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 Cheguei, enfim, no curso desta divagação, às estantes que contêm os livros escritos pelos viventes, por mulheres e por homens, uma vez que agora há quase tantos livros escritos por mulheres quanto por homens. Ou, se isso não é bem verdade, se o masculino ainda é o sexo mais loquaz, certamente é verdade que as mulheres não mais escrevem unicamente romances. Há os livros de Jane Harrison sobre arqueologia grega; os de Vernon Lee sobre estética; os de Gertrude Bell sobre a Pérsia. Há livros sobre toda sorte de assuntos nos quais uma geração antes nenhuma mulher poderia ter tocado. Há poemas, peças e críticas; há história e biografias, livros de viagem, livros acadêmicos e de pesquisa; há até alguns de filosofia e livros sobre ciência e economia. E, ainda que predominem, os próprios romances podem muito bem ter mudado em associação com livros de outra lavra. A simplicidade natural, a era épica da escrita das mulheres, pode ter passado. A leitura e a crítica podem ter dado a ela um escopo mais amplo, uma sutileza maior. A inclinação para a autobiografia pode ter se exaurido. Ela pode estar começando a usar a escrita como arte, não como um método de autoexpressão. Entre esses romances, é possível encontrar uma resposta para diversas dessas perguntas.

Peguei um deles ao acaso. Estava bem no final da prateleira, chamava-se A aventura da vida ou algo assim, de Mary Carmichael, e tinha sido publicado neste mesmo mês de outubro. Parecia ser o seu primeiro livro, disse a mim mesma, mas é preciso lê-lo como se fosse o último volume de uma série razoavelmente longa, em continuação a todos aqueles outros livros que andei vendo: os poemas de Lady Winchilsea, as peças de Aphra Behn e os romances das quatro grandes romancistas. Porque os livros continuam uns aos outros, apesar de nosso hábito de julgá-los separadamente. E preciso ainda considerá-la – a esta mulher desconhecida – como a descendente de todas as outras mulheres cujas circunstâncias andei examinando e verificar o que ela herdou de suas características e restrições. Então, com um suspiro, porque frequentemente os romances oferecem um anódino em lugar de um antídoto, levam a pessoa a um sono entorpecido em vez de despertá-la com um ferro quente, acomodei-me com um caderno e um lápis para extrair o possível do primeiro romance de Mary Carmichael, A aventura da vida.

Para começar, corri os olhos de alto a baixo pela página. Vou primeiro entender o significado das frases dela, disse eu, antes de carregar minha memória com olhos azuis e castanhos e o relacionamento que talvez surja entre Chloe e Roger. Haverá tempo suficiente para isso depois que eu decidir se ela tem uma pena nas mãos ou uma picareta. Então, testei uma frase ou duas em voz alta. Logo ficou evidente que algo não estava certo. O deslizar suave de frase após frase estava interrompido. Algo rasgava, algo arranhava; uma única palavra aqui e ali apontava sua luz para os meus olhos. Ela estava "se perdendo", como se costumava dizer nas peças de teatro antigas. É como riscar um fósforo que nunca vai se acender, pensei. Mas por que, perguntei a ela como se estivesse presente ali, as frases de Jane Austen não têm o formato certo para você? Todas elas devem ser descartadas porque Emma e o senhor Woodhouse estão mortos? Que pena, suspirei, que fosse assim. Porque, enquanto Jane Austen vai de melodia em melodia como Mozart de música para música, ler este texto era como estar em mar aberto a bordo de um bote. Boiando vai, afundando vem. Essa concisão, esse arquejamento, pode significar que ela tinha medo de alguma coisa, talvez medo de ser chamada de "sentimental"; ou ela se lembrou de que a escrita das mulheres já foi chamada de florida, e assim ofereceu uma superfluidade de espinhos; mas até ter lido uma cena com algum cuidado, não posso ter certeza de que ela está sendo ela mesma ou outra pessoa. De qualquer forma, ela não diminui nossa vitalidade, pensei, lendo com mais atenção. Mas está amontoando muitos fatos. Não vai conseguir usar metade deles num livro desse tamanho. (Tinha metade da extensão de Jane Eyre.) Não obstante, de um jeito ou de outro, ela consegue colocar todos nós – Roger, Chloe, Olivia, Tony e o senhor Bigham – em uma canoa rio acima. Espere um momento, disse eu, recostando-me na cadeira, preciso considerar essa coisa toda com mais atenção antes de seguir em frente.

Um teto todo seu (1929)Onde histórias criam vida. Descubra agora