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- Está a criar uma menina forte, Gabriela. – Olivia, pediatra de Bruna, constatou, mencionando o facto de a bebé de quatro meses sentada ao colo da mãe ter derramado uma única lágrima, nem expressado um resmungo, aquando da toma da última vacina da segunda série de vacinas necessárias, ao mesmo tempo que deitava ao lixo a seringa utilizada.

- Não sai a mim, certamente. Ao pai dela é que não custa nada estas coisas. – Por entre risos, Gabriela replicou, contagiando a profissional de saúde que acompanhava a primogénita da licenciada em história da arte e o futebolista profissional. – Em relação a isso, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta, Dra. Anderson. – Embora hesitante acerca se deveria colocar a dúvida que lhe pairava na cabeça desde a conversa partilhada com o melhor amigo relativamente ao tipo de relação que levava com o pai da sua filha, a morena de olhos verdes demonstrou a intenção de a questionar à mesma, ignorando a sensação de hesitação.

- Claro. Estou aqui para isso mesmo, para retirar todas as dúvidas que possa ter. – A mulher mais velha três anos que a mãe de primeira viagem se mostrou aberta às questões que pudessem existir.

Antes de iniciar o diálogo acerca dos problemas surgidos entre si e o defesa central, a melhor amiga de Rodrigo deixou escapar um profundo suspiro.

- Como sabe, eu e o Rúben não estamos juntos desde o nascimento da Bruna. – Gabriela principiou sob o olhar atento da pediatra. – Apesar de não estarmos juntos, sempre mantivemos uma relação de cordialidade pela Bruna para não criar constrangimentos enquanto educamos a nossa filha, no entanto, há cerca de um mês, surgiram alguns problemas que criou uma certa distância entre nós os dois. E, ainda que não exista a mesma distância entre o Rúben e a Bruna, receio que os problemas entre nós possa afetar a Bruna.

- Mudanças no seio familiar hão de sempre afetar a criança, apesar de muitos acharem que, nesta idade, as crianças não percebam a realidade que os envolve. Claramente, não me vou intrometer nos seus problemas, nem lhe dar soluções que me fazem sentido, mas é imprescindível criar um ambiente saudável para a Bruna. – Após breves segundos em silêncio, Olivia respondeu ao receio vivido pela de vinte e quatro anos de idade, que, apenas, assentiu com a cabeça, manifestando ter compreendido a mensagem. – A Bruna procura agarrar os objetos, pelo menos, aqueles que estão à sua volta?– Passando à frente no tópico de conversa, a especializada em pediatria prosseguiu com as questões com a intenção de compreender a evolução no crescimento da bebé desde a última consulta.

- Já. Aliás, há dias recebi uma encomenda da minha mãe que continha um conjunto de guizos, e, desde aí, a Bruna ainda não os largou. – Gabriela curvou os lábios num sorriso genuíno enquanto contemplava a expressão facial alegre da filha.

As questões acerca do bem-estar e dos hábitos da filha de Gabriela e Rúben continuarem durante o resto da consulta, que se prolongou uns minutos a mais do tempo habitual. Quando chegou ao fim, a funcionária da galeria de arte trocou as despedidas com a pediatra e abandonou o consultório, seguindo para o exterior do edifício hospitalar. No interior do elevador, que a levaria até ao piso 0 e, consequente, saída, retirou o telemóvel do bolso do casaco de ganga e, iluminando o ecrã, verificou as horas, voltando a ignorar a mensagem digitada pelo defesa-central meia hora antes do início da consulta, que a avisava que não iria conseguir sair a tempo do treino para a acompanhar à consulta de Bruna. Vendo a notificação da mensagem, a bracarense recordou a revolta que sentira por ter sido avisada tão em cima da hora, no entanto, ao mesmo tempo, naquele momento, sentia-se aliviada por ter ido sozinha, pois, assim, foi capaz de questionar a pediatra sobre o impacto das suas ações na sua filha. Se Rúben a tivesse acompanhado, o ambiente seria altamente tenso e constrangedor, algo que a médica notaria de imediato.

Todavia, a sensação de alívio sentida por ela não era vivida por Rúben. Diante da entrada do hospital, o defesa central português batalhava consigo próprio se havia de digitar uma mensagem à mãe da sua filha a questioná-la se ainda estava na consulta. Durante o restante período do treino, não evitou pensar na possibilidade certa da minhota se encontrar irritada consigo, o que só aumentou a culpa que sentia por não poder estar presente para a acompanhar na consulta da pequena Bruna.

nós os dois |  rúben diasOnde histórias criam vida. Descubra agora