Capítulo 01

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A buzina do trem acordou Zayn com um susto. Ele não lembrava em que momento havia dormido, mas a posição desconfortável que se encontrava logo cobrou o preço em suas costas, ao que ele tentou sentar de maneira correta.

Passando os olhos pelo monitor das estações, Zayn conferiu se ele havia dormido suficiente para que passasse por seu destino sem perceber, dando um suspiro de alívio em seguida ao perceber que ainda faltavam cinco estações até o seu ponto.

Como Zayn pegava um dos últimos horários todos os dias, ele tinha a sorte do transporte estar sempre quase totalmente vazio. Sendo que, naquele dia, tinha apenas ele e um casal alguns bancos à frente, trocando carícias apaixonadas e risos baixos. O que fez Zayn sorrir ao ver a felicidade genuína que eles transcendiam, já que o homem e a mulher se olhavam como se não existisse outro alguém no mundo além deles dois.

Zayn não era o tipo de pessoa que sentia carência por alguém em sua vida, ele não tinha tempo para isso, mas bastava olhar para um casal apaixonado que seu coração mudava ideia. Ele não tinha um bom exemplo de relacionamentos, tendo em vista que seu pai o deixou quando tinha apenas 10 anos e as poucas lembranças que tem não envolvem algum tipo de carinho com sua mãe, na verdade, Zayn se lembra dela parecer bem mais leve após a partida de seu pai. Apesar disso, Zayn não deixava de sonhar com a possibilidade de um dia encontrar alguém que tornasse sua vida mais leve e o desse bons motivos para acreditar que o amor ainda existe.

O moreno percebeu que olhava tempo demais para o casal quando o trem parou novamente e os dois saíram do local, deixando Zayn sozinho no vagão.

No começo era um pouco intimidador pegar o trem naquele horário, principalmente no fim da semana, quando apenas alguns bêbados apareciam, mas Zayn se acostumou rápido e passou a apreciar seu tempo sobre os trilhos. Ele gostava de olhar a paisagem de todos os dias e os diferentes rostos que passavam por ele, imaginando histórias e fazendo suposições sobre a vida de cada um deles. Aquele era o único momento que Zayn tinha para respirar fundo e pensar que a vida um dia poderia ser melhor, antes de voltar para sua realidade e se jogar em sua cama, tendo a consciência de que nada seria diferente da noite para o dia.

As costas de Zayn ainda davam algumas pontadas pela maneira desleixada que ele dormiu minutos atrás, somando ao fato de que ser faxineiro em uma escola não era trabalho fácil. Por isso, ele aproveitou o momento que o trem parou para levantar e esticar as pernas, reparando na estação vazia antes que as portas do trem se fechassem novamente.

Quando o transporte voltou a se locomover, Zayn se sentou em um novo lugar e teve seu olhar atraído para um livro com capa desgastada no banco ao seu lado. Curioso, ele o pegou nas mãos e percebeu se tratar da história de O Corcunda de Notre Dame, escrito por Victor Hugo. O moreno não escondeu o leve sorriso em seus lábios, pois aquilo ativou as memórias de quando ele era apenas um adolescente que pegava livros na biblioteca de sua escola para fugir de sua realidade por alguns instantes.

Sem perder tempo, Zayn passou a folhear as páginas do livro, passando os olhos brevemente por suas citações favoritas. Além da história principal, Zayn adorava se perder na narração arquitetônica da catedral de Notre Dame e na descrição detalhada da Paris de anos atrás.

Ele estava entretido com seu achado, quando um papel dobrado caiu dentre às páginas amareladas, o que criava um grande contraste pelas cores tão diferentes. Por algumas ranhuras no papel, Zayn pôde perceber que havia algo escrito ali, mas que não teve tempo de desvendar, pois o trem parou em sua estação. O que o fez guardar tudo em sua mochila com pressa, saindo praticamente correndo do trem quando escutou o sinal de fechamento das portas.

Por mais que seu corpo pedisse por passos lentos naquele momento, Zayn andou o mais rápido que conseguia, pois sua intuição dizia que ele devia ver o que tinha escrito naquele papel.

These Letters Between Us (ziam)Onde histórias criam vida. Descubra agora