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Três homens que eu não sei se estavam armados ou não se aproximaram. Por incrível que pareça aquela árvore era larga e era bizarro que a gente pudesse ficar atrás dela sem sermos notados. Parecia cena de filme. Um estudante de cinema e uma estudante de teatro. Irônico.

Como estava na frente de Jaebeom, sutilmente inclinei minha cabeça e vi que um estava tentando fazer ligação no carro e os outros dois estavam de costas pra direção da árvore. Havia uns arbustos do lado esquerdo e seria melhor se a gente se escondesse ali. Eu poderia ver a situação de um ponto melhor do que de onde estávamos.

Fiz um gesto de silêncio com uma das mãos, cheguei perto do ouvido de Jaebeom pra tentar falar o que estava acontecendo. Ótimo momento pro meu corpo ter gatilhos de saudade com toda essa proximidade. E parece que não foi somente eu, já que suas mãos passaram rapidamente pra minha cintura. Ou eu estava louca por conta do momento.

- Jae, presta atenção! - sussurrei no seu ouvido - Seguinte, não grita nem faz nada que possa denunciar a nossa presença aqui. Tá me ouvindo? - me afastei um pouco para ver que ele fez um gesto confirmando com a cabeça - Seguinte, eles são de uma gang que tem atacado por aqui e pelo que pude ver, vão roubar o carro. A gente precisa tentar chegar até esses arbustos aqui do lado, sem sermos vistos. Se eles nos virem, ou vão roubar o resto das nossas coisas ou a gente pode acabar morto. Você tá me entendendo?

Fui falando, tirando a mão da boca dele e esperei pois vi que ele queria falar algo. Ele meio que fez um gesto com a cabeça pra trocar de lugar comigo e então fiquei com as costas contra a árvore. Ele se aproximou e começou a sussurrar

- Entendi. Eu entendi. Olha no que você meteu a gente, SuA. - Ele olhou no fundo dos meus olhos, suas mãos subiam pela lateral do meu corpo. Então com sua mão, segurou meu queixo - Se a gente sair vivo daqui, você vai ter uma dívida eterna comigo. Não se incomode e nem se apresse em pagar.

Ele parecia uma tartaruga com a mochila nas costas, não sei como um homem desse tamanho tava conseguindo se manter escondido. Esses caras realmente não tavam nem se dando o trabalho de nos procurar. Minha mochila estava parcialmente recostada na árvore com minha câmera sobre ela. Me afastei um pouco dele sem fazer movimentos bruscos ou que pudessem fazer barulho, pra poder pega-la. O barulho que vinha de dentro do carro com aquele cara tentando fazer a ligação direta, abafava um pouco do som à nossa volta.

Jaebeom espiou e viu que os caras ainda estavam de costas pra gente e um começou a caminhar em direção a porta aberta do carro pra ver o que o outro que estava lá dentro estava fazendo. Ele pegou minha mão e a gente meio que se jogou nos arbustos. Foi aí que as coisas quase desandaram de vez.

Parece que um dos caras notou o barulho. O que estava mais afastado dos outros dois que estavam se desdobrando pra fazer o carro funcionar logo. Ele se aproximou dos dois no carro que pararam por um segundo. Silêncio. Então o que estava escorado na porta começou a falar:

- Os jovens vêm aqui pra namorar. Mas você sabe que quem estaciona aqui, é porque não consegue levar o carro até a lagoa que tem aqui nos pés desse morro. O casalzinho deve tá lá pra baixo. A gente tá com pressa. A gente não pode sair matando e atirando em todo mundo só porque tem vontade. Foca aqui, a gente não tem tempo pra descer até lá e matar gente não.

O cara que tava dentro do carro tinha voltado a mexer ali no meio do discurso do outro e bem na hora que ele terminou de falar, o carro pegou. Eu tava com a câmera carregada. Já tinha configurado pra deixar sem flash e como era uma câmera que não emitia o som do obturador durante os disparos, tirei algumas fotos dos ladrões enquanto estava deitada no chão, nas moitas. Talvez ajudasse a polícia e provavelmente iria me ajudar na hora de relatar o roubo e ter provas que não fui eu.

Entraram no carro e deram partida. Não circularam por lá nem nada, mas a gente deve ter ficado uns 15 min em silêncio, ainda ali naqueles arbustos. Fomos salvos pelo gongo.

Como calcular um peso morto?Onde histórias criam vida. Descubra agora