5. Sozinha

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Estou preso em aflição
Eu me sinto uma droga quando
minha vida é uma bagunça
Eu não posso aceitar rejeição

Hippie Sabotage | Distress

M A D D Y

 Desço as escadas correndo quando escuto a buzina do lado de fora, puxando a mochila que deixei em cima do sofá. Mas antes que eu consiga passar pela porta, a voz de minha tia me intercepta da cozinha.

— Maddy, querida. Pode vir aqui por favor?

Atravesso o arco da entrada, encontrando-a perto do balcão enquanto ela corta alguns legumes na bancada.

— Nós ainda não conversamos sobre a venda da loja. Peço desculpas por não ter conversado com você sobre isso.

O olhar que ela me dá parece preocupado, fazendo-me engolir qualquer coisa que eu tenha vontade de dizer.

— Não precisa se desculpar, tia Irina. A loja é sua, você deve fazer o que achar melhor. — Respondo baixinho, indo até ela e pegando uma rodela de cenoura em cima da tábua.

— A loja era do seu pai, você tinha o direito de opinar sobre a venda. — Pelo canto do olho, percebo a tensão em seus ombros e me sinto culpada. — Sei que a loja é importante pra você.

— Tia — Seguro delicadamente em cada lado de seus ombros, fazendo-a soltar a faca e se virar para mim. — É só uma loja e sei que ela é a única coisa que te prende aqui em Cypress Hill. Você pode tirar um tempo pra você agora, viajando por aí como você sempre quis.

— Eu me preocupo com você, Maddy. Sei que está ocupada com a faculdade, mas não queria deixá-la sozinha... mais uma vez.

Mais uma vez.

— Eu me viro muito bem sozinha, você sabe disso. E bom, você está certa, eu tenho minha faculdade para terminar, ainda estou presa em Cypress Hill. — Dou uma risadinha, tentando tranquilizá-la. — E caso queira saber, estou começando a gostar dessa cidade esquisita.

Sinto seus ombros relaxarem quando ela sorri, as rugas sutis enchendo seu rosto expressivo. Ela desliza uma mão pela minha bochecha, um ato que costumamos compartilhar em nossas raras trocas de afeto.

Tia Irina sabe pelo que passei antes de me mudar da Rússia, como fiquei sozinha porque a pessoa que deveria estar do meu lado nunca me acolheu. Mas não quero que ela pense que tenha a obrigação de cuidar de mim, muito menos que deixe de viver sua vida por isso.

Eu me virei sozinha quando precisei, posso continuar fazendo isso agora. Mesmo estando cansada de nunca ter ninguém ao meu lado.

A buzina soa novamente lá fora, o som mais forte e muito mais longo.

— Jesus — Minha tia resmunga. — Quem está te esperando?

— Só o pessoal de sempre. — Dou um beijo rápido em sua bochecha, correndo para fora. — Te vejo depois.

Quando pulo para dentro do Dodge vermelho, Nate me puxa pela nuca e me beija demoradamente.

— O que vamos fazer? — Eu me afasto, colocando o cinto. — Tenho o dia todo de folga hoje.

— Vou te levar a um lugar. — Ele sorri, olhando para frente, dando partida no carro.

Mantenho um suspiro preso na garganta. Toda vez que Nate repete essa frase ele me leva para algum lugar que cheira a maconha e todos os seus amigos idiotas estão nele.

Aumento o som enquanto Nate acelera, Distress de Hippie Sabotage enchendo o interior do carro me faz relaxar no banco. Encosto a cabeça contra a janela, alheia a paisagem remota passando como um borrão do lado de fora.

Cypress GroveOnde histórias criam vida. Descubra agora