Me chamo Raven, tenho 17 anos e vivo num orfanato que parece o próprio inferno. Quase todos me odeiam, chamando-me de "aberração". A exceção é Mina, filha da cozinheira, Merlí, minha única amiga e a razão pela qual ainda estou viva. Merlí sempre me dá comida, mesmo quando estou de castigo; ela é como uma mãe para mim.
Hoje, após a minha higiene matinal, vesti-me como sempre: como uma indigente. Merlí insistiu que eu me arrumasse, pois sete garotos viriam adotar uma das meninas. Não me importei, mas ela me emprestou um vestido de Mina. É um vestido soltinho, de algodão leve, cor de um céu crepuscular - um azul suave que quase roça o lilás. A saia rodada termina um pouco acima dos joelhos, e a cintura é marcada por um delicado laço cor-de-rosa. As mangas são curtas e bufantes, dando um toque romântico à peça simples. Apesar de não ser meu estilo, devo admitir que ele é bonito, diferente das roupas largas e desbotadas que costumo usar.
Como de costume, quando há visitas importantes, tenho de ficar no porão. Roupas bonitas não fazem diferença. Faltam quinze minutos para a chegada dos garotos, então vou me esconder. O porão é úmido e frio, o ar pesado com o cheiro de mofo e terra. As paredes de pedra bruta são cobertas por uma fina camada de umidade, e o chão de terra batida é irregular, cheio de pequenas pedras e rachaduras. Uma única lâmpada pendurada no teto, fraca e amarelada, mal consegue iluminar o espaço, deixando a maior parte do porão em sombras densas e ameaçadoras. Há um baú velho e enferrujado num canto, e algumas caixas de madeira empilhadas contra a parede, cheias de objetos esquecidos e cobertos por teias de aranha. O silêncio é quase ensurdecedor, quebrado apenas pelo gotejar ocasional da água que escorre do teto.
No porão, o tédio era insuportável. Peguei meu celular e os fones que Mina me dera, colocando minha música favorita e cantando junto. Parei ao ouvir passos e cochichos. A diretora me mataria se me pegasse cantando.
- Quem está aí? - Perguntei, abrindo a porta. Assustei-me ao ver dois garotos quase caindo para trás de surpresa. Eles estavam me escutando. Meu coração disparou. A princípio, senti uma raiva repentina, como se eles tivessem invadido meu refúgio. Mas, ao reconhecê-los como membros de um grupo de K-pop, uma ponta de curiosidade me picou. Eles eram diferentes de todos os outros que já tinham passado pelo orfanato.
- Eu conheço vocês. - Disse, tentando manter um tom neutro, mas minha voz saiu um pouco mais áspera do que o normal.
- Creio que sim. Prazer, Park Jimin. - Disse um, estendendo a mão. Sua mão era pequena, como a de um bebê. - Nós ouvimos você cantar, você tem uma voz linda. Você trabalha aqui ou...?
A voz dele era suave, quase melodiosa, um contraste com o tom rouco e áspero que eu costumava ouvir. Ele parecia genuinamente impressionado com minha voz, e por um instante, a escuridão do porão pareceu se dissolver. Mas a sensação foi fugaz. Eu não estava acostumada com elogios, especialmente vindos de alguém como ele. A voz dos garotos é diferente para mim porque eu estou acostumada a ouvir vozes ásperas e rudes, carregadas de desprezo, como as das pessoas do orfanato que me rejeitam. A gentileza e o tom melodioso da voz dos garotos, especialmente de Jimin, soam como uma melodia inesperada em meio à dissonância do meu dia a dia. É uma experiência nova e desconcertante para mim, que me deixa desconfiada e um pouco assustada. Eu não sei como reagir a essa gentileza, a essa voz que parece querer quebrar as barreiras que eu construí ao redor de mim mesma.
- Eu moro aqui - Respondi, tentando encerrar a conversa. Aquele olhar de admiração, a gentileza nas palavras, me deixavam desconfortável. Eu não estava acostumada com esse tipo de atenção.
- Interessante. - Murmurou o outro. Sua voz era mais grave, um pouco mais rouca, mas ainda assim agradável.
- Se era só isso, tchau. - Disse, fechando a porta na cara deles. - Garotos são estranhos. Agora sim, paz. - Deitei-me novamente, sentindo uma mistura de curiosidade e irritação. De todo modo, odiei esse sentimento.
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Adotada Pelo BTS || [Livro 1]
Romansa"Quando o ser humano se julga superior a todas as criaturas e se considera um deus acima de tudo e de todos, espalhando a sua arrogância e prepotência por entre os seus semelhantes e destruindo as belezas deste mundo por ganância e prazer doentio, c...