1. Prólogo

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   ── Ok, entendi ──  disse Ava em resposta a alguma coisa que ela nem fazia ideia do que se tratava.

   ── Mesmo? ──  o homem à sua frente perguntou com desconfiança após notar a voz entediada e o olhar distraído da mulher.

   Ava suspirou fundo enquanto focava em um ponto aleatório da parede na sala. As primeiras coisas que havia ouvido de seu agente durante aqueles 30 minutos de conversa que pareciam intermináveis, havia sido algo sobre as gravações da série voltarem em pouco mais de 1 mês, e em como ela deveria fazer várias participações em programas para divulgação da série durante as gravações, além de algo sobre um futuro filme. Ava parou de dar atenção quando ouviu sobre as inúmeras entrevistas, e seu agente, desinteressado demais sobre a opinião da atriz sobre o assunto, entrou em uma conversa sozinho.

   A questão é que Ava estava exausta. Estava cansada da sensação de viver uma vida diferente da que deveria viver. Cansada de não atuar somente em séries ou filmes, mas também na própria vida, visto que se encontrava em um relacionamento falso com o objetivo de promover "Time and Chaos'', a série da qual ela e a falsa namorada faziam parte, e que atualmente era uma das mais assistidas do mundo inteiro.

   Sabia que há muito tempo atuar deixou de ser um prazer, mas também sabia da importância e impacto de sua personagem, uma detetive temporal lésbica que tinha um romance com uma cientista pansexual do futuro, interpretada pela suposta namorada de Ava.

   Da mesma forma que aquilo parecia certo pelas milhares de pessoas que inspirava todos os dias ── e sabia disso devido às centenas de mensagens e cartas que recebia ──, ao mesmo tempo, aquilo também não parecia certo. Talvez aquilo se devesse ao fato de que Ava Adams, seu nome artístico, seguia a vida que a mãe lhe planejou, já que Mary Adams era uma lenda.

   Durante os 30 minutos que deveria ouvir seu agente, chegou à conclusão de que estava passando por uma pequena fase inconveniente de crise de identidade, e que tirar alguns dias para tentar se redescobrir poderia ser a melhor solução para voltar a sentir prazer na fama. Mas redescobrir o quê, ela não sabia.

   Era isso. Tiraria um tempo para si, longe dos paparazzis, milhares de propagandas e gravações. Longe das câmeras e do seu rosto estampado em todos os cantos. Longe dos 20 milhões de seguidores e do peso do legado de sua mãe.

   ── Peter ── chamou a atenção do homem que já havia desistido de conversar com Ava.── Eu acho que nós podemos resolver isso tudo daqui um mês ── dizia enquanto se levantava do sofá e guiou o homem em direção à porta.──  Se você não se importa, claro. Mas óbvio que eu sei que você não se importa. Nenhuma dessas besteiras da qual você está falando se encaixam nesse mês, a não ser um detalhe o outro, que acredito eu, não são muito importantes e podemos adiar também. Então, até mais.

   ── Besteiras? Ava do que você...── Antes que o homem pudesse terminar a frase, fechou a porta na cara do mesmo.

   Soltou um suspiro de alívio e revirou os olhos, e quando se virou de volta para a sala, um sorriso estampou seu rosto antes desanimado. Era a primeira vez que decidia deixar a carreira em segundo plano e tomar uma decisão que realmente queria, era uma mistura de medo e liberdade.

   Pegou seu celular jogado no sofá, e discou para um dos números mais recentes.

   ── Ava! Nos vimos ontem mesmo, não aguentou a saudade, amor?

   ── Por favor, Constantine, não. Ou eu vou acabar desligando.

   ── Foi você quem me ligou, amor.

31 Dias Para Amar - AvalanceOnde histórias criam vida. Descubra agora