Capítulo Quatro

930 138 49
                                    

- Ela é muito inteligente, você que ensinou tudo isso a ela? - Joohyun perguntava a Seulgi sobre sua irmã saber como responder todos os problemas matemáticos simples que a Kang lhe perguntava.

- Sim, eu tento ensinar o básico de matemática e coreano pra ela, mas quando as contas ficarem difíceis eu provavelmente irei parar. - Seulgi riu culpada e Joohyun riu com ela.

- Ela nunca foi à escola? - Perguntou a Bae. - Você sabe que existem escolas especiais para crianças como ela, não sabe?

- Eu sei. Já procurei, mas era caro demais pra que eu pudesse pagar. Procurei por escolas públicas, mas a única que tinha perto fechou.

- Eu poderia te ajudar com isso, seria um presente pra Yeji. Ela é muito inteligente e eu percebo a animação dela quando está tendo "aulas" com você.

Sim, Joohyun participou de algumas aulinhas improvisadas que Seulgi deu a sua irmã, em alguns casos até a ajudou com a aluna.

Acontece que o que era pra ser três vezes por semana, com a chance de parar na primeira semana, virou um mês inteiro. Joohyun havia ido todos os dias durante aquele mês para a reabilitação e isso era o maior record de sua vida. Seus pais obviamente estavam orgulhosos de sua filha mal humorada. Que também não estava mas lá tão mal humorada assim, na verdade Joohyun estava feliz até. Era estranho para os pais da garota a verem sorrindo do nada e conversando animada sobre sua nova amiga e a irmãzinha dela, mas era bom. Joohyun estava feliz, seus pais estavam feliz também.

- Você já ajuda bastante, e obrigada por isso, algumas coisas eu não ensinei a ela por que não sabia como e você conseguiu fazer parecer fácil. - Seulgi dizia, segurando as mãos de Joohyun enquanto acariciava elas.

- Não precisa agradecer por isso, mas é que não é bem isso que eu tô falando, Seulgi. Posso falar com meus pais e, com sua permissão claro, matricular a Yeji em uma escola especial pra ela. - Joohyun Concluiu.

E assim Seulgi entendeu o que a Bae queria dizer.

- Não! - Disse balançando suas mãos no ar como se a outra pudesse ver. - Não precisa, de verdade. Eu agradeço, mas é muito. Não, não. Eu não posso aceitar uma coisa assim.

Joohyun tentava recuperar as mãos de sua amiga no ar, mas sem sucesso, então Seulgi facilitou o trabalho dela segurando suas mãos por conta própria.

Fazia frio aquele dia, e Joohyun tinha mãos geladas demais, Seulgi estava ajudando a esquentar.

- Não seria um incomodo pra mim ajudar você e a Yeji, eu acho que ela merece ir à escola como as outras crianças da idade dela, eu entendo se você não quiser, mas se mudar de idéia, pode falar comigo tá bom?

Seulgi sorriu, era uma pena que Joohyun não pudesse ver aquele sorriso, ele é realmente lindo.

- Tudo bem. - Respondeu por fim se levantando e em seguida ajudando a outra. - Vamos entrar, tá ficando frio demais aqui. 

--

- Joohyun temos uma ótima notícia pra você. -  Em casa, seu pai era quem falava agora.

- Ótima notícia ou alguma coisa que eu vou esperar ansiosa e me decepcionar? - Essa foi a resposta que a garota deu a seu pai.

- Uma coisa boa pra gente. - Seu pai continuou. - Conseguimos uma pessoa para doação. É uma mulher, ela é uns anos mais nova que você e estava internada até ontem, mas teve morte cerebral essa noite, então tudo indica que conseguimos uma cirurgia pra você.

- Isso não é errado? Torcer pra alguém morrer? - Joohyun concluiu, terminando seu jantar.

- Não contamos pra você antes justamente pra não ter esse tipo de coisa. (considerando que a Joohyun de um mês atrás certamente torceria pra pessoa morrer) Acontece que ela piorou essa noite e os pais já autorizaram a doação caso o pior aconteça.

- E quanto vai ser? - Perguntou Joohyun.

- Dez mil dólares, mas você sabe que dinheiro não é problema, o que importa é você vendo novamente.

- Nossa! Na Coréia? - Mais um questionário por parte da filha.

- Nos Estados Unidos. Você terá olhos de americana. - A senhora Bae respondeu.

- Ohos azuis? - Bae perguntou.

- Não. A Rachel tem olhos castanhos. Pedimos que não fosse olhos claros por você ser asiática.

- Ótimo, não quero Bullying. - Joohyun sussurrou mais pra si mesmo.

- Vamos comprar as passagens hoje, só queríamos que você soubesse antes. - A mãe falou.

- Eu queria saber... - Joohyun interrompeu sua pai que já estava com o notebook aberto no site onde compraria as tais passagens. - Tem algum problema se uma criança receber os olhos de um adulto? 

- O que isso quer dizer? - Sua mãe perguntou. 

- É que eu conheci uma menina na reabilitação, ela é cega de nascença, eu acho que seria meio injusto querer ver de novo mesmo sabendo que ela nunca teve essa oportunidade.

Joohyun concluiu e seus pais se entre olharam dando sorrisos satisfeitos. Não era como se aquilo não fosse de se esperar de Joohyun, ela era uma pessoa boa apesar do jeito meio, vocês sabem, mal humorado. Mas eles sabiam como a garota esperava por essa cirurgia em todos esses cinco anos, e eles acompanharam toda a dor da única filha que tinham depois daquele acidente. Então a ouvir dizer que queria abrir mão dessa oportunidade por causa de uma outra pessoa que ela havia acabado de conhecer, mesmo que fosse uma criança, era sim algo muito emocionante, tanto que sua mãe tinha lágrimas nos olhos.

- Eu posso perguntar aos médicos, mas acredito que não tenha problema. Tem certeza que é isso que você quer? Pode demorar bastante pra conseguir outra cirurgia, você sabe. - Já que sua mãe estava impossibilitada de falar graças ao choro mudo que tinha agora, seu pai questionou.

- Sim, eu tenho certeza. Por favor veja se está tudo bem e dê essa oportunidade pra ela. - Joohyun hesitou um pouco antes de continuar. - Eu só queria que ninguém soubesse que foi uma cirurgia paga, ou quem doou. Tudo bem por vocês? - Finalizou.

- Por nós tudo bem, é sua decisão e respeitamos. Quantos anos ela tem mesmo? - Perguntou o homem que se preparava para ligar para o doutor dos Estados Unidos.

- Ela tem sete anos. - Respondeu a menor e esperou a conversa acabar. - E então? - Questionou quando percebeu seu pai finalizar a ligação.

- Parece que uma garotinha vai receber olhos novos. - Foi a resposta do homem, que pode ver sua filha sorrir em resposta. - Vou conversar com a doutora Jihyo e agitar as papeladas para o transplante.

Just wanna see you - SeulreneOnde histórias criam vida. Descubra agora