1. Um assassino no bosque

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Desaparecendo na névoa
Indo longe demais
Eu quero que você experimente
um pouco de êxtase nessa vida
quando você está correndo livre

Hippie Sabotage | Fading Into Fog

M A D D Y

Esse bosque está solitário e abandonado desde o dia em que encontraram um corpo aqui. Foi assassinato, é o que as pessoas de Cypress Hill costumam murmurar por aí.

Antes, esse costumava ser um lugar tranquilo onde as mães traziam as crianças para brincar e os mais velhos caminhavam as seis da manhã e praticavam exercícios. Mas ninguém mais teve coragem de pisar aqui depois que encontraram o corpo de Diana Miller no lago na encosta das árvores de cipreste no ano passado.

A polícia nunca encontrou o assassino. Os moradores da cidade dizem que ele ainda deve estar por aí, escondido na cidade procurando pela próxima vítima. Que talvez ele esteja morando nesse bosque, a espreita e a espera da primeira pessoa idiota o suficiente para caminhar sozinha por este lugar.

Podem me chamar de idiota, se quiserem, mas esse é a única porcaria de lugar silencioso o bastante em que consigo ler em paz e sem interrupções. Fecho a edição de 1984 e coloco-a de volta dentro da mochila. Está nublado e húmido hoje e tenho quase certeza de que vai chover. Preciso voltar para casa antes que anoiteça, ou minha tia provavelmente vai chamar a polícia ou algo assim.

Encostada no tronco de uma árvore, percebo que hoje fui mais longe e mais fundo no bosque do que de costume. Está mais escuro aqui, com árvores demais fazendo sombra demais.

Preste a me levantar de onde estou sentada, ouço um barulho a distância. Meu corpo congela no lugar e sinto um calafrio subir pela espinha. Ninguém vem até esse bosque, sei disso porque desde que fui embora da Rússia e vim morar com tia Irina no Colorado eu costumo vir até aqui para ler e fazer exercícios quase todos os dias, e ninguém além de mim entra no bosque.

Meu pescoço gira de um lado para o outro, meus olhos buscam por algum sinal de presença entre as moitas e as árvores a frente, mas não vejo nada além de verde e mais verde.

Respiro fundo. Deve ser algum animal andando por aí. Sim, deve ser isso.

Tensiono o corpo novamente. Oh, Deus, por favor, que não seja um lobo e sim um coelhinho.

Ouço o barulho novamente, mais nítido dessa vez. Não um barulho qualquer, mas o som de passos. Passos humanos, só para esclarecer. E está vindo na minha direção, e rápido.

Não me dou tempo de pensar sobre isso, levanto com um pulo ao mesmo tempo em que minhas entranhas parecem se retorcer no meu estômago. Jogo a mochila por cima do ombro e tento cair fora sem fazer barulho. O problema é que os passos estão cada vez mais perto e seria idiotice tentar fugir agora, seja lá de quem diabos eu estaria fugindo.

Tudo o que eu encontro é um enorme carvalho no meio das moitas cheias. Piso fundo no mato, rezando para que não tenha nenhuma cobra ou algum animal venenoso aqui dentro. Eu me abaixo no meio das moitas e engatinho para trás do carvalho, em uma tentativa patética de me esconder.

Os passos estão muito perto e eles param de repente. Preciso engolir em seco para evitar que a vitamina que acabei de engolir volte toda para fora. Tenho quase certeza de que estou suando frio.

Ouço uma respiração pesada e forte há alguns metros de onde estou e minhas mãos voam para a minha boca automaticamente, como se isso pudesse manter um grito do lado de dentro da minha garganta. E se as pessoas estiverem certas e o assassino de Diana Miller estiver mesmo por aí? E se se ele estiver a poucos metros de mim?

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