A lágrima de um vampiro

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Vi algumas gotas de sangue no chão e senti o cheiro forte invadindo minhas narinas. Eu me aproximei, tentando me estabelecer geograficamente, mas no fim só andei na direção em que o cheiro me guiava, e ao chegar lá, vi um garota ensanguentado caído no chão.

Parecia ainda estar viva, pois seu peito subia e descia conforme ele respirava. Eu me agachei ao lado dela para se estava bem, mas quando senti o cheiro de sangue sobre ela mais de perto, minha mente viajou para longe, e os instintos tomaram conta de mim.

Cravei meus dentes em seu pescoço sem pensar duas vezes, e quando senti o sabor doce de sangue tocando minha língua e descendo pela minha garganta, eu me senti tão bem que por um momento ignorei que estava consumindo a vida de uma pessoa.

Bebi até satisfazer minha sede, e quando parei, o rosto dela estava pálido e sem vida. Levantei assustada, surpresa, e olhei para minhas próprias mãos com desdém. Eu tinha me transformado em um monstro.

Eu não era mais eu. Eu era outra coisa, e a verdadeira Bella estava morta aos meus pés.

Acordei quase em um salto, mas pelo menos pude segurar a voz para não gritar. Olhei para o relógio que marcava 4h27min da manhã e voltei a me deitar. Não consegui mais dormir, então fiquei olhando para o teto enquanto refletia a merda que tinha sido a última noite de sonho que tive na vida. Nunca mais dormir, hein? Há quem ache essa ideia uma maravilha, mas na realidade é uma merda. Nunca dormir significa nunca descansar e nunca desligar um pouco o cérebro para esquecer um pouco os problemas.

Esperei até às 5h em ponto e me levantei. Fiz o café-da-manhã o melhor que pude, mas eu de verdade não sabia fazer muita coisa. Bolo de frutas. Meu pai se levantou não muito depois de eu terminar, e se por um lado fiquei um pouco incomodada por ele não ter acordado antes de mim para passar mais tempo comigo no nosso último dia juntos, por outro lado entendi que ele precisava descansar bastante para se recuperar de seus ferimentos.

- Bom dia, querida – Disse ele, assim que chegou na cozinha, e parecia com dor nas costas.

- Bom dia, pai. Dormiu de mau jeito?

Ele sorriu um pouco torto.

- Que bom que não perdeu seu senso de humor – Brincou.

- Bom, é meu último dia aqui, então quero deixar de lado a ideia de que minha vida chega ao fim hoje.

Seu olhar ficou pesaroso e seus olhos se fecharam por um segundo.

- Sinto muito... Foi tudo culpa minha.

Eu ofereci um sorriso simpático.

- Não é – Consolei-o. – Você fez de tudo para me salvar, e apesar de tudo, eu não poderia ter me sentido mais amada.

Ele virou o rosto para segurar o choro, e então deu um passo à frente para me abraçar.

- Eu amo você, Bella.

- Eu amo você, e fico feliz que você seja meu pai, e não o motoqueiro babaca que comeu minha mãe no banheiro de um bar.

Ele sorriu, mas teve mais sentimentos ali que orgulho por causa do meu comentário.

- Estava cozinhando? – Questionou.

- Sim.

- Bolo de frutas?

- Nada melhor para minha última refeição.

- Devia ter me acordado, eu ajudaria você.

- Quem sabe na próxima vez.

Seu olhar ficou pesaroso novamente. Não haveria uma próxima vez.

Nós nos sentamos e comemos, e como foi bom estar com ele no meu último dia. Foi simples, o bolo estava horrível, o café estava forte demais, mas foi a melhor refeição da minha vida.

Karma Konserta: CrepúsculoOnde histórias criam vida. Descubra agora