Capítulo 03

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Caro viajante,

Fiquei muito feliz em ler sua resposta, confesso que não esperava por tanto. Você me surpreendeu e se me permite dizer, o sarcasmo provocativo presente em sua escrita me deixou preso. Você contou que escrevia na adolescência e eu, como alguém que trabalha numa área relacionada à literatura, me sinto na obrigação de te dizer para continuar a fazer isso, pois bastou uma carta para que eu percebesse o seu talento!

Sobre o detalhe curioso da minha vida: sinto lhe informar, mas não tenho uma vida muito agitada, então, talvez, o que irei te contar agora não lhe pareça muito surpreendente ou curioso. Porém, deixarei minhas palavras da forma mais poética possível e talvez, assim, você desperte algum interesse na minha pequena história.

Bom, o grande fato é que eu nunca encontrei o amor. Eu sou uma pessoa que odeia a solidão, tive diversos relacionamentos e até mesmo uma noiva, mas nunca fui capaz de amar ninguém. Às vezes acho que o problema está em mim, por ser muito seletivo, ou no destino, por não ter me levado até a pessoa certa. Culpo também meu coração bobo, que facilmente se encanta pela individualidade de cada um, mas acho que no fim das contas o maior culpado sou eu. Afinal, não tem ninguém mais no controle da minha vida além de mim, certo?

E já que entramos no assunto sobre sentimentos, me responda estranho viajante, você já amou alguém?

Me desculpe se essa conversa foi para um lado muito pessoal, estou torcendo para que você também aprecie refletir sobre os seus sentimentos.

Ficarei ansioso por sua resposta!

Atenciosamente,

Um passageiro.

Um longo suspiro saiu dos lábios de Zayn quando ele terminou de ler a carta. Seu correspondente desconhecido tinha chegado no assunto que o moreno tinha evitado durante todos os anos de sua vida: relacionamentos. Ele não podia culpar o remetente de considerar aquele um assunto interessante, como também não podia esquecer os motivos para que ele ficasse tão desligado para relacionamentos durante tantos anos.

Simplesmente, nunca teve espaço na vida de Zayn para outra pessoa. O espaço que ele dividia sozinho já era suficientemente apertado, viver no egoísmo e solidão foram os caminhos mais fáceis que o moreno encontrou para sobreviver.

Claro, ele ainda suspirava com filmes de romance clichê ou sonhava acordado enquanto lia seus livros, mas tinha tão claro em sua consciência que amores como aqueles só existiam na ficção, que perdia o interesse por procurá-los na vida real.

Um pouco frustrado, Zayn leu novamente a carta e passou seus olhos pela pergunta: você já amou alguém?

A resposta era sim, sua mãe, mas não era daquele tipo de amor que o estranho estava falando.

O que restava era Zayn ser sincero consigo e com o dono misterioso do livro.

E, enquanto tinha a caneta em mãos e uma folha em branco na sua frente, Zayn só tinha o único pensamento de que aquelas cartas estavam resgatando sentimentos e lembranças a muito tempo adormecidos em si.

-x-

Diferente da outra vez, Zayn conseguiu dormir cedo e acordar no horário certo, mesmo tendo quebrado a cabeça na noite anterior para colocar em palavras seus sentimentos confusos. Assim, como também não encontrou obstáculos ao deixar o livro no caixa de sempre e teve uma viagem tranquila — lê-se monótona — até o seu trabalho.

Como sempre, ele foi o primeiro a chegar na escola, pois tinha que manter a limpeza diária para os outros funcionários. Talvez fosse um pensamento egocêntrico, mas Zayn gostava de pensar que aquele local só funcionava graças a ele, já que era o primeiro a chegar e o último a ir embora todos os dias.

These Letters Between Us (ziam)Onde histórias criam vida. Descubra agora