Capítulo 3

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- Só uma matéria? - perguntou depois de trocarem algumas palavras

- Normalmente, eu faço duas por dia. Só que por algum motivo que ninguém entendeu, a maioria dos professores liberou cedo hoje. E a minoria não veio por algum compromisso bem específico. Deve ser coisa da reitoria ou do departamento, não sei.

- Quer dar um passeio por aí? Já teve a experiência de explorar o campus à noite?

- Em primeiro lugar, sim. Poucas vezes. Mas, eu tenho os meus cantinhos. E em segundo lugar, não acho que seja uma boa ideia.

- Por que não?

- Da última vez que viemos aqui juntos, as coisas não acabaram muito bem.

- Querida, da última vez que viemos aqui, ainda não tínhamos sofrido as desilusões das nossas vidas e muito menos tínhamos vivido o amor que já sentíamos um pelo outro. Estou errado?

- Eu já perdi as contas de quantas vezes você fez essa pergunta.

- Eu diria que você está desviando do assunto, senhorita Ada. Mas, estou muito curioso para saber de uma coisa: qual foi o momento em que você se apaixonou por mim?

- Ne?

Bora começou a andar despreocupadamente, ainda com as mãos no bolso. Sentia-se estranhamente feliz. Ada poderia pensar que ele estivesse puto de raiva – que pensasse, era muito engraçado vê-la tentando disfarçar ou esconder alguma coisa – mas se ele pudesse, abraçaria ela ali mesmo e a levaria no colo. Mas, sabia que a fera estava com raiva pelo que aconteceu mais cedo no escritório e decidiu ir convencê-la a ceder por outro caminho.

- Bora bey, espera!

- Ada!

- Estou ouvindo.

- Eu sei que você está com raiva. E agora você está me deixando com raiva de propósito. E se você pensa que deixarei isso pra lá, está muito enganada. Irei descontar isso de alguma forma e você não será capaz de impedir – falava com um sorriso safado no rosto que Ada não entendeu.

- O que você pode fazer? Estamos no meio do campus, pelo amor de Allah!

- Você não sabe das aventuras podem ser vividas em um campus universitário, minha única?

***

Bora e Ada continuaram caminhando por um lugar pouco movimentado pelo campus. Durante o trajeto, Ada conseguiu mandar uma mensagem para sua tia Yasemin, alertando-a de que chegaria mais tarde do que o previsto e que provavelmente chegaria com Bora.

Eles pararam em uma lanchonete porque sentiram fome. Até ali, Bora voltou a falar sobre a faculdade. Há dias ele desconfiava que Ada estivesse escondendo algo e hoje teve a sua confirmação. Por incrível que pareça, aquilo o deixou feliz. Seja lá quais tenham sido os reais motivos que a levaram a interromper a faculdade, podia ver no esforço diário dela o quanto estava correndo atrás dos seus sonhos.

A verdade é que Ada era uma das melhores escritoras que ele já tinha visto na vida. Ele jamais poderia negar isso para si mesmo. Desde que a viu na faculdade, eles conversaram sobre tudo o que ela estava estudando naquele período. Ela estava fazendo duas matérias por dia, o que já era uma loucura. Mas contou que tomou essa decisão porque no último semestre queria usar todo o tempo livre para terminar o seu projeto final. Enquanto Bora ouvia Ada falar, pensou em ajuda-la nesse sentido, diminuindo a carga de trabalho dela e fazendo algum reajuste necessário para que as coisas não passassem do limite. Podia sentir que ela não dormia tanto quanto antes, mas nunca antes tinha visto tanta força de vontade. Aquilo o deixou feliz. Queria estar com ela quando se formasse. Falava com tanta empolgação que se sentia contagiado, lembrando dos tempos em que ele estava na graduação.

Entre textos e (re)começos (Pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora