Só Mais Outro Texto do Penedo

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Sobre o que vai escrever?
Eu não sei, apenas vou escrever o que vier na cabeça.

Tá sentindo algo? Você sempre é movido a sentimentos quando vai escrever.
—Sinceramente, eu até sinto algo, mas não sei dizer o que é.

Talvez seja...apenas uma vontade de escrever algo mesmo.
—Talvez.

Anda pensando muito nas coisas que estão rolando na sua vida?
Pode crer, esse ano tá louco demais.
Qualquer merda pode acontecer em um instante.

Acho que isso é normal, a vida é assim, não?
Pessoas morrem em um dia, pessoas te abandonam no outro. Uma hora você tá bem e em outra hora, está caindo em lágrimas.
Uma eterna oscilação.
É...
—Minha vida tem sido assim esse ano.
Tem coisas que eu ainda nem parei pra sentir ainda.
E tá tudo muito rápido...

Você ainda tem dificuldades pra sentir algumas coisas?
Sim.

Acho que isso é defesa do seu coração, contra coisas que podem te derrubar.
Mas em compensação, eu sinto um vazio em mim.

—Não é um vazio, é como se sua mente te protegesse, inibindo o real peso dos seus sentimentos.
Me fazendo sentir um pouco frio, é...faz sentido.

—Um exemplo disso, é a morte do meu tio. Todos choraram e ainda choram só de lembrar, eles gritam e ficam deprimidos
E você não consegue fazer o mesmo.
—Você sabe que existe uma grande dor no seu peito, igual a dor deles, mas você não consegue sentir.
Eu invejo eles.

Você já foi desse jeito, mas algo aconteceu, você esfriou.
Me pergunto o que deve ter acontecido. Tem alguma ideia?

Talvez você tenha aprendido a desvalorizar seus próprios sentimentos? Acreditando que tudo o que sentia, não passava de uma fase de crescimento? O famoso "Drama de Adolescente Revoltado"?
Nem um pouco certeiro, não é?

Por que não contava o que sentia para os seus pais?
Eu pensava que eles não iriam me entender, eles podiam considerar que era besteira. Eu era inseguro em contar para os outros sobre os meus sentimentos.
Tão inseguro, que agora você não sabe mais o que sente, você negou ajuda e isso fudeu o teu coração.
É, eu sei.

E agora?
—Agora o quê?
Como vai resolver isso?
Ainda não sei, talvez escrevendo e me descobrindo, acho que viver também pode ajudar.

Vai escrever e mostrar para todos?
Sim.
Mas por que? Sentimentos não são coisas pessoais? Tu quer atenção?
Sim, acho que sim. Pode parecer estranho, mas eu amo quando as pessoas lêem o que eu sinto, lêem os meus sentimentos. É como se estivessem lendo meus pensamentos mais íntimos e diferentes em cada texto meu.

Você é um poeta pervertido.
—Hehehe.
—Acho que quero que me entendam.
Que me ajudem a me entender.

Acha que algum dia vão te entender? Que você vai se entender?
—Não, seres humanos nunca vão entender a si mesmos por completo, então imagina entender o seu semelhante.

Então nunca vai parar de escrever?
Eu espero que não.
Mesmo se você acabar repetindo palavras e temas?
Sim, repetir ajuda lembrar e entender melhor as coisas.

—Também sinto que devo continuar escrevendo.
—Sinto que devo continuar escrevendo coisas complexas, como os meus sentimentos.
—Pois pode haver pessoas que não entendam algumas coisas que sentem, e talvez, eu as ajude.

Acha que seus textos podem ajudar alguém?
Podem ser meras palavras simples, ditas por alguém que não tenha relevância, mas eu sempre espero ajudar alguém.

Você é estranho.
Que bom, mostra que eu sou diferente.

