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Me encanto com a alegria que eles passam, sorrisos e risadas soltas e cheias de verdade, sem necessidade de fingir, eram livres e isso eu invejava deles.

Eny escrevia em seu caderno, onde continha seus segredos e confissões, onde anotava tudo que sentia e de certa forma ela ficava mais leve. Nessa tarde ela havia fugido para o vilarejo, coisa que já fez várias vezes, mas todas as vezes ela sempre se encanta.

— Daieny- não está pronta para o jantar, ainda nem tomou banho. — Disse Anastácia ao entrar.

— Irei tomar mãe, estou estudando, a senhora sempre diz que é bom saber das coisas, sempre ter bons argumentos, estou estudando para isso. — Fecha o caderno e o esconde debaixo de um livro.

— Não na hora do jantar, vá para o banho e não demore.

— Sim senhora.

A jovem princesa estava acostumada com falta de privacidade, sua mãe sempre quis se meter em seus assuntos, opiniões e sentimentos. Era como se ela fosse uma prisioneira dentro da própria família. Seu pai não a dava muito valor e importância, dizia que princesas deveriam cantar e serem bonitas, responsabilidades são para reis. Ele era um machista com um ego enorme, mas ela sempre tentava pensar em outras coisas. De fato ela cantava, mas ela amava fazer isso, sempre cantou e tocou o piano do palácio em festas e bailes reais. Ela achava esses eventos um saco, mas quando chegava a hora de cantar ela soltava sua voz com prazer e um sorriso encantador.

Ao terminar o banho, foi para a sala de jantar, onde estavam seus pais e seus dois irmãos, Carter, o irmão mais velho e Maximilian, ou como gostava de ser chamado, Max, seu irmão gêmeo. Ela tinha um relacionamento bom com eles, diferente de seus pais, eles se importavam com o que ela sentia e queria.

— Eny, convenci a mamãe a deixar fazerem nosso prato favorito. — Max disse alegre.

Eny sorriu, ela sabia que sua mãe não havia feito isso por ela, nem sequer pensou, ela não sabia que era seu prato favorito também, ela não sabia de nada. Sua cor favorita, sua comida, sua fruta, do que gosta, a rainha Anastácia sempre determinava por conta própria, nem se dava o trabalho de perguntar, ela gostava de ter o controle.

— Daieny, os cotovelos, tenha modos! — Anastácia a repreendeu.

— Desculpe, mãe. — Consertou sua postura e respirou fundo.

Eny gostava de olhar seu irmão mais velho sempre que sua mãe fazia isso, ele a olhava com carinho e admiração.

COMO PÔDE FAZER ISSO?! TEM IDEIA DO QUE FEZ?! — Anastácia gritava furiosa. — Você não podia se comportar dessa maneira, uma princesa tem que ser uma dama!

Mas-

Sem mas, você tá de castigo! O que a duquesa vai pensar de nós agora? Você só me tráz dor de cabeça Daieny! — Ela saiu gritando e reclamando.

Eny então começou a chorar, silenciosamente, Carter entrou no quarto e quando ela viu se virou.

O que faz aqui? A mamãe vai brigar com você e comigo, estou de castigo, não ouviu? — Ela secou suas lagrimas e se virou de volta, então ele a abraçou.

Por favor não chore.

Não faria isso na sua frente.

Não ligue para o que ela diz, você estava certa. — Separou o abraço e a encarou tranquilamente.

Não estava, não deveria ter feito o que fiz.

Ele tocou em você, contra a sua vontade, você apenas se defendeu. — Ela abaixou o olhar envergonhada, ela lembrava da cena.

Foi só um beijo e ele tocou no tecido do vestido.

Mesmo assim, ele estava errado.

Do que adianta agora? Já aconteceu.

Aconteceu e você agiu certo, você foi forte e está sendo agora, sempre que vejo a mamãe te dar sermão você aguenta tudo e depois age plenamente como se nada te abalasse.

Mas abala! — Finalmente, ela se sentiu aliviada ao deixar aquela lágrima cair. — Você não vê, o Max não vê, ninguém vê, mas abala e doi, doi muito.

Eu sei, mas você aguenta, você é a pessoa mais forte que conheço, será uma grande rainha um dia.

Essa lembrança era dolorosa e reconfortante, deixava-a mais forte e confiante, para jantares como esse era necessário ter paciência. O rei Robert falou sobre seus assuntos políticos e suas batalhas antigas. Era sempre a mesma coisa.

Após o jantar, Eny foi para seu quarto e ficou pensando sobre tudo que havia acontecido em seu dia, estava ansiosa para voltar ao vilarejo e ter um pouco de alegria em sua vida fora do castelo. Na manhã seguinte, acordou cedo, como de rotina, e fez suas tarefas, tomou café da manhã com seus irmãos, estudou, fez seu treinamento de arco e flecha, embora essa tarefa seja questionada pela rainha, e por fim suas aulas de música, a parte que ela mais gosta. O resto de seu dia seria livre e ela aproveitaria parar ir ao vilarejo. Sua mãe estaria, como sempre, aproveitando a tarde com as duquesas, outras rainhas e princesas, que são amigas dela.

Eny, vestiu um vestido simples, saiu de fininho pelos corredores e sorrateiramente entrou no estábulo.

— Olá Andy. — Cumprimentou seu belo cavalo. - Está pronto para mais uma aventura?

Ela montou nele e saiu cavalgando a caminho do vilarejo. Ela amava essa sensação, sentir o vento no seu rosto, uma sensação de liberdade. Ela passava por um caminho na floresta, não usava a estrada para evitar de ser seguida. Quando finalmente chegou, deixou seu cavalo no estábulo do vilarejo e foi em direção à casa de sua amiga Amélia.

— Eny! — Amélia a abraçou. — Deveria ficar mais no castelo, está vindo todos os dias aqui.

— Gosto de vir aqui Lia, sinto-me presa no castelo.

— Meu irmãozinho passou a noite toda perguntando de você, ele não parava de falar da princesa gentil e bonita.

— Crianças são incríveis.

— Eu não concordo, o Izac vive me batendo e gritando comigo.

— Os irmãos são assim, mas as crianças são uns amores. — Eny sorria ao falar das crianças do vilarejo.

Ela amava as crianças de lá, brincava, corria e as alegrava. Ela se tornava uma criança, não no sentido literal, mas seu espirito se transformava. Ela e Amélia passaram um tempo conversando e caminhando pelo vilarejo, Eny olhava cada canto admirando com alegria o ambiente agradável. Uma hora ela simplesmente parou, como se tivesse visto a coisa mais extraordinária do mundo. Seu coração acelerou e o mundo a sua volta não importava mais, ela não ouvia mais nada além daquela bela garota dizendo: Flores! Comprem lindas flores!

A Princesa e a Menina da FlorOnde histórias criam vida. Descubra agora