Capítulo 1

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Scarlett Pov:

CONTAGEM REGRESSIVA: DUAS SEMANAS

Com uma enorme caneca de café na mão, atualizei a contagem na lousa que ficava presa à geladeira do apartamento.
Duas semanas, e eu estaria livre.
Sentei-me em um dos bancos da cozinha americana, apoiando os cotovelos no balcão e checando meu celular.
Não era exatamente uma grande novidade que as únicas
mensagens recebidas fossem de Florence, durante a madrugada. Aquela louca trocava a noite pelo dia sempre.
Como minha futura sócia, eu deveria ficar feliz por ela se empenhar tanto em nossos projetos, mas ainda bem
que eu desligava o wi-fi do celular, porque receber o croqui de um vestido que ela achou a coisa mais linda da vida às
três da madrugada seria um pouco demais. Embora o vestido fosse mesmo muito lindo. Conheci a melhor amiga que poderia ter na faculdade
de moda, e nós duas alimentávamos o sonho de ter nossa própria loja de vestidos de noiva. Era quase engraçado
pensar no quanto a vida nos surpreendia – nem sempre para o melhor –, porque o primeiro que desenhei, que idealizei em um sonho e que jurei que era o mais lindo que já tinha feito até aquele momento, mesmo tendo mais experiência e conhecimento, não foi o que usei no meu
próprio casamento.
Ainda tinha esperanças, um dia, de usá-lo com alguém que... Bem... alguém que, de fato, me amasse.
Não alguém que fazia de tudo para tornar os meus dias infernais.
Um lobo em pele de cordeiro... esta expressão poderia
definir o meu marido.
No dia do nosso casamento, quase um ano atrás, quando gentilmente foi conversar comigo e me tranquilizar,
eu jurei que as coisas ficariam bem. Que seria por um período curto de tempo e que poderíamos facilitar tudo um
para o outro. Quem sabe o jogo não virasse ao nosso favor e
terminássemos apaixonados, como em uma daquelas comédias românticas que eu gostava de assistir?

