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POV. Benjamin Parker

As vezes tinha, mesmo que ínfima, jogar o meu despertador na parede. Aquela foca azul não parava de tocar estridentimente. Na intenção de desligar aquele treco, para retornar a dormir, acabo batendo em algo. Não, melhor ainda, colidi com alguém. E mesmo sob os lençóis grossos acinzentados, que davam uma sensação de moleza descomunal, por serem tão aconchegantes. Reconheci a pessoa de cabelos compridos, com a tonalidade dos fios extremamente pretos, ao ponto de ser exorbitantes. Dono dos olhos castanhos mais bonito que já vi. Que dormia de barriga para baixo.

Tentei passar por cima dele, sem bater, para assim, desligar o despertador.

Minha visão ficou um pouco embaçada, após sentar depressa sobre as minhas panturrilhas. Até deduzi um possível desmaio, para se ter uma noção da situação.

Usei minha mão esquerda de apoio, assim que inclinei meu corpo, afundando minha mão espalmada no travesseiro.

Fechei os olhos contendo a tontura, mas logo levei um susto caindo por cima do garoto ao meu lado, assim que a voz de mamãe ecoou pelo local.

- Vamos! Levantem essa bunda seca de vocês - falou e senti a cama vibrar e fazer um barulho de mola. Suponho ser quando a mesma se jogou, mas assim, só uma suposição já comprovada.

Escutava resmungos baixinhos juntamente com um balançar desesperado. Ignorando seja lá o que for, utilizei minhas mãos, erguendo meu corpo e sentando em uma parte qualquer da cama. E diga-se de passagem, uma parte bem sólida a qual não sabia da sua existência.

Esfreguei meus olhos mais uma vez, sentindo as lágrimas florescerem com o descompasso frenético dos meus dedos.

Segundos depois abri os olhos, vendo a figura loira deitada com seu cotovelo no travesseiro, com a palma da mão aberta, sustentando sua cabeça. E como sempre, o sorriso genuíno dela transparência com ar de graça.

- Bom dia, meu amor. Você me pareceu assustado quando entrei - sua voz demonstrava uma falsa falta de conhecimento, em relação ao susto - o que houve?

Quando iria responder o som de algo se chocando com o chão repercutir o ambiente, exercendo sem consentimento um grito agudo concebido por mim. Odeio assustar-me.

Olhei por cima do ombro, pondo a mão no peito sentindo meu órgão cardíaco dançar. Vendo o objeto rodar no chão, senti um alívio por ver que se tratava apenas do despertador, que por pouco não teve sua quebra amaciada pelo carpete a centímetros de distância da onde girava.

Antes de continuarmos a conversar levantei da cama e paguei o objeto de foca, colocando ele no seu local de origem, desligado.

- Mamãe, a senho... - antes de concluir levei um susto, quando vi alguém deitado na cama tentar levantar - AHHH! - gritei, pegando o travesseiro, que presumo ser, o qual ele estava acomodando-se. Antes que a pessoa pudesse falar algo, acertei sua cabeça com o travesseiro.

Notando que o bicho ruim não ficou desnorteado, repeti o ato algumas vezes. A risada dele lembrava-me outra, mas talvez fosse pura coincidência.

- Para, Ben! - o ser de cabelos pretos proferiu, ainda rindo.

Como essa coisa sabia meu nome? Aliás, como conseguiu entrar aqui? Pois até onde sei, os únicos que estão aqui são meus pais e o... espera...

- CHAR! - berrei espantado, tinha esquecido dele.

Talvez o surto de mamãe tenha surtido um efeito de perca de memória. Na real, todos os holofotes foram todos direcionados a ela, com sua chegada "singela" no meu quarto.

- Além de tentar me matar asfixiado, agora empenhou-se com o travesseiro também? - sentou na cama, cruzando os braços parecendo um pouco atordoado.

Senti minhas bochechas quentes, pois eu quase matei meu melhor amigo. Mas ele não viu, já que manteve o olhar baixo.

As três ruas do bairro azul - Duologia Anoitecer - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora