porque a verdade é que Bora não sabia mais o que era a sua vida sem a presença das cores de Ada: o amarelo do seu carro, o verde dos seus olhos, o castanho dos seus cabelos, as estampas coloridas das suas roupas ou o salto alto preto que ela usava de vez em quando. 

Depois daquela noite, Ada ficou dois dias sem ir para a empresa. De uma forma estranha, conseguiu um atestado médico e ele simplesmente entendeu que ela estava com a cabeça cheia demais para lidar com alguma coisa. Esses dois dias lhe deram a certeza de tudo o que foi dito antes: a ausência da Ada gritava em todos os lugares. Quando ela voltou, Bora pode respirar mais ou menos aliviado porque ainda havia a tensão do término repentino.