Capítulo 1

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Eu poderia começar essa história com um milhão de jeitos clichês que poderiam fazer tudo isso parecer algum drama adolescente, mas como eu não fui jogado na lata de lixo pelo amor da minha vida (pelo menos não por maldade, eu acho), irei contar exatamente o que aconteceu naquele ano de 1998.


— Por conta dos incidentes das outras tarefas, antes de explicar os temas para vocês, irei separá-los em duplas.
Reclamações encheram a sala naquele momento, até porque aquela professora em todos esses cinco anos que havia dado aulas para nossa turma, jamais havia nos privado de nós mesmos escolhermos nossas equipes.
As reclamações de toda a turma não fizeram com que a professora mudasse de ideia, então apenas pediu silêncio para poder anunciar às duplas.
Foram alguns minutos até que meu nome fosse anunciado junto a Zhang Yixing, o chinês que arrancava suspiros das garotas, mas também o mesmo que ninguém ousava chegar muito perto.
Yixing não era mau, todos sabíamos disso, mas também sabíamos que ele mesmo assim não seria uma boa influência, mesmo que não quisesse nos prejudicar.
Eu não queria entrar jamais no grupinho do Zhang, eu queria continuar dando orgulho para minha mãe, e foi pensando nisso que eu mal reparei quando o garoto parou ao lado da minha mesa.
— SeHun?
— Hum? Oi, Yixing...
— Se você tá com essa cara porque acha que eu vou te largar fazendo o trabalho sozinho, pode ficar tranquilo, porque eu vou fazer.
— Claro que não, Yixing, é que... — falei, logo me arrependendo. Como eu iria falar que eu tinha medo de que ele me drogasse?
— SeHun, eu não tenho como te levar pro mau caminho se eu nem sei como vim parar nele — ele falou simples e sentou-se na cadeira da frente que agora estava vazia. — Quando a gente terminar esse trabalho, você se livra de mim e pronto, só relaxa.
Depois disso, eu concluí que Zhang Yixing era, com certeza, a pessoa mais tranquila do mundo.

Havia passado algum tempo desde que eu saí da casa de Yixing, agora estava na frente de casa, tentando achar a todo o custo a chave para que eu pudesse entrar. Claro que alguém como eu teria algo para atrapalhar, pois bem, eu tinha uma tempestade e pais viajando.
Eu já tinha revirado aquela mochila pelo menos umas três vezes e já estava quase revirando uma quarta vez quando me lembrei de que a chave estava no meu estojo, e eu havia o esquecido na casa de Zhang Yixing.
Provavelmente devo ter xingado todos os palavrões que eu conhecia enquanto caminhava em meio a aquela tempestade, havia uns bons minutos de caminhada entre a minha casa e a do Zhang, e isso me faria odiá-lo mesmo que não fosse culpa dele.
Ao chegar na casa do chinês somente era possível ouvir um barulho alto, provavelmente sua festa já havia começado e ele com certeza não ouviria a campainha, então resolvi entrar sem aviso, logo me deparando com uma grande quantidade de pessoas na sala. Nenhuma delas reparou que eu havia entrado, estavam muito distraídas, ou talvez bêbadas demais pra se preocupar.
Eu tentei procurar por Yixing, mas ele mesmo acabou me achando ao esbarrar comigo na cozinha.

