Capítulo 14 - De Volta Pra Casa.

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Ouve-se batidas secas numa porta de madeira de uma simples casa pequena. Dione esperava do lado de fora com pressa e cansado, carregando nas costas uma mochila suja e surrada aparentando ter vindo de uma guerra. Bateu outra vez esperando que o atendesse logo.

__ Quem é? - Perguntou a voz feminina do outro lado que lhe era familiar. A Jovem garota de cabelos loiros escuros, de short curto jeans desfiado parou de varrer o chão se concentrando em ouvir.

__ É o seu namorado. - Respondeu com uma seca ironia descansando as mãos nas alças da mochila. A menina revirou os olhos por trás da porta conhecendo aquela voz.

__ Ai papai, deixa de ser bobo! - Soltou a vassoura e apressou para perto da porta a abrindo.

__ Teria ficado mais feliz se fosse? - Perguntou a olhando de sobrancelhas levantadas. A menina franziu os lábios um tanto incomodada, mas nada que não pudesse lidar.

__ Eu não tenho namorado. - Disse como se já tivesse repetido aquela mesma frase diversas vezes para ele. Dione atravessou a porta enquanto a garota voltava a pegar a vassoura.

__ Claro que não. Você ainda é muito nova pra essas coisas. - Advertiu. A menina parou com a vassoura em mãos e estreitou os olhos.

__ Quer dizer que tenho 17 anos e não posso namorar? - Dione encaminhou-se para a cozinha e colocou a mochila sobre a mesa, não respondeu a filha de cara, ligou a bica da pia e começou a lavar as mãos que estavam bem sujas.

__ Na minha perspectiva, não. - A filha balançou a cabeça como se estivesse reprovando aquele pensamento do pai. Quer dizer, tinha quasse 18 anos e ele ainda a tratava como uma garotinha?!

__ Você está horrível! Em que se meteu? E essas manchas? Parecem sangue! - Indagou sem fim entre caras e bocas, mudando o rumo da conversa, mas realmente quis saber o que havia acontecido.

__ Digamos que tive que lutar com a morte essa noite. - A respondeu resumindo tudo o que lhe havia acontecido. Se recostou na pia e cruzou os braços.

__ Parece que ela lhe deu trabalho. - O respondeu percebendo que o pai não queria entrar em detalhes. - Por isso demorou tanto? Me deixou aqui arrumando toda essa bagunça sozinha! Muito injusto. - Reclamou lembrando de como estava bem pior no começo da mudança. Dione aproximou-se da filha que ainda estava com a vassoura em mão e a tirou deixando encostada na parede. Tocou a menina com carinho e beijou-lhe a testa.

__ Me desculpa, querida! Foi por uma boa causa. - O olhar da filha foi compreensível. - Tenho uma surpresa pra você. - Ele abriu um largo sorriso como se aquilo o fizesse tão feliz quanto faria a ela.

__ Uma surpresa? - Seus olhos brilharam ao ouvir o pai demonstrando grande interesse.

__ Sim. Está na mochila. Vai lá! Abra e descubra. - Respondeu fazendo mistério. A jovem se aproximou da mesa onde estava a mochila, mas antes de abri-la olhou para trás onde o pai estava parado em pé, esperando para ver a reação da menina.

__ Se for mais uma de suas brincadeiras você vai se ver comigo. 一 O avisou com desconfiança.

__ Não é. Abra logo. Você vai pirar quando ver. - Disse o homem já abrindo a geladeira e procurando algo para comer. A menina empolgada começou a puxar o zíper e Dione pode ouvir o som devagar revelando a grande surpresa para a filha, o fazendo sorrir por poder fazê-la feliz. Não encontrando nada pronto pegou uma garrafa de água bem gelada e a abriu com a ajuda da blusa, já que estava bem dura para desenroscar.

__ Ah!!!! - A jovem soltou um grito de pânico e se afastou da mesa. - O que significa isso?! - A voz tremia com pesar enquanto ela ainda dava curtos passos para trás. O homem continuou de costas para ela achando ser só mais um drama de menininha.

__ Meu Deus! Eu não acredito! como você foi capaz?! - As lágrimas já chovia como uma tempestade e a voz embargava um pouco mais. Dione largou a porta da geladeira e olhou para a garota de costas, confuso e sem entender o que estava havendo.

__ Marina, o que foi filha?! - Bebeu um gole da água mas a segurou na boca ao ver o estado da filha ao se virar. A face tampada de lágrimas rolava pelo queixo e se quebrava em seus pés. Horrorizada e angustiada o mirou com repulsa e cerrou os punhos.