E por algum tempo continuei com essa impressão. Embora nos mantivéssemos distantes, por não nos conhecermos tão bem, Evans não foi nada além de gentil,
educado, compreensivo e amigável. Evitávamo-nos ao
máximo, mas quando nos encontrávamos dentro do
apartamento, trocávamos cumprimentos, perguntávamos sobre nossos dias e quase conversávamos antes de nos
trancarmos em nossos quartos e seguirmos com nossas
vidas ao máximo.
Isso durou três meses.
Até que nossos horários casaram e nos pegamos juntos na sala, assistindo a um filme. Rindo juntos, falando como
bons amigos, comendo pipoca e tomando vinho. Fui iludida
por essa “política da boa vizinhança” e me peguei sorrindo contra o meu travesseiro naquela noite, depois de jurar que o homem com quem me casei era um cara muito mais legal
do que imaginei.
Praticamente não o vi por três dias. Quando aconteceu,
ele parecia outra pessoa.
Desde então, na maioria das vezes em que passávamos mais do que meia hora juntos, nós discutíamos. Era um inferno.
Mas um inferno que tinha data para terminar. E estava
muito perto.
Amém.
Ouvi a porta do quarto dele se abrindo, sinal de que eu não teria muito mais tempo de paz sozinha, nem mesmo
para tomar o meu café.
A cara irritantemente bonita de Chris surgiu à minha frente, ainda um pouco sonolenta, porque eu sabia que ele
tinha ido dormir bem tarde na noite anterior. Não que eu controlasse a sua vida nem nada. Deus me livre, mas vi a
mesmo muito sério.
— A festa de nomeação do cargo de sócio vai acontecer daqui a dois meses — anunciou.
— E...?
Ele deu de ombros.
— Eu preciso que você vá comigo.
Ergui uma sobrancelha.
— Não estaremos mais casados até lá.
— Pois é. É aí que está o problema. Conversei com seu pai ontem, e ele achou melhor que fôssemos
acompanhados. O combinado se mantém. Assinarei os
papeis da sociedade daqui a duas semanas, e você receberá seu dinheiro também, mas as coisas precisarão
ser oficiais para a minha parte.
— Mais dois meses? — minha voz soou tão indignada, que ele até pareceu surpreso. Mas não era possível que,
tratando-me do jeito que me tratava, ele ainda tivesse alguma vontade de permanecer casado comigo um dia a
mais do combinado, quanto mais dois meses.
— Três, na verdade, porque o ideal seria que não acontecesse o divórcio imediatamente depois do evento.
Levantei-me da banqueta, sentindo que se continuasse ali, certamente iria cair para trás.
— Isso é ridículo! — comentei quase em um murmúrio, dando as costas para ele e começando a me afastar,
saindo da cozinha americana do apartamento e indo para a
sala, deixando o café lá.
Claro que ele me seguiu.
— Por favor, Scarlett, seja razoável. Já chegamos até aqui.
— Razoável? — quase cuspi as palavras. — Por que eu seria razoável com você? Meu dinheiro estará na minha conta em duas semanas. Não preciso mais continuar com esse casamento.
Ele respirou fundo, passando a mão pelos cabelos.
— Olha, eu sei que eu não fui o melhor marido que poderia ter sido e que, talvez, você me odeie. — Ele fez uma pausa, provavelmente esperando que eu negasse, mas não o fiz. Claro que eu não odiava ele, mas também não nutria uma grande simpatia. — Mas estou jurando que vou fazer de tudo para que esses últimos três meses sejam
mais fáceis. Posso nem aparecer na sua frente, se for o caso.
— Ah, seria uma alternativa muito mais interessante... — zombei.
— Vamos lá, Johansson. Se fosse o contrário eu faria isso por você.
Coloquei ambas as mãos na cintura, franzindo o cenho.
— Faria mesmo?
— Juro. Se algum dia você precisar de mim, não vou hesitar em te ajudar.
Fiquei algum tempo olhando para ele e amaldiçoando o fato de ele ser tão bonito. Os olhos azuis
me encaravam cheios de súplica, e aquela boca desenhada, envolta por uma barba bem feita, típica dos
mocinhos bandidos de filmes e livros que as mulheres tanto adoravam, estava pronta para argumentar, como o bom
advogado que ele era.
Eu iria perder aquela discussão novamente. Não era apenas a beleza dele que me convencia, mas a vontade de não querer me cansar em mais uma briga com ele, depois de tantas
— Três meses? — repeti. Eu poderia aguentar, não poderia? — Vou ser legal com você, Evans, mas o primeiro
deslize, a primeira coisa que fizer para me provocar e me fazer passar raiva, vou pegar minhas malas e sair dessa
casa, só voltando com os papéis do divórcio assinados.
— Tem a minha palavra.
Será que ela valia de alguma coisa?
— Tudo bem. Fechado.
Então ele estendeu a mão na minha direção, e eu hesitei. Não era uma abertura para sermos amigáveis
um com o outro. Eu estava cedendo para não ter que aturá-lo falando no meu ouvido. Ele e ao meu pai, que eu
sabia que acabaria fazendo a mesma coisa. Aliás, eu não sabia o que meu pai tinha visto de tão especial naquele cara.
Aceitei o cumprimento finalmente, e ao invés de apertar minha mão e sacudi-la, ele a levou à boca e a beijou.
Mas que diabos...?
Arranquei-a rapidamente de seu alcance e dei um passo para trás, recuando, como se temesse que ele pudesse
tentar algo mais.
O que era idiota. O homem teve quase um ano para te seduzir e nunca demonstrou o menor interesse. Por que agora?
— Obrigado, Scarlett. De verdade.
Nem me dei ao trabalho de responder, principalmente porque ele tomou seu rumo e entrou no quarto, provavelmente pronto para fazer o que eu falei e se arrumar para ir à academia.
Eu, por minha vez, fiquei parada no mesmo lugar, pensando no quanto eu deveria ser mais firme nas minhas
convicções. No quanto eu deveria simplesmente ter dito não.
Resignada, caminhei como uma condenada no corredor da morte em direção à geladeira, apaguei o que tinha
acabado de escrever, corrigindo:

CONTAGEM REGRESSIVA: TRÊS MESES E DUAS SEMANAS.

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⏰ Última atualização: Nov 05, 2021 ⏰

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