A descoberta de Bella

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Aconteceu um incidente estranho nos arredores de Forks, em uma cidade ainda menor que eu nem conseguia decorar o nome. Meu pai, como o honrado homem da lei que era, foi designado a investigar.

- Eu preciso ir – Disse ele, já na porta de casa. – Os números de emergência estão na geladeira. Se precisar de mais dinheiro, sabe onde eu escondo, e caso aconteça qualquer coisa...

- Pai, eu sei, você já me disse isso umas mil vezes – Falei, rindo.

Sei que falei como se não quisesse mais ouvir nada, mas senti que não me incomodaria se ele falasse outras mil vezes. Sempre que repetia aquilo, eu via preocupação em seus olhos, e isso me fazia sentir protegida, e até mesmo um pouco querida. Minha mãe, por outro lado, me ligou apenas duas vezes desde que cheguei, há dois meses. Obrigado pela preocupação, mãe.

- Eu só quero me certificar que você vai ficar bem – Meu pai falou. – As coisas andam muito estranhas ultimamente.

- O que disse que aconteceu mesmo? – Perguntei. Não ouvi direito na primeira vez que ele mencionou, já que assim que ligaram avisando, ele teve de sair bem rápido e não pôde me explicar melhor.

- Um homem foi achado morto não muito longe daqui. Parece que foi atacado por um animal, mas...

- Mas?

Ele sacudiu a cabeça, depois sorriu.

- Não é nada. É só que é estranho um ataque assim. A maioria dos grandes animais foram extintos da área pelos nossos amigos índios muito tempo atrás. Hoje em dia você tem sorte se ver uma raposa na floresta.

Ele afagou meu cabelo e beijou minha testa, mas eu pude notar que havia algo faltando ali. Meu pai parecia não querer me preocupar, pois embora ele estivesse indo garantir a segurança da população caçando o animal, ele também estava me deixando sozinha em casa. Eu era já adulta, mas acho que nenhum pai do mundo ficaria tranquilo sabendo que está deixando a filha sozinha perto de onde pessoas estavam morrendo.

Dei um abraço nele e acenei enquanto ele partia. Tentei não pensar muito sobre isso, já que a direção para onde ele ia era no caminho da universidade. Ainda assim não consegui não me preocupar. Afinal, meu pai estava indo investigar uma morte, e acho que qualquer filha no mundo teria medo com o pai indo caçar um animal perigoso o bastante para matar um homem.

* * *

Meu pai foi no sábado e voltaria na segunda. Pensei comigo mesma "veja, um fim de semana sem os pais em casa, vou convidar meus amigos e dar uma festa", mas então lembrei que não tinha amigos. Claro, eu também não gostava de festas, mas eu precisava me entreter com minhas próprias piadas, já que não tinha ninguém lá para ouvi-las. As pessoas com quem mais gosto de conversar sequer existem. Gosto muito de ler, e não importa de fato qual tipo de livro seja. Gosto de dramas, ficção científica, suspense, romance e tudo mais. A história é importante, é claro, mas minha fraqueza é quanto aos personagens.

Pensei em ir até a livraria, mas infelizmente Deus não estava indo com a minha cara e fez chover o domingo inteiro. Não era uma boa ideia sair na chuva em Forks, já que era tão frio que o chão congelava, e pneus desgastados e estrada lisa não era uma boa combinação.

Foi um longo dia, e um daqueles bem chatos. Eu odiava a chuva, odiava o frio e não conhecia ninguém ali. A única coisa boa para mim em Forks era a oportunidade de estar mais próxima do meu pai. Obrigada, mamãe, obrigada querido padrasto, lembrem-me de mandar os dois para aquele lugar.

E então, depois de muita chuva e de um bom tempo sem nada para fazer ou ler em casa, finalmente a segunda-feira chegou. Não estava exatamente ensolarado, mas eu sobreviveria. O dia mais quente em Forks era tão quente quanto o dia mais chuvoso e úmido em Phoenix. Meu arrumei para ir para a universidade, e minha esperança era de que minha querida abóbora derrapasse na pista de gelo, saísse da estrada e meu corpo só fosse encontrado vários dias depois, mas infelizmente eu tomei muito cuidado e cheguei lá sã e salva.

Karma Konserta: CrepúsculoOnde histórias criam vida. Descubra agora