Part 2

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 – Como você acha que será ter uma família?

Bella vira a cabeça do ponto no teto que ela está olhando nos últimos vinte minutos. É uma mancha de água que se parece com uma girafa, e Bella está convencida de que a verá se mover se observar por tempo suficiente.

A menina de cinco anos ri quando vê Rosalie pendurada de cabeça para baixo ao lado da cama como uma pintura da vida real de Salvador Dali. Ela viu um no museu de arte que visitaram na semana anterior e está orgulhosa de si mesma por se lembrar dos relógios derretidos.

– Isso é fácil, Rose. Eu já tenho uma!

– O que?! - Rosalie imediatamente vira sobre seu estômago e se endireita, seu rosto incrédulo. Ou tão incrédulo quanto uma criança de sete anos pode ter.

– Você foi adotada e não me contou ?!

– Não boba! - Bella estende a mão e pega a mão da menina mais velha na dela, puxando-a para ficar de pé. Ela os leva até a escrivaninha minúscula em seu quarto compartilhado. Espalhadas pela superfície estão dezenas de imagens desenhadas em uma mistura de giz de cera, marcadores e lápis de cor; suas esperanças e sonhos ganharam vida em ousadas pinceladas de cor.

Naturalmente, as meninas aparecem em cada foto. Alguns são mais realistas. De mãos dadas em um parque. Fazendo um piquenique debaixo de uma árvore. Assistindo ao pôr do sol em uma praia distante. Outros estão enraizados na fantasia e nos sonhos. Uma princesa e seu cavaleiro lutando contra um dragão. Um pirata e uma sereia em alto mar. Exploradores intrépidos estudando as antigas ruínas de civilizações perdidas.

– Vê? – Bella aponta um dedo atarracado para a imagem de uma casa com uma cerca branca e dois cachorros no quintal. É um dos poucos que criaram juntos, suas assinaturas quase ilegíveis abrangem a borda inferior. O E no nome de Bella é invertido.

– Está bem aqui! É você, Rosie!

– Você está louca, Bells! – Rose bufa, não convencida.

– Não podemos ter uma casa assim.

– Nuh uh, eu não sou louca, e vou provar isso! Um dia seremos nós, eu prometo! Mesmo que eu tenha que construir nossa casa com minhas próprias mãos! Então você pode vir morar comigo quando terminar! Haverá uma brinquedoteca, uma sala cheia de máquinas de doces e até a nossa própria máquina de lavar na cozinha! Chega de lavar pratos à mão! - Bella exclama com entusiasmo desenfreado, pintando uma imagem em sua mente enquanto ela gesticula descontroladamente.

Ela sabe que é perigoso fazer promessas que não pode cumprir, mas a ideia de crescer com Rosalie é o suficiente para deixar de lado sua lógica e deixar sua imaginação correr solta. Isso, e ela vai dizer e fazer o que puder para fazer Rosalie sorrir. No ano em que eles estão dividindo um quarto, ela é a única na casa que pode fazer a loira sair de sua concha.

– Você não pode construir uma casa, boba! Você não sabe como. - Rosalie, sempre pragmática, responde em seu tom normal de costume, mas Bella pode ver o sorriso brincando no canto de sua boca.

Determinada a fazer sua amiga rir, Bella continua.

– Sim, eu posso e vou! Você vai ver! Eu sou mágica! - Rosalie levanta uma sobrancelha duvidosa enquanto Bella mexe seus dedos, lábios franzidos enquanto ela tenta manter sua expressão séria, mas ambos sabem que é uma batalha perdida. Logo as meninas estão rolando no chão fazendo cócegas umas nas outras e rindo incontrolavelmente.

A risada deles chega a um fim natural e elas ficam deitadas no chão, peitos minúsculos arfando enquanto recuperam o fôlego.

– E se ...- O tom de Rosalie fica pensativo mais uma vez. – E se você for adotada e me deixar primeiro? Como você vai construir uma casa para mim se você for embora?

– Pfft. Nós duas sabemos que você será a primeira a ser adotada. - Bella encolhe os ombros e cruza as mãos atrás da cabeça, sem se incomodar com o que ela estava dizendo. Este é um fato que ela aceitou há muito tempo. Rosalie é perfeita. Um doce rosto de querubim, cachos loiros soltos e olhos violetas marcantes. É um milagre que ainda estejam juntas.

No final, Bella está certa.

Uma semana depois Rosie foi adotada por uma família muito linda, ela está olhando para a sala meio vazia com apenas um punhado de desenhos, a memória dos gritos dela e de Rosalie quando elas foram separadas, e um milhão de sonhos do que poderia ter sido.

Ela olha para a imagem em suas mãos, seu coração sentindo coisas que ela não entende totalmente. Uma lágrima solitária pinga no desenho, manchando o telhado marrom da casa de seus sonhos.

– Um dia, Rose. Eu prometo.

Bella agora estava com seus dezesseis e continua no orfanato, ela ainda tinha uma caixa debaixo de sua cama e o mesmo quarto em que ela compartilhava com sua melhor amiga, ainda a noite ela chorava sentindo falta de Rosalie, numa mais ela tinham se visto, já tinha se passado cinco anos que se viram pela última vez.

– Bella – ela ouve uma voz que a chamava fora de seu quarto, ela desce as escadas correndo e indo para o lado de fora, mas tudo acontece rápido, parte do telhado cai em cima dela e algo acerta seu pescoço e sua cabeça, a última imagem é de um homem que corta seu pulso e da seu sangue para ela beber e dizendo que tudo vai ficar bem, e depois tudo isso ela só enxerga a escuridão.

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