2.

8 1 0
                                    

Eu falei pra mim mesma, em pensamento, que não iria me virar e tentaria ignorar ao máximo aquela presença ali. Obviamente não tive sucesso, já que aquela mão tão familiarizada com meu corpo, repousou sobre o meu ombro.

- Por que você fugiu quando me viu na praia? Você sabe que não precisa disso Sônia. Quer dizer, SuA. O SuHo falou que o processo de adoção por parte da tia Han já tá quase finalizado. Meus parabéns por ter uma nova família. - Jaebeom disse e eu via um pequeno cinismo em seu rosto.

Han SuHo é um dos meus melhores amigos. Nós nos conhecemos ainda quando a família dele morava no Brasil e estava se organizando pra voltar pra Coreia, depois que o pai dele faleceu. A tia Han, que agora era minha mãe adotiva, sempre quis ter uma filha e pelo fato de que eu e SuHo sermos tão apegados como irmãos, ela decidiu me adotar mesmo depois de adulta. No início, achei a ideia meio doida. Falei pra ela que eu sempre amaria ela como uma mãe, mas não poderia fazer isso pois não queria ofender minha mãe biológica.

Pois bem, minha mãe faleceu a quase dois anos, uns seis meses antes de eu me mudar pra cá. Me mudei devido a insistência dos Han, que agora são a única família que eu tenho. Antes não tinha mais ninguém além da minha mãe.

O bonitão do SuHo tá cumprindo a etapa final do serviço militar e logo volta pra casa, pra fechar a família diferentona do nosso bairro. Ele também é do grupo de amigos do Jaebeom. Estudaram juntos na escola primária e depois disso, o SuHo foi pro Brasil. Eles nunca perderam o contato, mas acredito que meu irmão não sabe sobre as coisas que tem acontecido recentemente e eu prefiro acreditar nisso.

- Não estava fugindo especificamente de você. Por que acha isso? Eu estava fugindo do barulho que você e o seu grupinho de amigos estava fazendo. - falei e fui me sentando naquela graminha fofa e cheirosa. Cheiro de grama cortada é ótimo calmante - Você é extremamente convencido, Lim Jaebeom. Eu só queria paz e silêncio, eu aprecio minha solitude e você deveria tentar fazer o mesmo às vezes.

- Eu estou apreciando minha solidão e o silêncio com você, Suh. - Aqueles lábios se abriram em um sorriso e seus olhos se tornaram apenas uma linha. Ele veio com o propósito de me irritar, por mais lindo que ele fique quando está assim.

- Você deveria estar aproveitando esses seus momentos com a Suzy. A princípio eu não tinha reparado, mas quando estava saindo, notei que era ela, algumas outras meninas da equipe de líderes de torcida e o restante do seu time de basquete.

- Você ficou incomodada por ver meu grupo se divertir? E além do mais, você e ela não deveriam ser amigas já que fazem parte da mesma equipe de cheerleading?

- Não. Isso é um problema seu. De vocês. Eu só não me senti a vontade de permanecer lá porque é o seu lugar favorito e você levou eles pra lá. Me senti uma estranha no ninho. E porque eu e ela seríamos amigas? Fazer parte da mesma equipe, não torna ninguém amigo. Você deveria saber bem disso, já que você e seu primo não se bicam.

- Aaaaah... - Ele diz e a boca dele vira uma linha e os olhos pareciam querer catar alguma coisa no ar, mas não consegui entender o que era. - e sobre meu primo, ele volta junto com o SuHo. Todos eles voltam juntos, na verdade.

- Eu sei. Bom... Deixei seu lugar favorito pra você e vim pro meu. Eu esperava poder curtir o tempo que me resta aqui tranquilamente. Você pode me fazer um favor? Pode pedir pro Jinyoung me esperar a noite, na praia?

- Que diabos você quer com o Jinyoung? - O tom de voz aumentou e um leve rubor subiu no seu rosto

- Não te devo satisfação, mas já que preciso que você me faça esse favor, vou tentar ser minimamente educada. Só preciso te informar que formatei meu celular e não tenho mais o contato dele. E não teria como ele me ligar, aproveitei e troquei meu número também.

- Então você pode me passar seu número novo que eu passo pra ele. Aí vocês se ligam, não precisam se encontrar pessoalmente e você mesma diz por telefone o que precisa. Que tal?

- Jaebeom, Jaebeom... Você não precisa ficar com ciúmes que não vou roubar o Jinyoung de você. E eu não quero e não vou te passar meu número novo. Eu não quero nada que me envolva, conectado com você.

- Voc... - Interrompi o que ele ia falar me levantando abruptamente do chão e pedindo pra ele fazer silêncio. Peguei ele pelo braço e joguei ele contra a árvore e segurei meu corpo junto ao dele, tampando sua boca com a minha mão. Na adrenalina do momento, eu nem pensei no que estava fazendo.

Tinha me esquecido que havia sido reportado no noticiário local, que aquela região onde estávamos, estava sendo alvo de assaltos nas últimas semanas e ninguém havia sido localizado e preso ainda. Provavelmente como o parque florestal onde estávamos era um pouco afastado, deveria ser a rota de fuga deles.

Como calcular um peso morto?Onde histórias criam vida. Descubra agora