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POV. Benjamin Parker

O silêncio dentro do automóvel prevaleceu após minha fala. E aposto que meus pais querem saber o motivo de ter-lhes contado isso. Não, melhor ainda, saber o que pretendo fazer amanhã, tão em cima da hora.

Um tempo depois o semáforo fica verde, mostrando que podemos continuar nosso percurso.

- O que pretende fazer? - mamãe perguntou quando saíamos da nossa rua, entrando tempos depois na de Char.

Ela virou seu corpo para trás, olhando-me atentamente. A espera de uma resposta.

O seu trailer era afastado de todos. No meio da mata, cercados, além das árvores, dos automóveis que seu pai consertava. Com trailers em grandes proporções que eram largados lá, por estarem danificados não servindo mais para consumo próprio. As estradas não são asfaltadas, o que dificultava um pouco a locomoção em tempos de chuva.

- Acho que ele ficaria feliz se fizéssemos alguma surpresa, não? - juntei as sobrancelhas, enruganda a testa, sem saber agora ao certo o que fazer.

- Mas para isso acontecer preciso que finja esquecer seu aniversário, certo? - mamãe continuou.

Fiquei um pouco apreensivo, pois eu era o único que lhe dava parabéns todos os anos. Tenho medo dele ficar chateado comigo, por tecnicamente esquecer do seu aniversário.

Mas eu lembro do seu dia, sempre vou lembrar.

- Tudo bem - disse depois de pensar bastante - vou fingir não lembrar - dou um sorriso melancólico.

Mamãe notou minha tristeza na fala e espressão. Deu-me um sorriso de conforto que, diga-se de passagem, funcionou com grande maestria.

Apenas retribui da mesma forma, com um pequeno riso ínfimo no final.

- Emma... - papai chamou nossa atenção, fazendo-nos focar nele - você acha mesmo que seu filho consegue passar um dia inteiro, sem em um determinado momento, soltar o que pretende fazer? - papai indagou pela primeira vez, ainda concentrado na estrada, sem desviar o olhar para nós.

- Ei! O que o senhor está insinuando, hein?! - cruzei os braços indignado.

- E por que usou o termo "seu filho"? Que eu saiba, não fiz ele só - mamãe também cruzou os braços. Arqueando uma sobrancelha.

Ele soltou uma risada um pouco contida, fazendo suas bochechas inflarem por prender o som.

- O uso do termo foi apenas para enfatizar que ele fala pelos cotovelos, como você. Capaz dele contar sem perceber, querida - papai falou com tranquilidade, após se recuperar - e para você, mocinho. Só uma palavra... - olhou pelo retrovisor interno - fofoqueiro. Igualzinho sua mãe - concluiu rindo, mas dessa vez sem impedimentos.

Mamãe mesmo tentando esconder, consegui ver pelo retrovisor o sorrisinho que desabrochava. Ela tentava reprimir com seus lábios, ao colidir-se seu superior com o inferior. Mas era impossível.

- Você fala isso, mas amava e até mesmo debatia comigo sobre as fofocas - olhou para frente, ajeitando-se sobre o banco - cínico!

- Voltando a real palta aqui... - papai tentou desconversar - pretende fazer o que, necessariamente, filho?

- Apenas um bolo, salgados, doces e refrigerante - olhei pela janela, vendo a escuridão sucumbir entre as árvores - ah! E um presente - concluo recordando do último utensílio, escorando minha cabeça no vidro.

- Sabe algo que ele gostaria de ter? - papai perguntou.

- Ele é viciado em futebol americano. Então, se for algo dentro desse tema, acredito eu, que ele ficará contente. Não? - perguntei olhando-o no canto de olho.

As três ruas do bairro azul - Duologia Anoitecer - Livro 01Onde histórias criam vida. Descubra agora