Capítulo Um

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Joohyun não estava exagerando quando nomeava 2016 o pior ano de toda sua vida, desde então as coisas só desandavam.

Era dezembro de 2016 e a jovem, que na época tinha seus vinte e um anos, faria sua primeira apresentação como protagonista, no balé. A peça era também a favorita de Joohyun, o lago dos cisnes. Tudo que tinha pra ser uma noite maravilhosa acabou por ser o pior acidente em palco daquela região. A peça nem tinha começado direito, quando um dos refletores que estavam no palco despencou bem em cima da principal da peça. Seus olhos curiosos paralisaram junto com seu corpo ao olhar o mesmo caindo lentamente sobre si, uma tragédia.

Seu corpo, por sorte ou milagre não teve mais que alguns arranhões, mas seus olhos... Joohyun se lembra com clareza quando abriu os olhos e não via nada além da escuridão. Já seus pais se lembram perfeitamente do grito muito que audível, e também agudo que ouviram de sua filha aquele dia.

2016 foi sim, com toda certeza, o pior ano da história daquela família e pra Bae, que era filha única, os anos seguintes também não eram de ser passados pra trás, sua vida agora era miserável e terrível, e ela a odiava.

O senhor e a senhor Bae levaram a unica filha que tinha para todos os especialista daquela região, todos diziam a mesma coisa, Joohyun precisava de córneas novas, mas em todos esses anos não havia uma pessoa sequer que lhe concedesse o direito de receber o órgão de seu ente querido depois de sua morte.

A garota estava sem esperança agora, mesmo que não tivesse se passado tanto tempo assim desde o acidente, Joohyun não tinha esperança de que poderia ver novamente. Tentou lidar com isso de uma maneira menos dramática, mas era difícil para uma mulher de agora vinte e seis anos, que antes fazia tudo sozinha e era, com tanto orgulho tão auto suficiente, assumir que agora precisaria de outras pessoas vez ou outra, que talvez tivesse que se acostumar com sua nova triste realidade. Joohyun queria morrer.

- Não é possível que todo dia morra alguém e ninguém seja capaz de fazer uma doação de córneas! - Ríspida. Muito ríspida era a forma que a Bae falava com a enfermeira, não que a mulher tivesse culpa do mau humor diário da mulher à sua frente, mas estava sendo descontado na pobre coitada mesmo assim.

- BAE JOOHYUN! - Sua mãe, como sempre, chamava atenção de sua menina, a senhora entendia o lado da filha, não imaginava como poderia ser difícil estar naquela situação, mas tratar os outros mal daquela forma? Ainda mais pessoas que só estavam ali para ajudar.

- O que? E não é verdade? É só roubar um par de olhos depois que enterrarem a pessoa, ou até antes, ninguém vai perceber. - Mais uma vez a voz sem paciência de Joohyun foi ouvida na sala.

Sua mãe que ja estava cansada de ouvir tantos absurdos vindo da garota achou que era melhor sair dali antes que a enfermeira resolvesse que Joohyun não iria ser ajudada.

- Me desculpe, ela geralmente não é assim. É que.. é difícil sabe... Tanta espera. - A mais velha sorria totalmente sem graça para a garota de jaleco a sua frente, tentando amenizar a situação, enquanto ajudava sua filha a se levantar antes de deixar a sala.

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- Se continuar agindo assim as pessoas vão achar que você não merece ser ajudada. - Já em casa, cobrindo sua filha que já estava deitada, a mãe aconselhava sua menina.

Joohyun ignorou a fala da mulher como o esperado.

- Seu pai e eu conversamos.. - A mulher continuou - Você deveria ir para a reabilitação. Nós procuramos por alguns lugares e parecem bem acolhedores, e também tem poucas pessoas e...

A mulher foi cortada pela sua filha mal educada.

- Eu não preciso ir para um lugar idiota e ouvir sobre pessoas idiotas e suas vidas desprezíveis. Isso não vai me ajudar em nada!

- Pois eu acho que te faria bem, falar com pessoas que sabem exatamente o que você está passando. Nós fomos a um lugar hoje, vimos pessoas deficientes visuais como você e cadeirantes também.

A mulher acariciava a cabeça de sua filha, tentando transmitir toda a calma possível, queria mesmo que Joohyun tentasse dessa vez.

- Você poderia fazee um teste. - Continuou. - Apenas um dia, tentando de verdade. O que você me diz?

A mulher não teve resposta, mas sabia que não era um sinal ruim, geralmente quando Joohyun mordia o cantinho de seu lábio inferior era porque ela estava cogitando a idéia e isso era motivo suficiente para fazer sua mãe ter um sorriso largo nos lábios agora.

- Tudo bem, um dia. Eu posso fazer isso por você.

Foi a resposta. E sua mãe soltou um suspiro aliviado, fazia um tempo que tentava fazer sua filha frequentar a reabilitação, achava que faria muito bem para a menina, e ela não poderia estar mais certa.

Just wanna see you - SeulreneOnde histórias criam vida. Descubra agora