Você é estranho, porque você leva uma vida de covarde. Onde não tem coragem de fazer nem metade das coisas que deseja, mas ainda sim, continua a sorrir?
—Você tem preguiça de sair da sua zona de conforto e experimentar coisas novas. E ainda acha que pode ajudar alguém?
—Você vive refletindo sobre várias coisas, mas não tem noção do peso que a vida têm.
Você é um homem que sempre fugiu. Fugia das mudanças, fugia das pessoas, fugia da ajuda e o mais importante,
Fugia de si mesmo.

Você é um hipócrita, Penedo.
—Como acha que pode entender e ajudar alguém, hein?

—Você tem razão, eu sou um covarde.
E eu não sei como posso ajudar alguém, sendo que nem eu mesmo me ajudo.

—Por isso eu crio personagens e histórias, para tentar fugir.
—Fugir da realidade, fugir das fantasias.

—Muitas das vezes, eu escrevo sabendo que poucos irão ler. Que talvez ninguém me entenda, que achem que é só mais um texto meu.
—Até hoje eu espero por coisas que talvez nunca aconteçam. Fico parado, quando na verdade, eu deveria estar correndo atrás de algo.

—Mas é que...eu acho tudo isso tão engraçado...
—A vida é tão dura e cruel, tão injusta e filha da puta.
—Mas eu a acho tão linda e divertida.

—Uma hora estamos destruídos, e outra hora estamos felizes e alegres.
—Uma hora estamos transando, e outra hora estamos chorando na mesma cama.

—Tudo é tão oscilante e desequibrado.
—A dor é relativa demais, mas é o que nos move.
—Seja para frente ou para trás.

—Não é injusto?
—Alguém agora pode estar em seu dia mais feliz de sua vida. Talvez tenha recebido uma notícia boa hoje.
—Ao mesmo tempo, que alguém pode estar vivendo o pior dia se sua vida. —Talvez alguém esteja sendo estuprado agora mesmo.

—A dor e injustiça me fazem rir e chorar tanto.

—São coisas que nos fazem sentir empatia pelo outro.

—Talvez eu seja mesmo um covarde,
—Um bom filho,
—Um péssimo filho,
—Um bom namorado,
—Um namorado horrível,
—Um louco,
—Um pervertido,
—Um vagabundo,
—Uma pessoa perdida na vida,
—Um grande filho da puta,
—O melhor de todos,
—O pior de todos.

—Mas você não entende??
—São essas coisas que me fazem achar que posso ajudar alguém.

—Porque eu sou gente como eles,
—Porque eu sou uma pessoa diferente,
—Que nem essa que está nos lendo agora.

—Nossas dores podem ser parecidas, fazendo nos entender.
—Essa injustiça pode me fazer entendê-la.

—Eu posso ter várias coisas guardadas dentro de mim,
—Coisas que talvez eu nunca descubra,
—Mas isso não me impede de mudar e seguir em frente.

—E enquanto eu estiver vivo, vou escrever para algo ou alguém.
—Mesmo que ninguém leia.

—Posso me sentir bastante solitário às vezes, mas sei que posso voltar atrás.

—Mesmo que eu morra sem ter dito tudo o que eu queria ter dito,
—Eu vou morrer em paz,
—Pois eu disse algo, e esse algo pode ter mudado a vida de alguém.

—Pode ser só um texto meu,
—Mas faz parte do meu tesouro.

—E mesmo que eu fuja,
—Vou tentar ao máximo enfrentar o que eu posso.

—Sei que posso ter fugido de mim mesmo,
—Mas eu vou me encontrar,
—Nem que seja na morte.

—E eu realmente espero que a morte seja tão divertida quanto a vida.

Hehehe...
—Felipe Penedo, você é um grande louco filho da puta.

—Por isso você é o meu favorito, você sempre vai me surpreender.
—Vamos, vamos viver uma vida injusta de poesia e dor.

—Nós dois vamos ficar eternizados nas suas palavras.
—Vamos flutuar até alguém nos achar.

—O que me diz?
—Eu ouvi um "amém"?

—Amém.
Amém.

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