2 - Desiludida

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"Quase toda vez que eu vou dormir
Não consigo relaxar
Até parece que meus travesseiros pesam
Uma tonelada."
-Piloto Automático, Supercombo

Eu grito bom dia, boa tarde e boa noite, eles não me ouvem, as boas maneiras e normas de etiqueta são tratadas como ultrapassadas, berro até a perder a voz, ela está rouca, não foi só dessa vez, perdi a noção de quantas vezes procurei a razão e emoção pelas ruas da cidade. Não consigo encontrar ou entender os vários sinais, eles querem me ver cega, surda, muda, morrendo aos pouquinhos, o sangue caindo gota por gota.
Eles assistem, aplaudem com os belos sorrisos brancos de bonecos, tudo perfeito na casa, família margarina por fora, família despedaçada por dentro. Sigo então com meus dentes tortos com o meu sorriso amarelo, não sofro mais pelos outros, deixe para outro momento, talvez outro dia, outro ano...
Hoje parto, me desfaço, espero talvez fazer morada nas lembranças das trilhas que passei...
Cansei de esperar os falsos profetas, os heróis de mentiras, os príncipes viraram sapos, a princesa perdeu o sapato, a carruagem virou a abóbora e não foi à meia noite, foi às seis horas da manhã, me chutaram para fora do Reino Encantado, tomaram minha coroa, dizendo que talvez eu não servisse para ser princesa, quem diria uma rainha, que o meu destino seria permanecer plebeia...
Negaram minha história como se ela não fosse original o suficiente, tratando como uma cópia autenticada de histórias de desconhecidos...
A verdade seja dita, cansei de espera por você, peguei meu cavalo, meu escudo, rasguei meu vestido rosa, arco e flecha, cortei meus cabelos longos e sai para ver o mundo, talvez algum dia volte.
E todos os surtos ficaram no passado, hoje minha força não depende de ninguém ou de aprovação, permanecer estática na mesma posição foi estratégico, vejam a boneca de papel os seus pedaços, largados pelas ruas.
Quis ser mensageira de paz e amor, mas negaram meu passaporte, fecharam os portões do céu na minha cara, dizendo que tinha perdido a hora, que estava atrasada com o Coelho da Alice no país das Maravilhas, ando sempre atenciosa, e ainda assim não fui o suficiente para ninguém.
Me condenaram ao pandemônio, cortaram minhas asas, me jogaram aos cães infernais.
"Lute mais garota, tente a sorte!
Você não consegue vencer o mundo sozinha, sabe disso, né?"
Sinto muito não ser suficiente para vocês; Meu melhor nunca foi o suficiente.
Meu bem, não sou o tipo de garota que se esconde, enfrento a vida e cada batalha nessa selva de pedra com o sorriso no rosto, não me envergonho das minhas cicatrizes, elas me fazem a melhor versão de mim.

Sangue AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora