18 de março, 1858.
Eu a vi se aconchegar em outros braços
E saí contando os passos
Me sentindo tão sozinhoAh, não existia nada que Bridget amava mais do que a primavera, a estação que eliciava o inverno para longe, levando consigo seu ar gélido e sua melancolia. Bem, de fato tinha que considerar que a causadora por tamanho sentimento era Kim, esta, por sua vez, não aceitava que Elliot Singleton, um rapaz gentil, esbelto e de boa família – como a senhora Hill amava descrevê-lo –, esteja a cortejar Bridget há mais de um mês.
— Tenho 21 anos, Kim — argumentara Bridget contra a infantilidade da amiga —, daqui a pouco terei de me casar com algum pretendente razoável. E creio que você também.
— Razoável? — Kim ecoou, incrédula com suas palavras. — É isso que você quer para si? Um marido razoável? Uma vida aceitável e monótona tendo que criar seus filhos?
— Sim. Essa parece ser uma vida boa para mim. — deu de ombros, embora estava certa do que tinha que fazer: casar-se, ter seus filhos e então educá-los para que eles pudessem fazer o mesmo. Afinal, era assim que tinha que ser, não?
— Mas não para mim!
— Kim, todas as mulheres querem ter filhos.
— Eu não!
— É compreensível, Kim, afinal de contas você é... — parou ali mesmo no meio da frase, deixando-a flutuar pelo quarto até que adentrasse o coração de Kim. O tal órgão não gostou nem um pouco e as expulsara.
— Termine a frase; vamos! Diga o que eu sou — aproximou-se da morena, ficando frente a frente, desafiando-a. —, diga, Bridget, diga e de alguma forma me liberte.
Bridget engoliu em seco quando sentira as palavras ardendo em sua garganta.
— Não posso arruinar minha vida por algo irreal. E eu tampouco posso libertar você.
— Pois bem, ninguém pode. — ela piscou, deixando que as lágrimas caíssem.
Kim tinha 21 anos e já entendera que, quando se tratava de outras mulheres da sociedade, ou até mesmo em relação a Bridget, ela era diferente, exclusa... pervertida.
— Talvez você possa mudar — Bridget dissera em baixo tom, tanto que teve dúvidas se a ruiva a ouvira ou não. Todavia, quando um dos cantos da sua boca se repuxou, Bridget soube que a escutara.
— Sabe que já tentei.
— Você... pode tentar de novo?! — sua incerteza e insegurança fez com que Kim se frustrasse, porque embora ela soubesse que a morena a queria bem – isto é: livre da crueldade da sociedade londrina –, Kim também sabia que não podia mudar. Era como era, e não podia simplesmente ignorar.
Kim crispou os olhos em direção a Bridget ao dizer:
— Não me trate de forma diferente...
— Eu nunca fiz isso!
— ... quando na verdade você é tão pervertida quanto eu! — um segundo após despejar suas frustrações sobre a amiga, não teve tempo sequer de desculpar-se pois Bridget já tinha lhe acertado a face em cheio.
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Convite de casamento (romance lésbico✓)
Romance"Um amor lésbico que se passa em 1845 sobre duas amigas que escondem seus sentimentos, ambas sem saberem o que uma sente pela outra até que, um dia, uma delas se declara. Mas talvez seja tarde demais." Romance baseado na música de Gian e Giovanni.