6 - Vazia

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"Cansei de fazer gracinha
Meu coração sofre por ser assim
Quanto mais gracinha eu faço
Mais quebrada estou por dentro
Por favor só me salve de mim"
-Gracinha, Manu Gavassi

Não consigo mais continuar com a encenação, o sorriso não chega aos olhos, ele é gélido combina com as manhãs frias de São Paulo. O que sinto é exatamente nada, o eco de um buraco. As noites são angustiantes, não consigo dormir, os sonhos são perturbadores, sou um corpo sem alma, vagando pelos passar dos dias. Não tenho vontade nenhuma,  sem ideais, completamente despedaçada, sem nenhuma previsão de quando será o restauro da alma.
Sozinha com os monstros da minha cabeça, eles me devoram, não tem um minuto de silêncio, mesmo que suplique, as vozes só dizem que nunca mais serei alegre de novo.
Ignorando diversas vezes, o choro entalado na garganta, o estômago embrulhado, as dores de cabeça e repetindo como mantra que é só um dia ruim, o amanhã será melhor...
Rezo pelos dias melhores,
acordo a realidade fria que nada mudou, o choro continua ali, os monstros também e continuo sozinha.
Tento aguentar mais um dia, tento me lembrar do que é estar viva, mesmo sem sentir nada, estou morta por dentro, nada me comove...Talvez seja uma sina infeliz, uma maldição ou sete anos de azar por ter quebrado algum espelho.
Mesmo chorando o vazio continua, não tem ninguém para dar colo, não tenho um lar para voltar, uma casa para descansar, ou alguém para abraçar.
Encaro o teto e suplico para que ao fechar meus olhos que seja a última vez , que não precise viver mais essa tortura, esse desespero e mais uma vez ...
Nada.
Eles me dizem para continuar, ter fé, mas como posso clamar aos céus e continuar nesse pandemônio interno? Cadê a tão sonhada salvação?
Talvez, esteja descrente de tudo, o vazio consome cada vez mais partes do meu ser. Eu aceito, acolho o vazio, mergulho nele, não me resta nada. Talvez, um dia suma de vez, ou ele me torne um nada, apenas um corpo vazio, uma carga zerada, uma alma condenada.
Fecho os olhos, respiro fundo e sigo sangrando por dentro, uma hora tem que passar, certo?

Sangue AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora