Naquela época: 17 anos

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Noah

CARA SINA,

(Esta é uma mensagem de trégua)

Seu professor de Arte me perguntou por que perdeu aula nas duas últimas semanas. Não sei se quer que eu diga a ele que  está  gastando  isso  no  hospital  com  sua  mãe,  então inventei  uma  mentira.  Lhe  pedi  suas  tarefas  de  casa.

(Perguntei a todos os seus outros professores também).

Coloquei tudo na sua caixa de correio.

Atenciosamente,
Noah

* * *

CARA SINA,

(Esta é outra mensagem de trégua)

Sua pintura,  I Hate Him, ganhou o primeiro lugar na feira de arte do estado no fim de semana. (Pensei que você tivesse dito que tinha terminado de me pintar com facas no peito?) E  já  que  estava  lá,  desde  que  ganhei  o  concurso  de redação, então disse a eles que morava ao lado de você, e me deixaram  aceitar  a  fita  azul  e  o  prêmio  em  dinheiro  em  seu nome.

Não quero colocá-lo em sua caixa de correio, então vou mantê-lo na minha mesa.

Deixe-me saber quando quer que eu leve isso.

Atenciosamente,
Noah

* * *

CARA SINA,

Sinto muito pela morte de sua mãe.

Atenciosamente,
Noah

* * *

AMASSO  MINHA  CARTA  e  jogo  através  da  janela  de Sina.  Ela  pousa  em  sua  mesa,  bem  em  cima  de  todas  as outras cartas que joguei.

Quando sua mãe foi diagnosticada com câncer de estágio quatro meses atrás, Sina se recusou a acreditar. Ela saia de sua  casa  e  subia  para  o  meu  quarto  toda  vez  que  sua  mãe começava  a  dizer  coisas  como:  “Quando  eu  for  embora, certifique-se  de...”  ou  “Quando  for  você  e  seu  pai,  não  se esqueça de...”

Ela estava convencida demais de que sua mãe iria vencer isso, e não queria ouvir.

Mesmo  que  meus  pais  (e  muitas  outras  pessoas  da vizinhança) quisessem ser esperançosos, se prepararam para o pior.

Sina foi a única que não fez.

Desde  o  funeral,  ela  se  senta  no  chão  do  quarto, chorando.
Sua família desfilou panelas e flores pela porta da frente durante  as  duas  primeiras  semanas,  acenando  para  mim enquanto eu olhava, mas finalmente pararam de aparecer.

Joguei toneladas de cartas pela janela, dizendo o quanto lamentava, perguntando se ela precisava de alguma coisa, mas nunca me jogou de volta.

Os poucos amigos que ela tinha na escola (Bem, 'colegas de classe', uma vez que ela não tem amigos de verdade), nunca pararam em sua casa para ver se estava bem, e pelo que posso dizer,  eles  nunca  ligaram  ou  mandaram  cartas. 

Quando confrontei  uma  de  suas  companheiras  de  arte,  para  ver quando estava planejando visitá-la, ela disse: “Por que Sina não pode me visitar? Quero dizer, ela é uma garota muito dura. Tenho certeza de que não está chorando sobre algo assim por todo esse tempo, certo?”

Levantando-me  da  minha  mesa,  decido  que  é  hora  de parar de esperar por Sina me escrever de volta. As flores de simpatia em sua varanda estão morrendo, e ela e seu pai não saem de casa nunca.

Esqueça me, Noah Onde histórias criam vida. Descubra agora