__ Como foi capaz de fazer isso comigo! - Gritou e desabou ainda mais. Dione a empurrou para o lado ganhando passagem. Quando enxergou a mesa, um líquido viscoso e grosso escorria pela madeira, seguiu um pouco mais o rastro e viu que vinha de dentro da mochila. Então sentiu um gosto forte de ferrugem dentro da boca, olhou para a garrafa e viu aquele mesmo líquido vermelho que escorria da mesa. Cuspiu tudo com nojo e soltou a garrafa que se quebrou, derramando o líquido no chão.

O que estava havendo? Pensou. O que fez de errado que havia feito sua menina chorar tanto ao ponto de parecer odiá-lo. Não! Não estava nada certo. Dione se aproximou cuidadosamente da mochila e a abriu e foi ali que descobriu o porquê do desespero da filha.

A cabeça de sua esposa, que não viam há muitos anos, estava lá dentro. E subitamente ela abriu os olhos e a boca gritando insuportavelmente como uma buzina, o fazendo despertar assustado e ao mesmo tempo aliviado ao saber que tudo não passara de um sonho.

Abrir os olhos em meio à escuridão da noite o provocou um movimento de sobressalto quase o fazendo cair do mesmo. Aquele despertar tão repentino o deixou assustado. O coração ainda pulava dentro de si como se tivesse realmente vivenciado a cena. A respiração era tão ofegante que queimava a garganta e o suor que banhava seu corpo denunciava o quanto ficou abalado.

Tentou regularizar a respiração, aliviado ao saber que tudo não se passou de um sonho terrível. Tão cheio de realismo que parecia sentir o cheiro da morte à sua volta. Não era a primeira vez. Mas, era sempre tão assustador como se fosse. Aqueles olhos, aquele grito andavam o acompanhando como se fossem sua sombra.

Olhou para frente e viu que o ônibus que precisava pegar estava indo embora e então entendeu o som de buzina. Dione saltou num pulo pegando sua mochila e correndo atrás do mesmo.

__ Ei! Espera aí! - Balançou os braços com euforia na direção do retrovisor que acreditou que o motorista o veria, e percebendo que não parava voltou a correr e gritar... __ Por favor! Alguém pare esse ônibus! Eu tenho que pegar esse ônibus! - Ninguém o ajudou, mas também, para quem ele estava gritando? Não havia mais ninguém no ponto. Dione parou de correr arrancando a mochila das costas e a jogando com força no chão, a chutou com raiva.

__ Mas que merda! Não acredito que perdi o último ônibus de volta pra casa. - Apoiou as duas mãos atrás da cabeça como se estivesse perdido naquele momento e olhou para todos lados do lugar. Teria que andar.

Naquela noite fria, em uma cidade desconhecida, o forasteiro perambulava pelas ruas desertas, esperando que o amanhecer não demorasse muito. Mas em especial aquela noite parecia eterna. Sabia que quanto mais tempo passava ao relento, mais perigo corria.

Os seus quase 40 anos de vida lhe deram experiência o suficiente para saber que ninguém é o que parece. Mas bastava olhar para Dione para querer dar um passo atrás.

Sua barba transmitia respeito. Seu porte físico era grande e com um par de braços musculosos que quase arrebentavam sua camisa de malha, o que lhe dava um pouco de confiança. Confiança suficiente que precisava para se defender.

Respirou fundo querendo desistir daquela caminhada. Por que drogas era tão difícil encontrar um lugar onde pudesse passar a noite em segurança? E por que todos malditos taxistas paravam ao seu sinal e arrancavam com medo ao fitar a sua face? Com certeza sua foto já circulava por ai como um fora da lei em todos os jornais televisivos. Pensou. Estava cansado além de tudo e precisava muito de uma nova cama. Segurou firme nas alças daquela mochila que a pouco a fez de saco de pancadas e continuou a seguir sem rumo, entregue à própria sorte, sem garantias do que viria pela frente.

Mas seguiu solitário por mais ou menos meia hora até ver ao longe faróis fortes se movendo e ofuscando seus olhos, cada vez mais perto. Dione cobriu o rosto com o antebraço e o veículo estacionou bem na sua frente. Por alguns segundos fora daquele jeito, quieto, tenso.


















Forasteiro Abastado - Recompensa Maldita.Onde histórias criam vida. Descubra agora