UM DIA DIFÍCIL

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"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece
como eu mergulhei. Não se preocupe em entender,
viver ultrapassa qualquer entendimento".
- CLARICE LISPECTOR

O despertador tocou, mas vou fingir que não ouvir, se bem que ... esse barulho é tão irritante, a noite anterior foi cansativa. Fui despedida pela terceira vez em seis meses... Bom, felizmente tenho um teto. É triste pensar que já tenho 23 anos, mas ainda moro com meus pais e provavelmente morreria em poucos dias se não fosse pelo cuidad deles. Eu não lembro de me cuidar sempre deixo para última hora,as outras coisas sempre me parecem mais importante. Embora a vida seja dura para todo mundo eu acredito que fui abençoada por ter bons pais, um namorado gentil e uma amiga incrível. Todos os dias eu me pergunto se os mereço.

Me separo do travesseiro pondo meus pés no chão ainda relutante me dirigindo ao espelho da velha estante herança de minha avó. Não sei porque mas, sempre gostei de coisa velha, na minha cabeça eu crio histórias elaborada para cada coisa, imagino que essa estante pode ter sido de uma princesa que se apaixonou pelo jardineiro do castelo, mas, ao ter o seu relacionamento desaprovado vendeu seus bens a uma loja de penhores para juntar dinheiro e fugir para bem longe com seu amado.

- Será normal? Devo ser louca com toda certeza!

Pego a escova para escovar meus cabelos e acabo entrando em um debate com meu espelho:

- Eu só queria mais 30 minutinhos na cama, me sinto o bagaço da laranja, não deveria ter tomado tanto vinho ontem só por causa da frustração. Por que não consigo segurar um emprego? sou eu o problema? ou são meus "ex-chefes" ? - Viro os olhos ao ver minha aparência - Pior do que está não pode ficar.
- Meu cabelo precisa de uma hidratação, estou com olheiras e meu Deus isso é uma espinha? Parece um chifre de Unicórnio

Distraída com meus pensamentos bato a mão na minha caixinha de joias derrubando-as no chão.

- Eu não acredito, Vega... olha o que você fez, agora tenho que organizar tudo isso, ainda bem que é são bijus baratas, imagina se tivesse algo valioso aqui.
- Tem muitas coisas que não uso a séculos e outras que nem mesmo me lembro de ter usado alguma vez na vida.

Minhas mãos vão curiosas em busca de um pequeno cordão embaixo da minha cama, é tão lindo, mas não lembro dele também. Os detalhes da corrente prata com pequenas pedras incrustadas, o pingente em um lindo azul cor do céu na transparência de um vidro do mesmo tom das pequenas pedrinhas em volta do colar. Eu lembraria de algo tão meigo assim, certo? Provavelmente minha mãe deveria ter colocado aqui de presente e esqueceu de contar.

Depois de organizar tudo deixo o pingente em cima da penteadeira

- Espelho, espelho meu. Há nessa vida alguém mais desastrada que eu? Bom, acho que não. Mas, pelo menos agora eu tenho um colar novo. E ele será meu amuleto da sorte.

Há um barulho na porta e logo se abre é minha mãe:

- Minha pequena já está acordada? Oh, céus, você está péssima, parece que foi atropelada.

Tentando arrumar o frizz do cabelo sem sucesso respondo de forma dramática e desanimada

- Eu fui mãe! Atropelada pela minha ansiedade montada nos meus piores pesadelos.
- Filha seja mais gentil consigo não é porque você mora com seus pais aos 23 anos, não conseguiu entrar pra faculdade ainda e já foi despedida três vezes em um ano que o problema seja você.
- Mãeeee...
- Tá, eu não precisava dar a descrição da situação, mas eu acredito que é só uma fase ruim, uma longa fase ruim na verdade.

Olho cética para ela.

- Como você faz isso comigo mãe, rir das minhas desgraças, quase parece um bom remédio.
- Seu rosto não cai bem com lágrimas, até mesmo eu fico com medo sábia? Agora vai se arrumar, eu tenho uma filha linda. Não a Samara do filme o chamado.

UM PASSO PARA OUTRO MUNDOOnde histórias criam vida. Descubra agora