06 | love hurts

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DEPOIS DO DIA QUE Narcissa levou você para sua casa, esperou pacientemente que você arrumasse seu irmão, e se ofereceu para leva-lo a sua escola, algo despertou em você. Talvez paixão pela mulher mais velha. Paixão pelo lado gentil dela, pela compreensão, generosidade e compaixão - no fundo você já estava entendendo tudo. Você estava se apaixonando por ela.

E para você, nada de bom vinha de uma pessoa apaixonada. Ainda mais quando essa pessoa tem o dobro de sua idade, é casada e tem um filho, que é seu melhor amigo. Esse que, se descobrisse, ficaria muito arrasado. Não por você estar beijando os lábios da mulher que deu a ele vida, ou olhando para ela como se ela fosse o mundo todo. Mas sim pela mentira e traição das duas mulheres mais importantes da vida dele.

Mas você sempre teve uma carta na manga quando se tratava de Draco Malfoy. Era fácil; se ele descobrisse, num futuro próximo talvez, que você está com a mãe dele, toda a culpa iria para os seus problemas mentais. Os problemas que fazem você se sentir suja quando um homem toca em você. Esses problemas fazem também, você querer sentir o toque suave de qualquer mulher que tenha sido gentil com você. Você quer sentir sua mão macia traçando delicadamente seu corpo nu, depois de uma noite agitada. Mas que acabaria no minuto em que elas olhassem para o relógio e descobrissem que estavam atrasadas pra cozinhar para sua família.

E mesmo sabendo que no final ela sempre voltaria para os braços de Lúcios, você não se afastou. Não se importou com seu coração, e nem com a dor que ela poderia causar nele. Você estava se cegando por uma mulher, e sabia que no final quem acabaria machucada era a pessoa fraca e vulnerável - se Narcissa não é assim, só restou você.

No momento, você está andando pelas ruas escuras ao lado de Draco, tentando e falhando miseravelmente em não pensar na mulher mais velha. Tudo o que você fazia, desde criar cenários imaginários antes de dormir e sonhar, eram direcionados a mãe de seu amigo, e não que você esteja reclamando, mas aquilo estava cansando você, mentalmente e fisicamente.

Você precisava de um pouco de paz, e normalmente Draco tem essa função, mas nem ele estava ajudando. Você queria algo; sentir alguma que não seja seu coração palpitando somente ao pensar em Narcissa. Você queria sentir a dor que a tanto tempo não sentia; sangue escorrendo e linhas recém abertas pelo seu pulso.

Mas você prometeu ao Malfoy que tentaria parar, e como você não quer deixar o garoto triste ou até mesmo desapontado, você ligou para ele e disse o que estava pensando em fazer. Ele foi compreensivo e então vocês decidiram caminhar pela ruas, enquanto conversam sobre qualquer coisa, menos sobre o que você está sentindo.

- Faltam alguns meses para o ano acabar, você já decidiu em que universidade vai se inscrever?

- Qualquer uma aqui em Londres 'tá bom pra mim. Não quero ficar longe do meu irmão. E você? Eu ouvi algo sobre você estar querendo se inscrever em Harvard...?

Ele sorriu de lado, fazendo uma careta de quem havia sido pego tentando esconder um segredo. Algo que não existia na amizade dos dois, mas com Draco se tornando popular na escola as coisas mudaram.

- Sim, bem... Ela é uma ótima universidade. Apesar de ser em outro país.

- Eu sei. - você sussurrou, pensando em como seria a vida sem o seu melhor amigo; o tempo estava passando muito rápido, daqui a pouco, na verdade menos de sete meses, vocês estariam seguindo a vida longe um do outro. Ele se tornando um grande advogado renomado e você... você mal pensou em que curso gostaria de ingressar. - Mas não vai ser difícil, né?

- Como? - ele perguntou confuso, olhando em seus olhos, os braços cruzando em frente ao peito.

- Você sabe... Hm, você é filho de Lúcios Malfoy, tem grana para dar e sobrar, é bonitão. Nada vai te impedir de ser quem você quer ser. Só basta um empurrãozinho e boom! Draco Malfoy o melhor advogado da Inglaterra.

- 'Tá falando sério...?! - ele sussurrou, estupefato com o que você disse - Você está com inveja, é isso?

Seu cenho franziu, e você parou de andar, Draco ficando bem a sua frente com o semblante mais raivoso que pôde dar.

Sua cabeça começou a trabalhar, pensando no que havia dito a alguns segundos atrás que tenha deixado seu melhor amigo nesse estado. Com tanta raiva e ódio.

- Draco? O quê?

- Sn, amigos apoiam um ao outro, e desde que eu virei popular na escola você anda distante e estranha. Isso é inveja, e é o nível mais baixo da idiotice e da podridão.

- Você não pensou por um momento nas coisas que eu estou passando? O problema é com você... tão egoísta, mesquinho e- e-

- E?!

- Mimado! Seu- idiota! - você gritou, por uns segundos falhando. A água começando a pinicar e incomodar seus olhos; você só queria que a discussão parasse, mas agora que o chamou de mimado, ele ia virar um dragão platinado, soltando fogo por onde passasse.

Draco travou, a respiração encurtando enquanto a raiva borbulhava dentro dele. O tempo passou em câmera lenta para você: ele, do nada, caminhando na sua direção, - fazendo você levar um susto pelo passo abrupto dele - ele segurando seu braço esquerdo o mais forte que pode, e pela diferença significativa de altura, você não teve forças de se soltar sozinha.

- Eu espero, Sn, que você ache outra pessoa para ser infantil e infeliz perto dela, sem que ela queira fugir quando olhasse para você. Um pequeno pedaço de lixo humano, só ocupando espaço no planeta... Deus, o que eu estava fazendo ao me tornar seu amigo?!

Você não fez esforço algum para segurar as lágrimas crescentes, elas escorriam facilmente pelo seu rosto. Nada estava doendo tanto quanto o seu coração, que acabara de ser esmagado pelo seu melhor amigo.

Suas bochechas, lábios e nariz estavam ficando vermelhos por conta do vento frio da madrugada, indo diretamente sobre seu rosto molhado, lhe deixando trêmula.

- Sol...solta o meu- braço. - você soluçou, e quando ele soltou seu braço foi como se ele fosse o único meio de lhe deixar de pé, porque rapidamente você caiu de joelhos no chão.

- Eu nunca mais quero ser seu amigo... sinto muito.

A frase dele foi carregada de culpa. Ao olhar para o lado vulnerável e frágil de sua antiga amiga, seu peito doeu, e doeu mais ainda saber que foi ele o culpado.

E antes que ele pudesse fazer ou falar mais alguma coisa, ele se virou e foi embora. Deixando você sozinha, o choro nunca cessando e de longe você já podia ouvir os pássaros cantando.

Agora você percebeu que o fundo do poço consegue ser mais fundo ainda.

𝗦𝗘𝗗𝗨𝗖𝗘 𝗔𝗡𝗗 𝗗𝗘𝗦𝗧𝗥𝗢𝗬 ─── narcissa malfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora