1 ❃ Michael e Emma Forbes

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Olho para a minha reflexão no espelho velho apoiado na parede da minha entrada uma última vez e saio de casa. Iria agora comprar cadernos e livros necessários para este ano. O grande ano. Seria o meu primeiro ano de faculdade e não podia estar mais nervosa em relação a isso. Tudo sobre o conceito de mudança já era suficientemente assustador e desconfortável, mas o facto de deixar de acordar ao pé da minha família, deixar de aturar o meu pequeno John e deixar os meus pais, põe-me ainda mais reticente. É mais difícil do que parecia inicialmente pois sempre fomos bastante unidos e 'abandonar o ninho é sempre difícil' como diria a minha mãe.

Entro no autocarro e aprecio a vista da minha cidade uma última vez. Quando chego à loja, começo a retirar vários cadernos de cores diferentes das prateleiras cheias de materiais novos, intocados, prontos a ser usados. Escolho uma cor específica para cada cadeira que iria ter, prevendo o sistema de cores a que iria recorrer durante todo o semestre. Faço questão de trazer cadernos grossos para durarem mais tempo e trago mais dois caso precise para fazer os meus apontamentos antes dos exames finais. Compro um estojo novo e materiais novos também. Não há nada como materiais novos. Já uso os meus há uns três anos fazendo com que estejam todos partidos ou sujos mesmo com todo o cuidado habitual que tenho. Normalmente só compro novos quando os perco ou quando não estão mais aptos para serem usados, mas este ano a minha mãe aconselhou-me a comprar tudo novo. Ela quer que eu tenha um bom começo na faculdade e que continue organizada como sempre fui. Para mim, pareceu-me ainda melhor. Para uma nova etapa, novas coisas.

Pago todos os materiais e dirijo-me à papelaria onde encomendara alguns livros exigidos pelo programa. Na verdade, a maioria nem eram livros obrigatórios mas sim sugestões de leitura que escolhi ler na mesma porque na pior das hipóteses, ficarei com um livro terrível arrumado numa das minhas imensas prateleiras. Assim que tenho todos os livros, retomo o caminho para a paragem do autocarro que me levaria de volta a casa, apreciando as estruturas arquitetónicas tão características deste bairro. Sento-me no curto banco que se encontra na paragem, o metal frio em contacto com as minhas pernas causa um arrepio que viaja lentamente pelo meu corpo. Retiro o telemóvel da bolsa e ligo a Ashley.

"Emma! Ainda bem que ligas-te. Ia agora mesmo ligar-te!" ela diz com demasiado entusiasmo na sua voz e eu suspiro certificando-me que ela me consegue ouvir. 

"Olá para ti também. Então porquê?"

"Adivinha, fui convidada para uma festa hoje e tu vens comigo!" ela explode.

"Nem penses." Digo enquanto reviro os olhos e me concentro a contar as árvores que se encontram na rua.

"Porquê? É só uma festa, Em. Nem precisas de beber." Seis.

"Não preciso, nem quero. Na verdade nem quero ir." digo.

"Va lá, Em!" Onze. ela implora. "Vá lá, vá lá, vá lá, vá lá...". Este comportamento era típico da Ash. Contudo, a sua insistência penetrante acabava sempre por vencer a minha teimosia e eu finalmente suspiro em derrota.

"Ok, eu vou! Mas como é que vamos para lá? E onde é?" Ela grita após a minha resposta e ri antes de me responder.

"Eu levo o meu carro e é num bar perto de minha casa." Ashley já tem a carta mas eu não confio em ir com ela no mesmo carro, não só pelo facto de ela não ser a melhor condutora, mas principalmente por saber o seu ritual de saídas à noite, e de nenhuma maneira quero ficar num bar sozinha enquanto ela vai para a casa de um rapaz que conheceu nessa noite. Outra vez.

"Diz-me onde é o bar. Desculpa, Ash, mas eu prefiro ir com os meus pais." Digo-lhe e ela larga um grunhido.

"Eu depois mando-te a morada." Ela diz desanimada "Mas porquê?"

❃ i knew it ❃Onde histórias criam vida. Descubra agora