Take the Risk | Rúben Dias ✔️

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Uma semana e meia antes do casamento...

Tinha recebido uma mensagem de Rúben esta manhã, a convidar-me para ir almoçar com ele, porque tinha algo de importante para falar comigo. Inicialmente, não liguei muito à mensagem. Podia perfeitamente ser algo completamente banal e ele podia ter exagerado ao chamar o assunto de importante. Contudo, ao longo daquela manhã de trabalho, o meu pensamento não deixou aquela mensagem. O que raio poderia ele ter de importante para falar comigo, naquele momento? Ultimamente, até andava demasiado ocupado com os últimos preparativos para o casamento para responder às mensagens a tempo. Por que é que se tinha lembrado, naquele preciso momento, de me convidar para almoçar?

Às 12h59, fechei o computador e peguei nas minhas coisas, preparando-me para sair do atelier e deslocar-me até ao local combinado pelo Rúben para o almoço. Um restaurante no Chiado, onde já tínhamos ido algumas vezes antes, perto o suficiente do meu local de trabalho. Ao chegar, dei logo de caras com Rúben já a ocupar uma mesa na esplanada.

- Olá! - trocámos um abraço e logo ocupei um lugar à sua frente - Então, como estás?

- Bem e tu? Como correu a manhã de trabalho? - ele perguntou.

- Normal. - sorri - Imagino que devas andar mega atarefado com os preparativos do casamento... - comentei, enquanto passava os olhos pelo menu.

- Sim. Ainda por cima tivemos um problema com o fotógrafo, mas já está finalmente resolvido. - ele respondeu.

A empregada veio recolher os nossos pedidos, interrompendo por segundos a nossa conversa.

- Então e estás muito nervoso? - questionei - O grande dia está quase a chegar...

- Um pouco, confesso. E estou ainda mais nervoso pelo motivo que hoje me levou a convidar-te para almoçar. - o Rúben declarou e a sua frase apanhou-me um pouco desprevenida. Afinal, a minha inquietação e ansiedade perante o seu convite pareciam ter razão de ser.

- E é agora que me vais revelar esse motivo? - perguntei, curiosa.

- Não sei... Tenho medo da tua reação, não queria que isso estragasse o nosso almoço, mesmo antes de começar. – o Rúben afirmou com sinceridade, o que aumentou ainda mais a minha ansiedade e inquietação.

- Rúben, por favor, diz só de uma vez por todas. Estás a assustar-me. – pedi.

A revelação foi adiada por mais uns segundos, visto que a empregada de restaurante nos interrompeu para nos servir os nossos pedidos. Contudo, assim que ela foi embora, o olhar forte que enviei ao Rúben foi suficiente para ele perceber que tinha de ir direto ao assunto.

- Eu sei que já te devia ter falado sobre isto há mais tempo, mas não sabia como abordar o assunto... E não sabia qual seria a tua reação, então acabei por ir adiando. E agora estamos a menos de duas semanas do casamento e eu não posso adiar mais o assunto. – o Rúben declarou.

- E que assunto é esse? – insisti.

- Eu queria convidar-te para seres minha madrinha de casamento, Benedita. – ele largou, finalmente, a bomba.

Esperei que ele me dissesse que estava a brincar, mas a sua expressão fez-me perceber que ele estava a falar muito a sério. Como assim, ele queria que eu fosse a madrinha do seu casamento? De um casamento em que eu não acreditava? Como é que ele esperava que eu respondesse que sim?

- Tu estás a brincar, não estás? – perguntei.

- Não, Benny. Tu és a minha melhor amiga, a pessoa que me conhece melhor no mundo. Não faz sentido que seja outra pessoa. – ele respondeu.

- Eu não vou ser tua madrinha de casamento, Rúben. – afirmei diretamente – Tu sabes perfeitamente que eu nem sequer acredito que esse casamento seja a decisão certa. Tu sabes que eu acho que tu tomaste uma decisão precipitada. Não me podes pedir que seja tua madrinha, Rúben. Não posso. Não quero. E não consigo.

- Benny, por favor, é importante para mim.

- É importante para ti. Mas pensaste em mim? No que esse convite me poderia fazer sentir? – questionei – Achas que isto é fácil para mim? Por mais que eu te adore e que eu te queira ver feliz, Rúben, eu não posso aceitar compactuar com algo em que eu não acredito. Lamento, mas vais ter de escolher outra pessoa. – suspirei – E se não me quiseres no teu casamento, depois disto, eu não me importo.

- O quê? Além de não aceitares ser minha madrinha de casamento, nem sequer queres ir?! – ele perguntou.

- Eu vou por ti, Rúben. Não porque acredito no que vai acontecer. Não porque estou feliz por te ver a casar com uma mulher que não amas. – atirei, sem papas na língua. Não sabia ser doutra forma com ele se não totalmente sincera – Não achas que me vai custar estar lá? Claro que vai. Vai ser a coisa mais difícil que eu alguma vez fiz na vida. Mas eu vou lá estar por ti. Mas não vou aceitar ser tua madrinha de casamento e se, por causa disso, não me quiseres lá, eu não vou.

- Claro que eu te quero lá, porra! Diz-me um momento da minha vida em que eu não te quis nela! – ele exclamou.

- Se tu imaginasses a quantidade de vezes que me fizeste sentir dessa forma, não estaria a dizer isso. – suspirei.

- Benny... É passado.

- Para ti. É passado para ti, mas ainda é o meu presente. E eu estou a tentar, Rúben, estou mesmo a tentar seguir em frente com a minha vida, mas tu tens de me facilitar as coisas. – pedi – Eu vou lá estar. – concluí apenas.

- Se não quiseres ir, não vás. – ele declarou, duro.

- Eu vou lá estar. – repeti, focando toda a minha atenção no prato de comida.

Nem mais uma palavra foi trocada por nós durante a degustação dos pratos. Era como se estivéssemos a almoçar sozinhos, cada um na sua mesa, cada um com os seus pensamentos. Doía, mas, ao mesmo tempo, era aquilo que ambos precisávamos. Era como se nunca conseguíssemos estar muito tempos juntos sem nos magoarmos mutuamente. Era como se fôssemos tóxicos um para o outro, quando estávamos juntos. E eu devia aceitar todos esses sinais e perceber que tinha de o tirar da minha vida, mas eu não conseguia. Não só porque o amava, mas porque ele era o meu melhor amigo, a pessoa a quem eu confiava todos os meus segredos e a quem eu confiaria a minha vida. 

***

Acham que a reação da Benedita é compreensível ou exagerada?