— Sehun? Você tinha me dito que não queria vir, mudou de ideia?
— Eu só vim pegar o estojo que eu esqueci e...
— Eu ia te levar o estojo na segunda, Hun.
— O problema é que minha chave de casa tá nele...
— Ah, entendi. Seu estojo tá no meu guarda-roupa, deixei lá pra ninguém pegar, só subir.
— Obrigado, Yixing — falou antes de correr de volta para a sala.
Subi aquelas escadas correndo, queria pegar logo minha chave e voltar para casa, não estava afim de ir para uma festa de "gente sem futuro" como meu pai normalmente diria.
Adentrei o quarto do Zhang na maior rapidez possível, logo abrindo a porta do guarda-roupas dele para procurar meu estojo.
— Por acaso o Lay deixou você mexer nas coisas dele desse jeito? — uma voz desconhecida soou pelo quarto e então eu me virei enxergando imediatamente um rapaz ruivo que parecia ser um pouco mais velho que eu. — Ah, você é o moleque do estojo, tudo bem então.
Sorri fraco para ele que nem ao menos se importou em sorrir de volta, apenas voltou a debruçar-se no beiral da janela e tragou o cigarro que pendia entre seus dedos.
Eu mal me importei em ter sido ignorado, voltei imediatamente a procurar meu estojo entre a bagunça do chinês, logo o encontrando, então guardei-o na mochila que logo foi ao meu ombro, preparando-me para ir embora.
— Mas eu acho que você não deveria voltar pra casa agora — o ruivo desconhecido alertou, virando-se para me olhar. — Está chovendo muito pra você ficar andando por aí.
— Eu não vou ficar nessa festa.
— Então fique aqui.
— Não vou ficar trancado num quarto com um desconhecido.
— Sou Byun BaekHyun, tenho dezenove anos, último ano do ensino médio e não drogo crianças indefesas — apresentou-se rapidamente e de forma não tão amigável.
— Não vou ficar trancado num quarto com Byun BaekHyun.
— Você quem sabe. Se eu fosse você ficaria aqui até a chuva passar, mas já que prefere se molhar e ficar doente, fique à vontade.
— Você me convenceu... — murmurei jogando minha mochila no chão, sentando-me na cama imediatamente.
— Eu sou bem convincente — riu baixo, voltando a tragar o cigarro logo depois.
Eu não sabia por que estava ali observando BaekHyun, nem ao menos o conhecia, mas de alguma forma havia algo nele que deixava-me especialmente curioso e prendia-me por lá, um lugar onde eu nem deveria estar.
— Você ainda não disse seu nome.
— Ah... É SeHun, Oh SeHun.
BaekHyun assentiu silenciosamente e permaneceu assim por vários minutos, sem mostrar o mínimo interesse em puxar assunto, e isso deixava SeHun intrigado, fazendo com que constantemente olhasse para o ruivo esperando algum tipo de contato.
— Eu sinto seu olhar sobre mim, SeHun — BaekHyun falou simples, apagando o cigarro no beiral da janela e logo jogando a bituca para longe.
— Desculpa.
— Eu não me incomodo com isso, seu olhar mostra o interesse em mim — não pude evitar minha expressão assustada e então o Byun riu levemente. — Não necessariamente esse interesse. Quer conversar?
— Por que você tá aqui?
— Simplesmente não quero ficar lá embaixo, não hoje... — o ruivo murmurou e logo se levantou vasculhando as fitas cassete que Yixing deixava em uma pilha bagunçada ao lado de seu toca-fitas aparentemente recém comprado. — Gosta de Queen, não é?
— Conheço pouco, mas pode colocar se quiser.

— É, garoto, acho que você precisa de um pouco de música boa.

Era extremamente estranho para mim estar praticamente preso num quarto com alguém como BaekHyun, e eu já estava aterrorizado ao imaginar o que este cara poderia fazer comigo, ou pelo menos o que meu pai poderia descrever, mas de certa forma BaekHyun não parecia tão ruim.

— Olha, eu não sei o que você quer comigo, mas eu sinceramente não estou afim, BaekHyun...

— SeHun, eu não vou fazer nada — BaekHyun riu. — Eu tenho namorado.

Eu definitivamente não esperava por isso, mas apenas ri envergonhado e assenti, ainda observando o ruivo procurando uma fita que o interessasse.

— Se tiver Nirvana... — sugeri receoso, pensando na primeira banda que me veio à mente.

— Você não tem cara de quem gosta — o ruivo falou com um sorrisinho, logo pegando uma das fitas e a colocando no aparelho e, enquanto isso, eu rezava para que o Byun não fizesse nenhuma pergunta sobre a banda, porque ele realmente tinha razão sobre eu não aparentar gostar. — Droga, eu amo essa música...

— Qual é o nome dessa mesmo? — a pergunta me escapou, ainda que de forma tímida, e então o mais velho me encarou de forma incrédula. — O que foi? Eu não me lembro.

— Come As You Are, SeHun — o riso do Byun apenas entregava que a máscara deste pobre garotinho exemplar havia caído, e eu nem ao menos sabia onde enfiar minha cara. — Não precisa ter vergonha, você não é obrigado a conhecer.

— Me desculpa...

— Sem problemas — BaekHyun sentou-se no chão a minha frente, batucando o ritmo da música em suas pernas cobertas pelo jeans rasgado. — Mas você gostou do estilo? — e então eu balancei a cabeça confirmando. — Vou te mostrar mais então, quer dizer, se você ainda aceitar falar comigo depois de ter ficado trancado nesse quarto.

E então eu ri, pensando no quanto estava aterrorizado ao entrar naquele quarto com ele e em como isso estava mudando em menos de 10 minutos de nossa conversa.

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