𝟎. prólogo

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- Eu e você, vamos nos casar.

Olhei para ele, então olhei para Jeon e o outro homem do lado de fora da cela, então olhei para ele novamente, a frase se repetindo e repetindo na minha cabeça.

- O quê? - eu sussurrei, certa de que havia entendido errado.

- Você me ouviu.

É eu ouvi sim, mais ainda me levou algum tempo para processar corretamente. Porque não era possível uma coisa dessas.

- Não.

- Não? Você não quer se casar comigo? - ele inclinou a cabeça para o lado e eu mexi a minha em negação. A sombra de um sorriso apareceu - Bem, eu não posso te obrigar.

Observei ainda meio atordoada ele se levantar e sair. O homem do lado de fora e a... pantera, leopardo, guepardo, ou o que seja, o acompanharam enquanto ele ainda dizia algo como "Se ela não quer, eu não posso forçá-la". Jeon trancou a cela novamente e também se retirou.

Eu olhei o chão aos meus pés, onde segundos atrás estava o rei, e apertei minhas pernas com mais força, me perguntando se isso tinha mesmo acabado de acontecer. O lugar onde Jeon havia me acertado ainda latejando de dor.

Voltei meus pensamentos para os acontecimentos anteriores e senti uma vontade imensa de rir, porque não era possível uma coisa dessas.

Eu já tinha ouvido de tudo a respeito do rei, desde se banhar no sangue de crianças á ler os pensamentos das pessoas com os olhos, como disse Daphne. Mas nunca que era um desequilibrado que saía por aí pedindo os outros em casamento.

A não ser, que ele não seja rei coisa nenhuma. Homens não podem ver uma mulher vivendo as próprias custas que decidem "pegar para cuidar". Com uma proposta dessas, como alguém poderia recusar, e eu toda bobinha, pensando que vou me tornar uma rainha, no final acabo presa a um velhote barrigudo.

Eu não sou boba, não.

Acho que pensar demais me fez perder a noção do tempo porque, pouquíssimo tempo depois eu ouvi sua voz novamente, e então eu estava sendo arrastada para fora, por Jeon é claro.

A maioria das celas estavam vazias. Reconheci o rosto de alguns dos homens sentados àquela mesa anteriormente. Bem, o que sobrou deles, na verdade. Estavam tão machucados que mal se mexiam, deviam até estar mortos. Procurei por Sr. Warren entre eles e suspirei de alívio ao não encontra-lo.

Eu me pergunto, foi Jeon quem os deixou nesse estado, ou a pessoa do outro lado, encostado numa escrivaninha com os braços e tornozelos cruzados. Pela forma que mexia os pés eu podia dizer que ele estava muito impaciente. Eu baixei um pouco mais o olhar, e encontrei aquela cadeira. Posicionada bem a frente dele.

Minhas pernas pararam de se mover, Jeon me deu um puxão, mas eu me recusei a andar. Os dedos dele pressionaram meu braço com mais força. Eu flexionei os joelhos e me contorci, tentando fugir do aperto. Não deu certo então eu parti para o desespero e comecei a me debater.

Doeu muito no processo, mas eu consegui fazer a mão dele escorregar, e antes que pudesse ao menos pensar em me agarrar de novo eu bati meu quadril no dele e o empurrei.

Não pensei em nada eu só comecei a correr. Notei a porta de saída, não muito longe dali, o sol brilhando lá fora, o cadeado aberto. Eu só precisava chegar até lá.

Infelizmente não consegui. A mão de Jeon segurou o meu cabelo, e me puxou. Tentei acertá-lo com o cotovelo. Eu não parei de lutar em momento algum, e mesmo assim ele conseguiu me arrastar até lá e me forçar a sentar.

Olhei para cima, soprando o cabelo no meu rosto, com todo o ódio do mundo. Eu queria que ele soubesse que eu não estava feliz, e que na primeira oportunidade eu poderia tentar deixar outra cicatriz no rosto dele.

THE KING'S EYES • KTHOnde histórias criam vida. Descubra agora